|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUNCIONALISMO
Projeto de lei deverá ser enviado ao Congresso após as eleições
Jobim quer teto salarial de R$ 23 mil para servidores
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, vai enviar um projeto
de lei ao Congresso, depois das
eleições, propondo a fixação do
teto salarial do funcionalismo em
pelo menos R$ 23 mil, segundo a
Folha apurou.
Jobim confirmou a iniciativa,
mas disse que o valor dependerá
de estudos de impacto orçamentário no Judiciário, onde haverá
aumentos.
A lei deverá ser aprovada até o
fim do ano e provocará aumento
em cascata em todo o Judiciário
da União, porque o teto corresponderá ao salário de ministro do
Supremo Tribunal Federal, e a remuneração dos outros juízes é
vinculada à deles.
O maior aumento será para o
magistrado que está em início de
carreira, porque ele irá incorporar
até 35% de gratificação por tempo
de serviço. Na hipótese de o teto
ficar em exatos R$ 23 mil, a remuneração dele saltará de R$ 10.300
para R$ 18.700 (81,55%).
Corte
O envio do projeto é fruto de
acordo entre Jobim e o Palácio do
Planalto. O governo tem interesse
na definição do teto para garantir
o corte nos supersalários de servidores dos três Poderes.
Hoje existe um teto provisório
de R$ 19.343, mas ele não permite
o desconto no caso, por exemplo,
de acúmulo de aposentadoria de
um órgão e salário de outro ou
duas aposentadorias. Por isso, seria necessário aprovar a lei.
A medida também interessa aos
governadores, porque eles poderão aplicá-la a seus servidores. Ela
atingirá principalmente o Judiciário e o Ministério Público dos Estados e, em alguns casos, a Assembléia Legislativa, onde estão
as maiores remunerações.
Os desembargadores, que estão
no topo da carreira da Justiça estadual, poderão ganhar até
90,25% do teto da União, ou seja,
do salário de ministro do STF.
Muitos recebem mais do que isso
e recorrerão contra o desconto.
Faz parte do acordo com o governo uma garantia do STF de
que não irá barrar o corte nos supersalários, rejeitando as ações de
servidores em que eles irão alegar
a existência de direito adquirido a
manter a mesma remuneração.
A garantia será dada quando o
plenário do STF julgar um mandado de segurança movido por
quatro ministros aposentados do
próprio tribunal contra a limitação do salário deles ao teto provisório de R$ 19.343, criado no início do ano. O julgamento deverá
ocorrer antes do envio do projeto,
o corte será mantido, e a decisão
será usada como referência para
casos futuros semelhantes.
Efeito cascata
Desde 1998, a Constituição prevê a criação do teto salarial do
funcionalismo e o desconto dos
salários que o superarem, mas
nunca houve acordo entre os Poderes para criá-lo, porque ele provocará aumento em cascata no
Judiciário da União e implicará
perdas a muitos servidores e
agentes públicos, inclusive deputados e senadores que têm aposentadoria do serviço público.
No Judiciário, há uma diferença
de 5% entre uma instância e outra, no total de cinco níveis. Por isso, há o efeito cascata. Com o teto
de R$ 23 mil, ministros do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior do Trabalho irão
ganhar R$ 21.850. Os juízes dos
tribunais regionais federais e do
trabalho receberão R$ 20.750. O
menor salário, de juiz substituto,
será R$ 18.700.
Os juízes pressionam pela aprovação da lei ainda neste ano, porque deixarão de receber em dezembro próximo uma verba extra
que varia conforme a situação do
magistrado, mas que na média é
de R$ 6.000. Esse benefício está
sendo pago em 24 parcelas, a título de abono.
Na semana passada, dirigentes
de entidades de classe da magistratura desqualificaram um diagnóstico sobre o Judiciário, elaborado pelo Ministério da Justiça,
que tinha entre as conclusões a
afirmação de que os juízes brasileiros estão entre os mais bem remunerados do mundo. Eles contestaram a metodologia, dizendo
que ela induziu a equívoco no resultado.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: "Projeto Gabão": Lula articula reeleição no Congresso Índice
|