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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT
Queda-de-braço entre grupos ligados a Palocci e a José Dirceu originou crise; advogado pretende contar detalhes para a CPI
Caso GTech foi disputa interna, diz Buratti
MARIO CESAR CARVALHO
RUBENS VALENTE
ENVIADOS ESPECIAIS A RIBEIRÃO
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
O advogado Rogério Tadeu Buratti, 42, vai acrescentar uma disputa interna dentro do PT, o braço-de-ferro entre o ministro Antonio Palocci (Fazenda) e o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil),
entre os ingredientes que fizeram
explodir o caso GTech, a disputa
pela renovação de um contrato de
R$ 650 milhões que se tornou o
marco zero da crise em curso .
"O assunto da GTech é uma briga de governo. Foi o momento
onde houve uma disputa entre o
Palocci e o Zé Dirceu." São revelações como esta que Burattti, ex-assessor de Palocci, pretende fazer amanhã no segundo depoimento que prestará à CPI dos
Bingos.
Buratti antecipou alguns dos
pontos sobre a GTech, a multinacional que opera o sistema de loterias da Caixa Econômica Federal, no depoimento que deu à Polícia Civil de Ribeirão Preto, na última sexta-feira.
Nas quatro fitas de vídeo gravadas durante o depoimento, vistas
pela reportagem da Folha, Buratti
relata uma história diferente sobre a GTech, na qual diz ter sido
usado como uma espécie de mensageiro entre a empresa e o ministro da Fazenda.
Acesso a Palocci
O advogado conta que foi procurado pela GTech por indicação
de Ralf Barquete, então assessor
da presidência da Caixa que fez
parte do grupo político de Antonio Palocci.
A GTech, segundo a Folha apurou, queria chegar a Palocci porque a Caixa estava com as portas
fechadas para o grupo político
que a empresa tinha usado até então, o do ex-ministro José Dirceu.
Diretores da Caixa descobriram
que Waldomiro Diniz, então assessor de Dirceu, assediara a empresa com pedidos e temiam o estouro de um escândalo envolvendo a instituição financeira.
Barquete, morto em junho do
ano passado, foi escolhido inicialmente como via de acesso ao ministro. Ele trabalhara com Palocci
na sua primeira gestão na prefeitura de Ribeirão Preto, entre 1993
e 1996.
Em 2001, na segunda passagem
de Palocci pela prefeitura, Barquete foi nomeado secretário da
Fazenda. Quando Palocci foi para
o ministério, ele foi para a Caixa.
A instituição, no entanto, nega
que ele tenha chegado ao cargo
por indicação do ministro.
Buratti teve uma ligação institucional mais breve com Palocci.
Era o principal secretário de Palocci na prefeitura de Ribeirão em
1993, mas foi afastado no ano seguinte sob suspeita de envolvimento em esquema de corrupção
com empreiteiras.
No depoimento à polícia, Buratti relata que o diretor de Marketing da GTech, Marcelo Rovai,
procurou Barquete na Caixa e lhe
fez uma oferta de dinheiro para
ajudar a empresa a renovar o contrato, assinado originalmente em
1997. A oferta inicial da GTech foi
de R$ 6 milhões, diz o advogado.
Barquete não aceitou a oferta do
diretor da GTech, diz Buratti. "O
Ralf falou: "Sou um funcionário
público". Estava começando na
Caixa, estava empenhado em trabalhar no governo, tentar fazer
carreira, se mostrar como profissional. Aí ele me pediu para que
eu [o] recebesse".
Num encontro no hotel Blue
Tree de Brasília, o advogado diz
que o diretor da GTech apresentou uma segunda oferta.
Ele poderia receber honorários
que variavam de R$ 500 mil a R$
16 milhões -quanto melhores as
condições que a GTech obtivesse
na renovação do contrato com a
Caixa, mais ele ganharia.
Buratti disse que levou a oferta
da GTech ao assessor da presidência da Caixa, e esta foi recusada, ainda segundo ele. O advogado diz não saber se Barquete apresentou-a a Palocci. "Não sei com
quem ele foi falar, se foi com o Palocci ou com outra pessoa. E me
deu o retorno de que a Caixa não
mudaria os termos do contrato."
Logo em seguida, porém, Buratti diz: "O Palocci na verdade não
aceitou a negociação que a GTech
queria. Porque a GTech fazia parte do grupo do Rio". Grupo do
Rio é a forma como Buratti chama
os empresários de jogos do Rio, os
quais, de acordo com ele, seriam
ligados a Waldomiro Diniz e a José Dirceu.
A CPI dos Bingos já tinha evidências da estreita relação entre o
assessor da presidência da Caixa e
Buratti na época em que a GTech
discutia a renovação do contrato.
A quebra do sigilo telefônico
dos dois, obtida pela CPI, mostrou que eles trocaram 99 telefonemas entre 12 de fevereiro e 15 de
abril de 2003. O contrato da
GTech com a Caixa foi renovado
em 8 de abril. Nesse dia, há o registro de nove ligações entre Buratti e Barquete. No dia seguinte,
há mais cinco ligações entre eles e
três telefonemas entre Rovai da
GTech e Buratti.
Rovai não quis comentar a versão de Buratti. Informou que só
falará à CPI, na próxima semana,
numa acareação com o advogado.
A GTech nega ter buscado ajuda
do assessor da presidência da Caixa. Diz que foi procurada por Diniz e que sofreu uma tentativa de
extorsão de R$ 6 milhões por parte de Buratti.
Indicação de diretores
O confronto entre Palocci e Dirceu no caso da GTech não foi a
primeira disputa entre eles envolvendo empresários de bingo e de
jogos eletrônicos, segundo Buratti. O grupo de empresários de bingo do Rio de Janeiro, ligado a
Waldomiro Diniz e Zé Dirceu, já
conseguira uma vitória anterior.
Logo que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva assumiu, em janeiro
de 2003, esse grupo conseguiu indicar a diretoria de jogos da Caixa, como relatou Buratti.
O grupo de São Paulo, afirma o
advogado, tinha relações com
Barquete. Foi o ex-secretário de
Palocci quem levantou uma contribuição de R$ 1 milhão para a
campanha de Lula em 2002, diz
Buratti.
Waldomiro Diniz tinha exercido um papel similar junto ao grupo do Rio, segundo o depoimento
de Buratti. Ele não soube, no entanto, precisar o valor levantado
por Diniz. O ex-assessor de Dirceu foi exonerado em 2004.
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