São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CANDIDATOS NA FOLHA

Crivella cita Cristo para dizer que Lula foi "traído"

Senador diz que ignorava envolvimento de ex-bispo da Universal em escândalos

Candidato ao governo do Rio defende que as votações no Senado ocorram pela internet e sustenta que o Rio de Janeiro "é Estado falido"


Ricardo Moraes/Folha Imagem
Marcelo Crivella, do PRB, sigla do vice-presidente da República, em sabatina promovida pela Folha


ELVIRA LOBATO
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

"Você culparia Cristo pela traição de Judas?" Assim o senador Marcelo Bezerra Crivel- la, 48, candidato a governador do Estado do Rio pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro), apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, usou Jesus Cristo para enfatizar sua convicção de que o presidente ignorava a existência do mensalão, esquema de compra de apoio parlamentar em investigação.
"Não se pode culpar e responsabilizar o pai por um filho (...) O presidente teria pecado se não tivesse permitido que as investigações chegassem ao ponto em que chegaram. O eleitor tem feito a distinção entre o presidente Lula e o grupo que ficou a seu lado e se aproveitou do poder em interesse próprio", disse Crivella.
O mensalão foi denunciado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). Resultou na demissão do ministro José Dirceu (Casa Civil) e na dissolução da cúpula do PT.
A defesa de Lula foi feita no segundo dia da sabatina da Folha com candidatos ao governo fluminense. Anteontem, foi sabatinado o candidato do PMDB, Sérgio Cabral Filho. Hoje será a vez de Denise Frossard, do PPS, a partir das 15h, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, zona sul do Rio.
O senador disse que também ignorava o envolvimento do ex-bispo da Igreja Universal e ex-deputado Carlos Rodrigues com o mensalão e, como descoberto mais recentemente, com a máfia dos sanguessugas.
O senador foi sabatinado pelas colunistas da Folha Danuza Leão e Eliane Cantanhêde, pela diretora da Sucursal do Rio, Paula Cesarino Costa, e pelo coordenador da sucursal, Plínio Fraga.

Juros
Ao ser questionado se não era incoerente elogiar Lula, depois de ter discordado publicamente, em 2004, da política econômica e dos juros altos, Crivella negou que tenha rompido com ele. Disse que, como o vice-presidente José Alencar, também do PRB, criticou os juros por entender que impediam o crescimento da economia, e que Lula lhes dá razão, tanto que os juros diminuíram.
"Como fazer política pública no Rio com 10% de desemprego aberto, com 10% de desalentados que não procuram mais emprego e com 20% da população subempregados? Isso é um horror." Declarou que o Rio é um "Estado falido".

Ausência
Ele defendeu que o Senado passe a adotar o voto pela internet, principalmente de questões consideradas pouco relevantes, como as que tratam da indicação de embaixadores. Embora tenha faltado a 86% das votações no Senado neste ano, Crivella disse não se considerar um político ausente. "A atividade no Senado está nos gabinetes, nas comissões e no plenário. Não tive falta física. Estive sempre no plenário."
O senador disse ter apresentado um projeto de lei para que o Senado permita que os integrantes participem de votações mesmo quando estivessem viajando. Votariam pela internet.

Segurança
O candidato pregou a criação de batalhões da Polícia Militar para vigilância de portos, aeroportos, rodovias, estradas vicinais e divisas com os Estados, para impedir a entrada de drogas e armas. ""Temos que mandar uma mensagem para a bandidagem de que o poder público está articulado, unido e que vai enfrentar o problema de maneira cartesiana. Isso passa também por despolitizar as polícias", afirmou.

Violência
"A causa básica da violência no Rio é a falta de perspectiva de vida de grande parte da população. Jovens que não trabalham nem estudam e vivem sob permanente tentação das drogas, que são baratas. Um pacote de cocaína custa de R$ 3 a R$ 4. Temos de agir nas linhas de suprimento da droga. O Rio virou pátio de logística da droga."

Zona franca social
O candidato propôs criar zonas livres de impostos em áreas carentes do Estado para estimular o uso de mão-de-obra feminina. Ele batizou a proposta de "zona franca social".

Ideologia
Crivella se definiu como "democrata social". Riu com o comentário de que seria um "tucano invertido". "Sou um sujeito que acredita no valor da iniciativa privada, mas o mercado precisa ser regulado."

Sérgio Cabral Filho
Crivella ironizou ao falar sobre seu adversário na eleição. Na sabatina a que foi submetido, o candidato do PMDB definiu-se sendo de uma "neutralidade radical". "Um líder político tem que ter opinião e assumir suas posições", criticou.


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