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Manobra de Renan atrasa processos contra senadores
Artifício usado foi considerar relatório da CPI um denúncia e não uma representação
Conselho de Ética primeiro
investigará denúncia, o que deve demorar um mês, para depois decidir sobre ação de cassação de sanguessugas
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma manobra regimental do
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), deve
atrasar em pelo menos um mês
a abertura dos processos de
cassação contra os senadores
Ney Suassuna (PMDB-PB),
Magno Malta (PL-ES) e Serys
Slhessarenko (PT-MT), acusados de envolvimento com o escândalo dos sanguessugas. A
medida pegou de surpresa os
relatores indicados para cuidar
dos casos no Conselho de Ética.
Segundo Renan, o conselho
inicia hoje apenas investigação
preliminar para checar a veracidade da denúncia feita pela
CPI. Se for considerada pertinente pelo conselho, a Mesa
Diretora do Senado decidirá
então se os processos de cassação serão abertos. Nesse caso, o
conselho repetirá todos os procedimentos da fase inicial.
"Não estamos vivendo um
Estado de exceção, e sim um
Estado democrático de Direito.
Todos os acusados queriam ser
ouvidos", disse. Um dos acusados pela CPI, Suassuna era líder do PMDB, partido de Renan, até o escândalo vir à tona.
Os relatores afirmam que foram convidados a participar de
processo de cassação, e não de
uma fase de instrução. "É um
absurdo. Esses fatos já foram
investigados pela Polícia Federal e pela CPI. Não cabe investigação preliminar porque os indícios já existem", disse o senador Jefferson Péres, indicado
para relatar o caso de Suassuna.
O artifício utilizado por Renan foi considerar o relatório
preliminar da CPI, encaminhado ao conselho, uma denúncia e
não uma representação. O regimento afirma que um processo
de cassação é aberto mediante
representação da Mesa Diretora ou de partido político. "Não é
um processo, os relatores vão
apurar a denúncia", disse o presidente do conselho, João Alberto Souza (PMDB-MA).
Trâmite
A previsão é que essa fase dure até o final de setembro e os
acusados teriam até lá para renunciar, evitando o risco de
inelegibilidade por oito anos.
Em uma segunda fase, se forem
abertos os processos de cassação, o presidente do conselho
poderá indicar novos relatores.
Os senadores são acusados
de receber propina para destinar recursos do Orçamento para a aquisição, por prefeituras,
de ambulâncias e equipamentos médicos superfaturados.
Integrantes da CPI dos Sanguessugas criticaram ontem o
Senado por protelar a abertura
dos processos. "É uma manobra lamentável, mostra que o
poder do Senado é contra a
CPI. É preciso brigar.Se não
houver briga eles não vão condenar, vão continuar tomando
chá", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
Ele já havia acusado Calheiros e seu grupo político de integrarem "uma quadrilha" por terem criado dificuldades para a
instalação da CPI e, agora, critica a imposição de obstáculos
para a seqüência dos trabalhos.
"Espero que não haja nenhum
tipo de manobra. Nenhum tipo
de favorecimento será aceito e
ainda será denunciado. Se alguém pensa em realizar uma
manobra vai se desmoralizar
perante a opinião pública", disse o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).
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