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Filho de Renan comprou rádio após doação do pai
Assessoria do presidente do Senado não quis se manifestar sobre a denúncia
Auditores ouvidos pela Folha entendem que na movimentação há indícios de manobra para ocultar
a origem dos recursos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O dinheiro usado por Renan
Calheiros Filho -conhecido
como Renanzinho- para se
tornar sócio majoritário do Sistema Costa Dourada de Radiodifusão e montar a Correio
Gráfica é do seu pai, o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL),
de acordo com documentos aos
quais a Folha teve acesso.
Ou seja, o presidente do Senado financiou os dois negócios da família. Informada do
fato, a assessoria do senador
não se manifestou até a conclusão desta edição.
Do ponto de vista fiscal, aparentemente a transação é lícita.
Mas auditores ouvidos pela Folha entendem que a operação
tem indícios de ter sido montada para ocultar a origem dos recursos empregados. A suspeita
é investigada pelo Conselho de
Ética e pela Corregedoria do
Senado. A declaração de Imposto de Renda de Renanzinho
é o primeiro documento oficial
a ligar o senador Rena Calheiros diretamente à compra de
uma rádio.
Desde o começo do mês que o
senador é bombardeado com
denúncias de ter usado laranjas
na compra de empresas de comunicação em Alagoas. O usineiro João Lyra afirma que Renan entrou numa sociedade
com ele no grupo O Jornal, mas
pondo a empresa no nome de
seu assessor parlamentar Carlos Santa Ritta.
Posteriormente, segundo
Lyra, o grupo foi dividido entre
ele e o senador. O usineiro diz
ter ficado com o jornal e Renan,
com as rádios do grupo. Na cisão, de acordo com documentos entregues por Lyra ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), Santa Ritta
transferiu sua participação na
empresa para Renan Calheiros
Filho.
Segundo o usineiro, Renan
Calheiros também é o verdadeiro dono da Costa Dourada
Radiodifusão. Em sua defesa, o
senador nunca mencionou o fato de ter bancado a participação
de seu filho na negociação do
sistema de rádio.
Em 2005, Renanzinho comprou 40% do Sistema Costa
Dourada, por R$ 40 mil, e entrou com 16% da Correio Gráfica (equivalente a R$ 150 mil),
montada com capital de R$ 900
mil. Naquele ano, o senador
doou R$ 140 mil ao filho. Renan
informou no Imposto de Renda
a doação ao filho. Renanzinho
declarou o recebimento da doação, mas não mencionou a origem do dinheiro.
No caso da gráfica, Renanzinho desembolsou R$ 75 mil em
2005 e se comprometeu a integralizar mais R$ 75 mil no ano
seguinte. Em 2006, seu pai lhe
doou os R$ 75 mil. Não fosse o
dinheiro do pai, Renanzinho
não teria condições financeiras
de entrar nas sociedades.
Em 2005, Renanzinho teve
renda líquida de R$ 55,4 mil,
como prefeito da cidade de Murici (AL). Comprou uma camionete de luxo pagando R$ 45,28
mil, além de assumir prestações por vencer. Terminou o
ano com bens no valor de R$
235,28 mil (R$ 150 mil da gráfica, R$ 40 mil da rádio, mais o
automóvel) e uma dívida de R$
82,268 mil, sendo R$ 75 mil do
capital a integralizar da rádio e
um "buraco" no cheque especial de R$ 7.268,40.
Sem a doação do pai, Renanzinho teria empatado 81,7% de
sua renda líquida inteira com o
carro, sobrando R$ 10 mil para
custear todas as suas demais
despesas no ano. Um ano antes,
em 2004, Renanzinho havia
declarado como seu único bem
um automóvel Golf 2001. Até
2004, o Senador só havia declarado doação a seus filhos para
custeio de estudos
Fazendas
Além de Santa Ritta, o usineiro João Lyra acusou Ildefonso
Tito Uchôa, primo de Renan, de
também ter atuado como laranja do presidente do Senado
nas rádios. Uchôa é sócio com
Renanzinho tanto na gráfica
quanto na rádio Costa Dourada. Conforme a Folha publicou
há duas semanas, dois ex-proprietários de terras de Alagoas
apontaram Uchôa como espécie de testa-de-ferro de Renan
Calheiros na transação de fazendas em Alagoas.
Renan declarou ter comprado de Uchôa, em 2004, a Fazenda Alagoas por R$ 400 mil.
Mas Uchôa não informou ao
fisco nem a posse nem a venda
da fazenda naquele ano, o que
reforça as suspeitas de que a
propriedade na verdade pertence a Renan Calheiros. Benedito Vieira da Silva, disse à Folha que havia vendido a fazenda para Uchôa em 1998 por
R$ 600 mil.
A Folha deixou recado na casa de Uchôa, mas ele não ligou
de volta.
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