São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997.



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GRUPO DO RIO
Presidente diz que país não quer ter relação carnal com ninguém, uma ironia a frase do chanceler argentino
FHC ironiza acordo entre Argentina e EUA

MARTA SALOMON
enviada especial a Assunção

O presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou ontem a aliança estratégica negociada entre a Argentina e os Estados Unidos.
"Não queremos ter relações carnais com ninguém", afirmou FHC, numa referência direta a uma declaração do chanceler argentino Guido di Tella.
Tella classificou de "carnal" o relacionamento entre os dois países, depois da recente escolha da Argentina como aliado especial dos EUA na área militar. O fato foi interpretado como uma tentativa dos EUA de minar o Mercosul.
FHC disse que não teme "conspirações" contra a associação do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e minimizou o efeito prático da aliança entre Argentina e EUA, assim como o fim do embargo à venda de armas à região.
"Nós, brasileiros, não temos uma preocupação doentia com o que pensam nos Estados Unidos, dizem os Estados Unidos", investiu o presidente em entrevista na chegada ao Paraguai, onde participa da reunião anual com representantes de outros 13 países da América Latina e Caribe integrantes do Grupo do Rio.

Conselho
Na véspera do encontro reservado com o presidente Carlos Menem, FHC insistiu na defesa da indicação de um país da América Latina para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), num critério diferente do pregado pelo colega argentino.
O problema, segundo FHC, não será resolvido na reunião do Grupo do Rio. "Cada um dos nossos países terá suas visões, suas aspirações", avaliou o presidente. "Vamos manter nossas identidades, mas saberemos preservar o essencial, que é o Mercosul" defendeu.
O governo manterá o projeto de lançar o Brasil candidato a uma vaga permanente do conselho, mas já sabe que não obterá apoio prévio à candidatura durante a reunião de Assunção.
A reforma do Conselho será discutida a partir de setembro na Assembléia Geral da ONU.
Sarney
Além de ironizar o chanceler argentino, FHC elogiou o senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que apontou Menem como "instrumento de divisão do continente". Na última quarta-feira, Sarney disse que interesses comerciais contrariados dos Estados Unidos ameaçavam o Mercosul.
Em nenhum momento, o presidente desautorizou a interpretação do senador. Ao contrário, disse que cumprimentara Sarney pelo discurso. "O Congresso brasileiro expressa o sentimento do país", afirmou o presidente.
FHC disse que, na condição de chefe de Estado, não podia fazer o mesmo discurso de Sarney. "Minhas opiniões são balizadas pelos interesses globais do Brasil e nas suas relações internacionais", disse, sem deixar claro o que pensa.
O presidente considerou inoportuno o comentário feito ontem pelo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, James Rubin, a propósito do discurso de Sarney.
"Acho que nem é próprio do Departamento de Estado opinar sobre um discurso de parlamentar brasileiro, um ex-presidente. O Itamarati jamais opina sobre declarações de membros do Congresso americano."
Antes de FHC chegar a Assunção, o chanceler Luiz Felipe Lampreia disse que os EUA estavam "colocando panos quentes" no conflito entre Argentina e Brasil.
O porta-voz disse anteontem que os EUA têm boas relações com os dois países e que o status de "aliada militar íntima" à Argentina se devia ao reconhecimento de uma "boa cidadania mundial".



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