São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997.



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Reunião não deverá resolver polêmica

FERNANDO GODINHO
enviado especial a Assunção

A reunião que o presidente Fernando Henrique Cardoso terá com seu colega Carlos Menem (Argentina) hoje não resolverá a polêmica entre os dois países sobre qual deles será o candidato a uma provável vaga da América Latina no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
A Folha apurou que a situação continua tensa entre os dois países. Para os diplomatas argentinos que participam dessa 11ª reunião do Grupo do Rio (que reúne 14 países), a disputa entre Brasil e Argentina "não se resolve com um café" ou "apenas em uma tarde".
A comitiva argentina -incluindo o chanceler Guido Di Tella e o próprio Menem- está irritada com as declarações do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), que criticou a posição desse país vizinho de se opor à indicação do Brasil.
O Conselho de Segurança, formado atualmente por EUA, Rússia, Reino Unido, França e China, é o principal órgão dentro da estrutura das Nações Unidas e o único com algum poder político real.
Sócio ou patrão
Para os argentinos, os políticos brasileiros precisam decidir se o país é "sócio" ou "patrão" da Argentina.
Para os brasileiros, as declarações de Sarney tiveram uma boa repercussão -e ninguém do corpo diplomático, inclusive FHC (que já foi chanceler do país), se preocupou em abaixar o tom das críticas.
Outros dois fatos de agenda deram uma boa noção da animosidade atual entre os dois países.
O chanceler argentino só chegou a Assunção no final da tarde de ontem e só se encontraria com seu colega brasileiro Luiz Felipe Lampreia à noite.
Assim como Fernando Henrique, Menem decidiu que sairá de Assunção no final deste sábado. Os dois presidentes não participarão da entrevista coletiva dos chefes de Estado e chanceleres prevista para a manhã de domingo.
A ONU começa a decidir sobre a reforma do seu Conselho de Segurança a partir do próximo mês. A idéia é conceder novas vagas permanentes para Alemanha e Japão.
Outras três vagas permanentes seriam concedidas a representantes da América Latina, Ásia e África. Ainda não há consenso sobre o eventual poder de veto dos novos membros.
Além de não concordar com a indicação do Brasil, a Argentina defende que a vaga latino-americana seja rotativa. O Brasil defende que a vaga seja permanente.
Acalmar os ânimos
O vice-chanceler argentino, Andrés Cisneros, procurava na tarde ontem acalmar os ânimos entre os dois países. Principal autoridade do seu país presente em Assunção até aquele momento, ele declarou que "a Argentina não está contra o Brasil".
Ele teve um encontro reservado com Lampreia na manhã de ontem e avaliou que a diplomacia "existe para resolver problemas difíceis".
Para Cisneros, a reunião dos dois presidentes marcada para hoje é a demonstração de que existe "vontade política" para resolver o problema.
"Se essa polêmica com o Brasil tivesse ocorrido há 15 anos, seria uma tragédia. Mas as relações atuais entre os dois países são muito boas", afirmou.
O vice-chanceler argentino ressaltou que o Grupo do Rio não discutiu quem será o candidato da América Latina para o Conselho de Segurança da ONU.
"Antes de tudo, estamos discutindo como será feita essa escolha (sobre a diferença entre rotatividade e permanência). Só depois vamos discutir quem é que vai."
Cisneros defendeu a rotatividade e disse não concordar com a interpretação brasileira de que isso significaria uma discriminação contra a América Latina.
"A região participa de diversos organismos de forma rotativa e nunca foi discriminada por causa disso", completou o diplomata argentino.



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