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ELDORADO DO CARAJÁS
Vice-prefeita de Belém, Ana Júlia (PT), diz que jurado mencionou quantia para absolver réus
Promotor quer apurar suposto suborno
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém
O promotor Marco Aurélio Nascimento, responsável
pela acusação dos
150 policiais militares envolvidos no
caso do massacre de Eldorado do
Carajás (sul do Pará), pedirá ao
procurador-geral interino de Justiça do Pará, Francisco Barbosa de
Oliveira, que investigue rumores
de que jurados podem ter sido subornados para absolver os réus.
A acusação, sem provas, foi feita
pela vice-prefeita de Belém, Ana
Júlia Carepa (PT), à revista "Época". Ela disse ontem à Folha que,
antes de começar o julgamento, o
jurado Sílvio Queiroz Mendonça
teria perguntado a outro pré-selecionado para compor o júri, "em
tom de brincadeira", segundo ela,
"se ele não aceitaria absolver os
PMs em troca de R$ 3.000".
A vice-prefeita afirmou que
soube disso pela própria pessoa
que ouviu a suposta proposta de
Mendonça. Mas Ana Júlia disse
não saber o nome da pessoa que
relatou o caso a ela, que não teria
sido sorteada para compor o júri.
A vice-prefeita também contou
à Folha que a empregada da sua
casa atendeu um telefonema anônimo dizendo que o mesmo jurado que teria feito a proposta já havia ganho R$ 3.000 para votar pela
absolvição dos PMs e ainda receberia mais R$ 130 mil.
A Folha tentou ontem achar
Mendonça na sua casa e no telefone celular, das 16h às 19h, mas não
teve sucesso.
"Eu não disse que o cara recebeu ou deixou de receber dinheiro. Eu apenas relatei à revista
"Época" o que eu vi. Agora, que se
investigue", disse a vice-prefeita.
Ana Júlia chegou a contar o caso
logo depois da absolvição dos comandantes da operação, para
João Pedro Stedile, líder nacional
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Stedile, no entanto, não mencionou o fato na entrevista que
deu um dia após o julgamento.
Américo Leal, advogado dos
PMs absolvidos, classificou a acusação de falsa. "Podem quebrar o
sigilo bancário dos meus clientes
se quiserem", afirmou.
Mendonça tornou-se o jurado
mais polêmico do júri por ter manifestado sua opinião pouco antes
do fim do julgamento dos comandantes da operação (coronel Mário Colares Pantoja, major José
Maria Oliveira e o capitão Raimundo Almendra Lameira), absolvidos na semana passada.
O jurado pediu para ver cenas
do início do conflito, gravadas
por uma TV, e apontou um sem-terra atirando na direção dos
PMs. "Agora fica comprovado
que havia sem-terra armados no
começo do conflito", disse, no microfone, após ver a cena diante
dos outros seis jurados.
O promotor está pedindo a anulação do julgamento, entre outras
coisas, pela atitude de Mendonça,
que teria comprometido a regra
que determina a incomunicabilidade entre os jurados, estabelecida pelo Código de Processo Penal.
O jornalista Nielsen Martins, da
TV Record, disse ontem que foi
ameaçado por Mendonça. Segundo Martins, o jurado deu uma entrevista a ele, com o revólver no
bolso, e afirmou que, se as imagens fossem ao ar, o repórter e sua
família iriam sofrer as consequências. Martins não registrou queixa
na delegacia de polícia, por, segundo ele, não ter provas do fato.
O Tribunal de Justiça do Pará
começa a apreciar hoje o pedido
de anulação do julgamento que
absolveu os comandantes.
Não há prazo para uma decisão
final sobre a questão, mas se calcula que será no período máximo
de seis meses, podendo ser antecipado. Até lá, o início do julgamento dos outros 147 réus ficará suspenso.
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