São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2000

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FOLHA ELEIÇÕES 2000

SÃO PAULO
Cerca de 43% da verba prevista por 11 secretarias nos oito primeiros meses do ano se concentra em julho e agosto, início da campanha eleitoral; para governo, houve coincidência
Covas investe mais em período eleitoral

RALPH MACHADO
EDITOR-ASSISTENTE DE BRASIL


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL


O governo Mário Covas (PSDB) elevou em 69% a verba prevista para investimentos de 11 das 24 secretarias de Estado entre janeiro e agosto deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Foram destinados cerca de R$ 254,5 milhões neste ano. Em 1999, o montante foi equivalente a R$ 150,1 milhões (valor de agosto último, atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fipe).
Cerca de 43% da verba acumulada nos oito primeiros meses do ano estava prevista para ser gasta em julho e em agosto, coincidindo com o início da campanha eleitoral, que começou oficialmente em 6 de julho. Em 1999, os meses de julho e agosto concentraram apenas 27% do investimento nos oito primeiros meses do ano.
A Secretaria da Segurança Pública liderou os investimentos em julho, com uma previsão de gasto atualizada de R$ 23,2 milhões -o equivalente a 35% do montante destinado às 11 secretarias naquele mês. Em agosto, os investimentos previstos da Secretaria da Segurança subiram para R$ 23,8 milhões, o equivalente a 54% do total destinado às 11 pastas no mês.
No acumulado de janeiro a agosto, os recursos destinados à segurança equivalem a 22% do total previsto no período para as 11 secretarias analisadas. No mesmo período do ano passado, os investimentos da Secretaria da Segurança representavam apenas 1% do total acumulado.
Essas conclusões resultaram da análise de dados obtidos no Siafem (sistema informatizado que permite o acompanhamento da execução orçamentária de Estados e municípios) pela liderança do PT na Assembléia Legislativa.

Coincidência
A Folha procurou a assessoria do Palácio dos Bandeirantes e foi informada de que as próprias secretarias é que prestariam esclarecimentos.
O secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, afirmou, por exemplo, que a previsão dos investimentos -em novos carros de polícia e em coletes à prova de balas, armas e munição- e o início da campanha eleitoral se deu "por acaso".
No último dia 15, a Folha acompanhou reunião na qual o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Rui César Melo, defendeu o apoio de PMs a Alckmin. "Devo confessar a vocês que, pessoalmente, vejo esta candidatura como a ideal", disse. Cerca de cem PMs, entre praças e oficiais, assistiram ao discurso do coronel.
"Ao concentrar investimentos no período pré-eleitoral, Covas montou uma verdadeira operação para melhorar sua imagem e eleger prefeitos tucanos no Estado, em especial Geraldo Alckmin na capital", diz o deputado estadual Jilmar Tatto (PT), que apóia a candidatura de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo.
Alckmin (PSDB), vice-governador licenciado, vem disputando a segunda colocação na corrida eleitoral paulistana com Paulo Maluf (PPB), Luiza Erundina (PSB) e Romeu Tuma (PFL).
O tema segurança é um dos principais motes das campanhas de Maluf e Tuma. O tucano perdeu pontos nas intenções de voto depois que seus rivais passaram a associá-lo ao governo Covas.
Anteontem, a dez dias da eleição municipal, o secretário Petrelluzzi anunciou a criação de um serviço de informações que permitirá o mapeamento dos crimes na cidade de São Paulo.
Até o fim de 2001, segundo o secretário, o Infocrim, como foi batizado o programa, estará funcionando em todas as delegacias, as companhias e os batalhões policiais do Estado. O projeto está orçado em R$ 100 mil.

Detalhamento
Os dados das 11 secretarias analisadas indicam que, em 1999, a maior parte delas concentrou seus investimentos no mês de dezembro. Somados, os dispêndios feitos no último mês do ano representaram 51% dos R$ 546,5 milhões investidos em 1999.
De janeiro a agosto de 2000, os investimentos previstos equivalem a 47% do total de 1999. No caso da Secretaria da Segurança, o montante representa uma parcela maior: 64% do total de 1999.
A análise da média mensal de investimentos da secretaria indica que há uma estabilidade nos dispêndios com segurança. No ano passado, a secretaria gastou em média R$ 7,3 milhões por mês. Neste ano, a média está até agora em R$ 7,1 milhões por mês.
Mas, quando se compara a média mensal apenas no período de janeiro a agosto, há um salto de 3.175% na previsão de investimentos em segurança. Em 1999, a média mensal de gasto nesse período foi de R$ 215 mil, contra os atuais R$ 7,1 milhões.
Das 11 secretarias avaliadas, duas realizaram praticamente a metade da previsão de investimentos de janeiro a agosto.
Os investimentos da Secretaria da Saúde representam 27% do total no período. Os da Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras, 25% do total. Em 1999, essas pastas realizaram, respectivamente, 22% e 32% do investimento total das 11 secretarias.
A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, por sua vez, aumentou em 79% o seu investimento médio mensal. Em 1999, os investimentos atingiam a média de R$ 1,3 milhão por mês. Em 2000, a média de investimento mensal foi de R$ 2,3 milhões.
Três secretarias ainda não investiram nada neste ano: a da Habitação, a do Emprego e Relações do Trabalho e a dos Transportes Metropolitanos. Em 1999, essas secretarias realizaram a totalidade dos investimentos em dezembro.


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