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Governo petista do Acre corre para inaugurar antes da eleição a obra que atravessou dez anos de escândalos
O canal amaldiçoado
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
O Canal da Maternidade, a obra chamada de "amaldiçoada" pelos
acreanos, transformada em símbolo da decadência da era Collor,
está sendo concluída a toque de
caixa pelo governo do PT no Acre.
Candidato à reeleição, o governador Jorge Viana corre contra o
tempo para entregar ao menos os
trechos principais no domingo,
uma semana antes da votação.
Hoje, 75% da obra está de pé.
Mesmo sem estar completo (a
previsão é para o início de 2003), o
Canal deve ser inaugurado a tempo de ser faturado eleitoralmente
por Viana e, por tabela, pelo presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, que já o vem citando em discursos e entrevistas como marca
do "modo petista de governar".
A canalização do degradado
igarapé da Maternidade, aguardada há décadas em Rio Branco, tem
enorme potencial de votos. Mais
ainda porque o PT ampliou o projeto, agregando uma área de lazer
-o Parque da Maternidade.
O governo também não economizou na propaganda. Distribuiu
panfletos dizendo que "Rio Branco não será mais a mesma" e veiculou spots de 1 minuto em horário nobre na TV.
O Canal tornou-se célebre em
1992. Em fevereiro daquele ano,
foi divulgada gravação de conversa em que o então ministro do
Trabalho, Antônio Rogério Magri, supostamente dizia ter pedido
propina da Odebrecht, que fazia a
obra, para liberar recursos.
Em maio de 1992, o então governador Edmundo Pinto foi assassinado às vésperas de depor na CPI
que apurava a liberação de recursos do FGTS para a obra. A polícia
considerou crime comum, mas
relatório da CPI da Pistolagem viu
motivação política.
No final de 2000, a Justiça, atendendo a ação do Ministério Público Federal, que considerava a
obra "de interesse público", condenou o Estado a realizá-la e a
Caixa Econômica Federal a liberar financiamento.
O contrato com a Odebrecht foi
cancelado e, em nova licitação, a
obra foi dividida em seis lotes menores, a cargo de quatro empreiteiras locais. O custo caiu: os antigos US$ 36 milhões (cerca de R$
120 milhões) reduziram-se a R$
30 milhões, parque incluído.
O novo parque tem seis quilômetros, com ciclovias, pista de
cooper e espaço cultural.
O governador, que teve a candidatura impugnada pela Justiça
Eleitoral do Acre por uso da máquina (a decisão foi revertida pelo
TSE), não pretende ir à inauguração -mas, com secretários e assessores presentes, o evento deve
se tornar um ato político.
A oposição ao PT no Acre, encabeçada pelo candidato Flaviano
Melo (PMDB), acusa o partido de
"fazer campanha com dinheiro
dos impostos da população".
Viana diz que o prazo previsto no início do trabalho, em março do ano passado, já era de 18 meses. Dá ainda uma explicação meteorológica: "Em outubro começa a época das chuvas. Ficaria mais fácil e mais barato inaugurá-la antes disso".
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