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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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CAMPO MINADO

Líder do MST diz que vários ministros não perceberam que "povo quer mudanças" e chama modelo agrícola de "burro"

Stedile critica "setor neoliberal" do governo

DA SUCURSAL DO RIO

O coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stedile, disse ontem que "há vários ministros da área econômica que ainda não se deram conta de que o povo quer mudanças". Durante um seminário em que participou no Rio, ele afirmou que o modelo agrícola brasileiro é "burro".
Stedile foi um dos debatedores num seminário do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para discutir a inclusão social no país.
Em sua palestra, ele afirmou que "setores dentro do próprio governo" defendem a continuidade do modelo econômico "neoliberal". Na entrevista após o evento, Stedile não quis dar nomes.
"Prefiro não nomear. Acho que a política em si não mudou de todo", afirmou. Diante da insistência dos repórteres, o coordenador do MST disse apenas: "A área econômica, Banco Central, a política econômica do governo não é de mudança ainda".
Segundo o líder sem-terra, a continuidade do modelo neoliberal estaria expressa na defesa da adesão à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), às regras do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial e ao que ele chamou de "regras fantasiosas" da OMC (Organização Mundial do Comércio).
O coordenador do MST afirmou ainda que há setores no Brasil que estão defendendo uma "reciclagem do modelo neoliberal, sem modificá-lo".
Essa reciclagem estaria expressa em "pequenas mudanças na taxa de juros, em políticas sociais compensatórias" e em "ilusões de que o tempo nos trará respostas".
Stedile defendeu como alternativa a adoção de um "projeto popular" para a economia brasileira. O líder sem-terra foi aplaudido ao afirmar: "Ou o povo brasileiro decide sobre seu destino ou vamos ser colônia por muito tempo".
O seminário tinha como tema "A Inclusão Social pelo Trabalho Decente e o Sistema de Fomento".
Questionado, após a palestra, se o "modelo burro" para a agricultura continua no atual governo, Stedile não deu uma resposta direta. "Acho que não podemos manter apenas o modelo agrícola chamado das fazendas modernas, como se ele fosse solução para o emprego. Ele deve continuar como um segmento, mas a ação do setor público agrícola deve ser para eliminar o latifúndio improdutivo, que é um peso social na nossa sociedade, e ao mesmo tempo viabilizar a agricultura familiar, com a agroindústria, e distribuir terra para que os que hoje são pobres, excluídos, possam se viabilizar com a reforma agrária", disse o coordenador do MST.


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