São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Petista envolve campanha de Mercadante

Ao depor, Jorge Lorenzetti diz que documento elaborado pelos Vedoin seria entregue ao coordenador de candidato do PT em SP

Amigo de Lula nega que tenha autorizado qualquer negociação financeira e diz que Berzoini só soube do episódio pela imprensa


ANDRÉA MICHAEL
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à Polícia Federal, o professor universitário Jorge Lorenzetti disse que o dossiê contra candidatos tucanos obtido com a família Vedoin no dia 14 seria entregue a Hamilton Lacerda, então coordenador-geral da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.
Para chegar à documentação, emissários do PT estiveram três vezes em Cuiabá (MT), com passagens pagas pelo caixa da campanha presidencial.
Questionado várias vezes sobre a origem do R$ 1,75 milhão utilizado para comprar a documentação dos Vedoin, Lorenzetti repetiu que "não tem a menor idéia" de quem patrocinou a negociação. O petista, amigo de Lula, também procurou isentar Ricardo Berzoini.
Ao longo do depoimento de três horas e meia, em Brasília, ele negou qualquer possibilidade de negociação financeira, mesmo diante das cobranças dos Vedoin para fornecer os documentos que "incriminariam" o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.
Ao delegado Diógenes Curado e para o procurador Mário Lúcio Avelar Lorenzetti contou que escalou o advogado Gedimar Passos e o funcionário do Banco do Brasil Expedito Veloso, ambos da campanha de Lula, para ir a Cuiabá saber o que os Vedoin tinham a oferecer.
O dossiê contra Serra custaria R$ 20 milhões. Segundo Lorenzetti, "após ouvir o relato [dos emissários], [ele] descartou completamente a hipótese de fazer pagamento em dinheiro pelas provas que envolveriam José Serra, de acordo com "orientação expressa" dada pela coordenação da campanha".
Diante dos boatos de que a PF poderia pedir a prisão de Lorenzetti, seu advogado, Aldo de Campos Costa, contestou: "Ele se apresentou voluntariamente para depor. Fez um depoimento contundente como testemunha, condição na qual deve permanecer durante todo esse processo". Costa disse que "a PF está apurando outras vertentes" e que "haveria outros interesses em jogo, de outras pessoas, de outros órgãos".

Berzoini
Segundo Lorenzetti, Berzoini "não sabia da existência das provas, e só soube das mesmas pela imprensa após a prisão de Gedimar e Valdebran". Eles foram detidos pela PF no dia 15, em São Paulo, com o R$ 1,75 milhão que seria usado para comprar o dossiê. Valdebran é o emissário que os Vedoin enviaram a São Paulo para receber o dinheiro e entregar um lote de documentos a Gedimar, o representante do PT.
Um outro conjunto de documentos foi entregue por Darci e Luiz Antonio Vedoin aos petistas Expedito Veloso e Osvaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho, no dia 14. Em Cuiabá, eles acompanharam a entrevista dos Vedoin à revista "IstoÉ", na qual afirmam que o empresário de Piracicaba Abel Pereira era responsável por liberar emendas no Ministério da Saúde na gestão de Barjas Negri, braço-direito de Serra.
Lorenzetti afirmou também que "Abel Pereira teria oferecido, pela informação da família Vedoin, R$ 10 milhões". De fato, o empresário esteve em Cuiabá entre os dias 23 e 24 de agosto, quando um fotógrafo, contratado por Gedimar e Expedito Veloso, registrou sua saída do hotel Taiamã.
Consta no depoimento que Lorenzetti conheceu Freud Godoy, citado por Gedimar como mandante da negociação, na campanha petista de 2002. Ele negou que Godoy tenha participação no caso do dossiê.
Veloso entregou ontem à PF os documentos que recebeu dos Vedoin no dia da entrevista à "IstoÉ". São registros de depósitos que teriam sido feitos para prefeitos supostamente envolvidos em fraudes.


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