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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
PT queria dossiê contra PT, diz delegado
Edmilson Pereira Bruno, que prendeu dupla que comprava informações contra tucanos, fala em dossiê desaparecido
Policial negou ter sido afastado das investigações e disse que não participa
mais delas porque estava
de folga na segunda-feira
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado da Polícia Federal Edmilson Pereira Bruno,
que prendeu o petista Valdebran Padilha e o ex-agente da
PF Gedimar Passos quando negociavam um dossiê contra o
PSDB, disse ontem que, na verdade, o PT estava interessado
num calhamaço de 2.000 páginas com denúncias contra vários partidos, inclusive contra
petistas. Esses papéis ainda não
foram localizados.
"O PT estava comprando informação que envolvia todos os
partidos políticos, até o próprio
PT. Gedimar disse isso. Meu interesse era pegar o dossiê completo. O material que Luiz Vedoin [chefe do esquema dos
sanguessugas] mandou para o
PT era apenas uma isca", afirmou o delegado Bruno.
Quando as prisões foram deflagradas na semana passada, o
material não estava com Vedoin. Segundo Bruno, as 2.000
páginas faziam parte do pacote
negociado por R$ 2 milhões.
O pacote incluía ainda uma
entrevista de Vedoin para uma
revista, além de fotos e vídeos
associando tucanos ao escândalo dos sanguessugas. Na última semana, a "IstoÉ" publicou
entrevista em que Darci e Luiz
Vedoin envolvem no esquema
o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra.
Para o delegado, um indício
da importância que esse material tinha para o PT foi o fato de
a negociação entre Vedoin e o
ex-agente preso, que estava a
serviço do partido, ter continuado na manhã de sexta-feira.
Naquele momento, os dois já
sabiam que a Polícia Federal
havia apreendido as fitas e os
vídeos contra o PSDB.
Afastado
O delegado Bruno, em entrevista coletiva na sede da PF,
afirmou ontem que não foi
afastado do caso na última segunda-feira, como a Folha informou ontem, mas que entrou
de folga naquele dia e que, por
isso, não continuou na investigação. "Não houve pressão."
Visto nos corredores da PF
naquela segunda, o delegado
admitiu que realmente tinha
compromissos de trabalho, como recolher as fitas de vídeo do
hotel Ibis, onde as prisões foram efetuadas, e depositar o dinheiro apreendido na ação.
Ele depositou os valores, mas
não recebeu as fitas, que foram
lacradas e enviadas diretamente para o superintendente em
exercício da PF em São Paulo,
Severino Alexandre.
A reportagem apurou que a
entrevista do delegado Bruno
foi convocada por ordem do superintendente em exercício,
um dia após a Folha publicar
reportagem sobre a tentativa
da PF de abafar o caso do dossiê por conta do envolvimento
de petistas no escândalo.
A Folha apurou ainda que o
delegado que efetuou as prisões, colheu os primeiros depoimentos e apreendeu o dinheiro, foi proibido de interrogar Freud Godoy, ex-assessor
especial do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Godoy foi
citado como o suposto "chefe"
do policial preso.
O caso, por orientação do diretor-executivo da PF, Zulmar
Pimentel, deveria ficar centrado no superintendente em
exercício. Pimentel é hoje o homem mais cotado a assumir o
comando da PF num eventual
segundo mandato de Lula.
O superintendente é de confiança de Pimentel, que também tem vínculos de amizade
com o policial preso.
Fora do caso
A assessoria da Polícia Federal em Brasília afirmou que o
delegado Bruno "nunca foi
afastado do caso porque ele
nunca foi do caso" e que "todo
mundo da PF conhece Gedimar". Informou que há um interesse em desgastar a imagem
de Pimentel porque ele é segundo homem na hierarquia da
PF. Ainda segundo a assessoria,
a operação dossiê é um exemplo da isenção da PF, pois petistas foram presos.
O deputado federal Arnaldo
Faria de Sá (PTB-SP), integrante da CPI dos Sanguessugas,
convocou ontem o delegado
Bruno a depor na comissão sobre o afastamento dele da investigação sobre o dossiê.
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