São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

PT queria dossiê contra PT, diz delegado

Edmilson Pereira Bruno, que prendeu dupla que comprava informações contra tucanos, fala em dossiê desaparecido

Policial negou ter sido afastado das investigações e disse que não participa mais delas porque estava de folga na segunda-feira


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado da Polícia Federal Edmilson Pereira Bruno, que prendeu o petista Valdebran Padilha e o ex-agente da PF Gedimar Passos quando negociavam um dossiê contra o PSDB, disse ontem que, na verdade, o PT estava interessado num calhamaço de 2.000 páginas com denúncias contra vários partidos, inclusive contra petistas. Esses papéis ainda não foram localizados.
"O PT estava comprando informação que envolvia todos os partidos políticos, até o próprio PT. Gedimar disse isso. Meu interesse era pegar o dossiê completo. O material que Luiz Vedoin [chefe do esquema dos sanguessugas] mandou para o PT era apenas uma isca", afirmou o delegado Bruno.
Quando as prisões foram deflagradas na semana passada, o material não estava com Vedoin. Segundo Bruno, as 2.000 páginas faziam parte do pacote negociado por R$ 2 milhões.
O pacote incluía ainda uma entrevista de Vedoin para uma revista, além de fotos e vídeos associando tucanos ao escândalo dos sanguessugas. Na última semana, a "IstoÉ" publicou entrevista em que Darci e Luiz Vedoin envolvem no esquema o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra.
Para o delegado, um indício da importância que esse material tinha para o PT foi o fato de a negociação entre Vedoin e o ex-agente preso, que estava a serviço do partido, ter continuado na manhã de sexta-feira. Naquele momento, os dois já sabiam que a Polícia Federal havia apreendido as fitas e os vídeos contra o PSDB.

Afastado
O delegado Bruno, em entrevista coletiva na sede da PF, afirmou ontem que não foi afastado do caso na última segunda-feira, como a Folha informou ontem, mas que entrou de folga naquele dia e que, por isso, não continuou na investigação. "Não houve pressão."
Visto nos corredores da PF naquela segunda, o delegado admitiu que realmente tinha compromissos de trabalho, como recolher as fitas de vídeo do hotel Ibis, onde as prisões foram efetuadas, e depositar o dinheiro apreendido na ação.
Ele depositou os valores, mas não recebeu as fitas, que foram lacradas e enviadas diretamente para o superintendente em exercício da PF em São Paulo, Severino Alexandre.
A reportagem apurou que a entrevista do delegado Bruno foi convocada por ordem do superintendente em exercício, um dia após a Folha publicar reportagem sobre a tentativa da PF de abafar o caso do dossiê por conta do envolvimento de petistas no escândalo.
A Folha apurou ainda que o delegado que efetuou as prisões, colheu os primeiros depoimentos e apreendeu o dinheiro, foi proibido de interrogar Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Godoy foi citado como o suposto "chefe" do policial preso.
O caso, por orientação do diretor-executivo da PF, Zulmar Pimentel, deveria ficar centrado no superintendente em exercício. Pimentel é hoje o homem mais cotado a assumir o comando da PF num eventual segundo mandato de Lula.
O superintendente é de confiança de Pimentel, que também tem vínculos de amizade com o policial preso.

Fora do caso
A assessoria da Polícia Federal em Brasília afirmou que o delegado Bruno "nunca foi afastado do caso porque ele nunca foi do caso" e que "todo mundo da PF conhece Gedimar". Informou que há um interesse em desgastar a imagem de Pimentel porque ele é segundo homem na hierarquia da PF. Ainda segundo a assessoria, a operação dossiê é um exemplo da isenção da PF, pois petistas foram presos.
O deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), integrante da CPI dos Sanguessugas, convocou ontem o delegado Bruno a depor na comissão sobre o afastamento dele da investigação sobre o dossiê.


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