São Paulo, Sábado, 23 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MT
Prisão ocorreu após saque em conta de secretária no Paraguai
PF prende parentes e advogado de acusada da morte do juiz Amaral

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

A Polícia Federal prendeu anteontem o marido, o irmão e o advogado de Beatriz Arias, funcionária do Fórum de Cuiabá presa como suspeita da morte do juiz Leopoldino Marques do Amaral.
Samir Hammoud, o advogado de Beatriz, foi libertado na madrugada de ontem pela Polícia Federal. Pedro Paniágua e Joamildo Barbosa, respectivamente marido e irmão da suspeita, continuam presos. O corpo do juiz Amaral foi encontrado, com dois tiros e parcialmente queimado, em Concepción (Paraguai), no dia 7 de setembro.
O juiz havia acusado vários desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso de envolvimento com o narcotráfico, "venda" de sentenças, nepotismo etc. Ele enviou documentação ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e à CPI do Judiciário.
A prisão ocorreu depois que Barbosa, Paniágua e Hammoud sacaram de uma conta de Beatriz, no Banco de Fomento, em Pedro Juan Caballero (Paraguai), 41,9 milhões de guaranis, o equivalente a R$ 25 mil. O dinheiro havia sido depositado pelo juiz Amaral, que era suspeito de ser pai de um filho de Beatriz. No banco, o nome usado por ela era Perla Beatriz Vichini Peralta.
O advogado disse que foi vítima de uma prisão "arbitrária" e que ingressará com ação indenizatória contra a União (a PF é subordinada ao governo federal).
Ele disse que foi preso em território paraguaio, sem a apresentação de mandado judicial, e levado algemado para Cuiabá, de avião, junto com Paniágua e Barbosa. O mandado, conforme Hammoud, só foi apresentado 20 minutos depois da prisão.
A assessoria da PF disse que as prisões, amparadas por mandado do juiz Jeferson Schneider, ocorreram em Ponta Porã (MS), quando os três trocavam o dinheiro em uma casa de câmbio.
De acordo com a PF, Beatriz havia dado uma autorização por escrito para a retirada do dinheiro. Hammoud disse que ela apenas assinou um boleto do banco, ato suficiente para a operação.
O advogado declarou que a PF mantém Paniágua e Barbosa presos como forma de pressionar Beatriz. "É para ver se ela fala alguma coisa. A Polícia Federal está perdida e joga sua última cartada na investigação do caso."
Ele disse que a PF não tem elementos para acusar Beatriz da autoria da morte do juiz após mais de 40 dias de inquérito.
Leopoldino do Amaral vinha sendo investigado pelo Judiciário por desvio de recursos de contas judiciais. A viúva de Amaral, Rosemar Monteiro, sua ex-secretária, Márcia Campos, e o office boy, Benedito Lemes, foram indiciados pela Polícia Civil.
Rosemar e Márcia, que trabalhavam diretamente com o juiz, foram indiciadas por peculato (crime em que o funcionário público se apropria de dinheiro em razão do cargo).


Texto Anterior: Justiça eleitoral: PT pede ao TRE impugnação de possível candidatura de Collor
Próximo Texto: Grampo no BNDES: PF busca provas de que Jereissati comprou fitas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.