São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CIÊNCIAS SOCIAIS

Eli Diniz, cientista política, participa de Congresso da Anpocs

Versão "light" do PT convence empresariado, diz professora

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU

A insatisfação de setores do empresariado com o modo de execução das reformas liberalizantes no governo Fernando Henrique Cardoso somada à credibilidade conquistada pelo PT em seu discurso moderado explicam, segundo a cientista política Eli Diniz, o apoio do empresariado a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Diniz é professora do departamento de economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em estratégias e comportamento do empresariado brasileiro.
Em co-autoria com Renato Boschi, cientista político do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), a professora apresenta o estudo "Empresariado e Estratégias de Desenvolvimento: Balanço e Perspectivas" no 26º Congresso da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que começou ontem, em Caxambu (MG).
Há exatamente um ano, participando do mesmo congresso, Diniz disse à Folha que a insatisfação com os rumos da política econômica dificilmente "se traduziria em voto a favor do PT". "O padrão de votação dos empresários, desde o início da Nova República, é apoiar candidatos de centro-direita. É pouco provável que haja uma mudança tão grande a ponto de os empresários votarem em candidatos da oposição."
O que mudou desde então? A pesquisadora explica: "A aspiração por mudanças passou a ser a tônica da conjuntura política brasileira. Isso recortou segmentos importantes da sociedade, inclusive o empresariado, e expandiu-se a inquietação já presente em 98 entre empresários. A isso se soma a estratégia eleitoral do PT".
Ou seja, pelo menos para alguns setores do empresariado nacional, o discurso "light" do PT teria sido convincente.
Apesar de apoiarem as privatizações, a abertura da economia e a estabilidade da moeda, havia um sentimento de insatisfação em setores do empresariado, segundo Diniz, desde o final do primeiro mandato de FHC.
Isso se deveria, fundamentalmente, à incapacidade do governo de criar políticas de apoio paralelas à fragilização sofrida por setores da indústria com a abertura econômica, à queixa de que o tratamento às empresas estrangeiras e nacionais era desigual e à ausência de canais de interlocução institucionalizados entre industriais e governo.
No estudo que será apresentado na sexta-feira, Diniz e Boschi mostram que entre os setores mais prejudicados pelas políticas liberalizantes está o de eletroeletrônica, em que atua Eugênio Staub, primeiro grande apoio empresarial de peso a Lula. Entre os menos afetados, o setor de construção civil, área em que direta ou indiretamente atuam as indústrias de Antônio Ermírio de Moraes, crítico da atitude de Staub.
A cientista política, no entanto, descarta essa relação direta entre prejuízo ou ganho econômico e apoio político. A questão, ela diz, é política e está relacionada à capacidade do PT de se apresentar "não só como partido dos trabalhadores, mas como um partido capaz de incluir e apresentar um caminho comum".
Quanto à candidatura de José Serra (PSDB), Diniz argumenta: "Fica difícil convencer que alguém que teve papel ativo na política econômica desse governo seria capaz de reverter prioridades".
Finalmente, o inédito apoio empresarial à esquerda, ainda que minoritário, seria resultado da consolidação democrática. "Há um risco [em apoiar Lula], mas, se há confiança maior de que as instituições políticas estão sólidas, você pode correr mais riscos."


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Encontro enfoca conexão entre avanço científico e humanidades
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.