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CIÊNCIAS SOCIAIS
Eli Diniz, cientista política, participa de Congresso da Anpocs
Versão "light" do PT convence empresariado, diz professora
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU
A insatisfação de setores do empresariado com o modo de execução das reformas liberalizantes no
governo Fernando Henrique Cardoso somada à credibilidade conquistada pelo PT em seu discurso
moderado explicam, segundo a
cientista política Eli Diniz, o apoio
do empresariado a Luiz Inácio
Lula da Silva (PT).
Diniz é professora do departamento de economia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro) e especialista em estratégias e comportamento do empresariado brasileiro.
Em co-autoria com Renato Boschi, cientista político do Iuperj
(Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), a professora apresenta o estudo "Empresariado e Estratégias de Desenvolvimento: Balanço e Perspectivas" no 26º Congresso da
Anpocs (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais), que começou
ontem, em Caxambu (MG).
Há exatamente um ano, participando do mesmo congresso, Diniz disse à Folha que a insatisfação com os rumos da política econômica dificilmente "se traduziria em voto a favor do PT". "O padrão de votação dos empresários,
desde o início da Nova República,
é apoiar candidatos de centro-direita. É pouco provável que haja
uma mudança tão grande a ponto
de os empresários votarem em
candidatos da oposição."
O que mudou desde então? A
pesquisadora explica: "A aspiração por mudanças passou a ser a
tônica da conjuntura política brasileira. Isso recortou segmentos
importantes da sociedade, inclusive o empresariado, e expandiu-se a inquietação já presente em 98
entre empresários. A isso se soma
a estratégia eleitoral do PT".
Ou seja, pelo menos para alguns
setores do empresariado nacional, o discurso "light" do PT teria
sido convincente.
Apesar de apoiarem as privatizações, a abertura da economia e
a estabilidade da moeda, havia
um sentimento de insatisfação
em setores do empresariado, segundo Diniz, desde o final do primeiro mandato de FHC.
Isso se deveria, fundamentalmente, à incapacidade do governo de criar políticas de apoio paralelas à fragilização sofrida por
setores da indústria com a abertura econômica, à queixa de que o
tratamento às empresas estrangeiras e nacionais era desigual e à
ausência de canais de interlocução institucionalizados entre industriais e governo.
No estudo que será apresentado
na sexta-feira, Diniz e Boschi
mostram que entre os setores
mais prejudicados pelas políticas
liberalizantes está o de eletroeletrônica, em que atua Eugênio
Staub, primeiro grande apoio empresarial de peso a Lula. Entre os
menos afetados, o setor de construção civil, área em que direta ou
indiretamente atuam as indústrias de Antônio Ermírio de Moraes, crítico da atitude de Staub.
A cientista política, no entanto,
descarta essa relação direta entre
prejuízo ou ganho econômico e
apoio político. A questão, ela diz,
é política e está relacionada à capacidade do PT de se apresentar
"não só como partido dos trabalhadores, mas como um partido
capaz de incluir e apresentar um
caminho comum".
Quanto à candidatura de José
Serra (PSDB), Diniz argumenta:
"Fica difícil convencer que alguém que teve papel ativo na política econômica desse governo seria capaz de reverter prioridades".
Finalmente, o inédito apoio empresarial à esquerda, ainda que
minoritário, seria resultado da
consolidação democrática. "Há
um risco [em apoiar Lula], mas, se
há confiança maior de que as instituições políticas estão sólidas,
você pode correr mais riscos."
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