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NO AR
Cultura patrulheira
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Em tempo de eleição, fazem
festa quando uma atriz como Regina Duarte, ofendida publicamente por Lula, tem que sumir, fugir da reação a um pronunciamento seu.
No sebastianismo dos petistas
de eleição, Lula é predestinado
-e todo ato que se interponha à
sua chegada ao poder, sobretudo se transmitido a milhões pela
TV, é herético.
É em tal ambiente, em que
1.700 artistas/celebridades se
acotovelam no Rio para a glorificação, que vem a público o
programa do PT para a cultura
e a própria TV.
Seria criada, para usar palavras petistas, uma espécie de
"sistema único de cultura", encabeçado e financiado pelo poder predestinado.
O Estado, dos velhos tempos
de Embrafilme, voltaria a se insinuar pelas produções, inclusive aquelas sustentadas hoje por
leis de incentivo.
Quanto à TV, ali também está
prevista uma concentradora rede estatal "de alcance nacional".
Mais importante, porém, é que o
projeto não trata das redes comerciais -e da TV digital.
Para quem estranhou tanto a
cobertura da Globo neste ano,
sobretudo nas últimas semanas,
está aí uma pista.
Por outro lado, o campo de experiências da proposta cultural
lulista foi São Paulo, como indicam seus autores.
Vale registrar então um fato
recente, em que uma organização não-governamental, ligada
ao vereador petista que criou a
lei paulistana de apoio à cultura, passou a ser investigada pelo
Ministério Público.
De acordo com a denúncia,
graças à doação de uma empresa de lixo, a ONG se respaldou
para aprovar junto à secretaria
municipal de Cultura um projeto de algumas centenas de milhares de reais.
Faz lembrar todo um passado
de intervenção estatal. Bom
presságio não pode ser.
Lula sorri sem parar na TV,
mas ainda não foi eleito. E José
Serra tem projeto para a cultura
-que ele vê como "estratégica
para o futuro do país".
Muito se questiona a privatização da cultura na última década e meia, sobretudo nos anos
FHC, mas foi ele quem fez renascer e progredir a indústria do cinema nacional.
O cinema de "Cidade de
Deus", de Fernando Meirelles,
que deve bater ainda esta semana o recorde de bilheteria da
chamada "retomada".
Pois o que o tucano promete é
ampliar o esforço.
Quer uma agência de direito
autoral, que enfrente a pirataria
externa que ameaça fechar gravadoras. E quer um órgão para
propagar a produção brasileira
pelo mundo.
Quer tratar a cultura nacional
como os EUA tratam Hollywood
e a indústria cultural toda.
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