São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGUNDO TURNO

Ex-presidenciável diz que Lula assume posições contraditórias, mas considera que Serra "passou da dose" com ataques

Garotinho culpa PT por discurso do medo

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-governador do Rio e candidato derrotado a presidente, Anthony Garotinho (PSB), 42, culpou ontem o próprio PT pelo discurso do medo adotado pelo tucano José Serra (PSDB) contra Lula (PT) neste segundo turno.
Em entrevista à Folha, Garotinho disse que, dependendo do problema, Lula assume posições contraditórias que, segundo ele, confundem o eleitor. "Por exemplo, o Lula diz que vai aumentar o gasto social e, ao mesmo tempo, vai manter o superávit primário. Isso é o mesmo que dizer que eu vou tomar banho de mar sem me molhar. É impossível", afirmou.
Segundo Garotinho, Serra se aproveitou dessa contradição de Lula, mas "passou da dose". "Deixou de ser exploração da contradição, para ser exploração do medo. É uma tentativa desesperada de inverter o quadro eleitoral."
O ex-governador continua mostrando que anda inquieto com o apoio a Lula -decisão formalizada pela cúpula do PSB no último dia 10. Apesar de se dizer eleitor de Lula, acentua suas diferenças com o PT até quando fala no episódio da atriz Regina Duarte, criticada por declarar ter medo de um governo Lula.
"O que eu acho engraçado é que o PT exerce um certo patrulhamento ideológico, inconcebível num regime democrático. Por exemplo, a atriz Paloma Duarte era uma das que vestiu a camisa do "Rosinha Não" [movimento contrário à candidatura da governadora eleita do Rio e mulher de Garotinho, Rosinha Matheus, do PSB]. Ela pode fazer campanha pelo "Rosinha Não", mas não querem que a Regina Duarte faça a campanha do "Lula Não'? Deve haver coerência das pessoas."
Para ele, o posicionamento do PT tem posto o partido em xeque com o eleitor. "Lula vai no Tocantins, critica o [governador] Siqueira Campos [PFL], dizendo que é uma oligarquia insuportável. Mas vai no Maranhão e elogia [José] Sarney [PMDB]. Então, dá a impressão de que oligarquia boa é a que está do lado do PT."

Sem cargo
Garotinho criticou a campanha de Lula no segundo turno, que, para ele, foi "superficial" e não se "aprofundou nos temas nacionais". Disse ainda que não aceitará nenhum cargo num governo petista e que defenderá que o PSB faça uma "oposição propositiva".
"Acho que não devemos participar do governo [de Lula]. Tudo que ele mandar de bom para o Brasil, vamos votar a favor. Agora, tudo o que contrariar os interesses do projeto nacional que defendemos, vamos votar contra."
Os socialistas estão divididos sobre a participação num governo petista. Os históricos do partido, como o governador reeleito de Alagoas, Ronaldo Lessa, defendem a imediata adesão, mas os neo-socialistas, liderados por Garotinho, preferem a neutralidade.
"Se a minha posição for derrotada e o partido decidir participar do governo, quero adiantar desde já que não ocuparei nenhum cargo. O PSB tem um projeto para o Brasil. Nós não estamos atrás de boquinha de governo nenhum."
A independência do PSB em relação a um governo Lula atenderia melhor ao projeto pessoal de Garotinho: o de ser candidato à Presidência em 2006. Ele pretende percorrer o país para estruturar o PSB para as eleições municipais de 2004, como presidente da Fundação João Mangabeira.
"Minha candidatura à Presidência em 2006 é consequência da estruturação do PSB. Vamos lançar candidatos a prefeito em todas as capitais e, pelo menos, nas 200 cidades mais importantes do país."


Texto Anterior: Folclore Político - Raphael de Almeida Magalhães: No limiar de um novo tempo
Próximo Texto: Lula critica uso da crise argentina em propaganda de Serra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.