São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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Serra prevê continuar sua gestão na saúde

O que o governo federal pode fazer para incentivar os investimentos em saneamento? A privatização dos serviços é uma solução? Como obter recursos para aumentar o acesso ao saneamento?
Muito foi feito nos últimos sete anos, mas as carências nos colocam a obrigação de fazer muito mais. É crucial observar o envolvimento direto de José Serra no que foi realizado.
Como ministro do Planejamento, Serra retomou a liberação de recursos do FGTS, favorecendo expressivos investimentos entre 1995 e 1998. A crise financeira internacional fez com que o financiamento para as empresas públicas fosse bloqueado, mas Serra, à frente do Ministério da Saúde, ampliou drasticamente os investimentos no setor. Só o Ministério da Saúde, que investia cerca de R$ 300 milhões anuais, passou a gastar, em 2001, R$ 1,4 bilhão, valor que está se repetindo em 2002. As ações conduzidas com Estados e municípios estão beneficiando 2,6 milhões de famílias. Em 2002, BNDES, FGTS e o governo federal, por meio das verbas alocadas no Orçamento Geral da União estão investindo R$ 14,4 bilhões no setor.
Os números comprovam de maneira irrefutável o quanto foi feito em saneamento. Entre 1995 e 2000, o tratamento de esgotos saiu de 1,5 milhão para quase 15 milhões de domicílios.
A parceria com o setor privado será importante, mas jamais deve ser vista como panacéia. Nossa tarefa será agir em três frentes: a) aprovar o novo marco jurídico, definindo a participação de Estados e municípios na titularidade; b) ampliar os recursos orçamentários para o saneamento, especialmente para regiões de risco e baixa renda das periferias urbanas; e c) rever a forma de financiamento, para que as empresas públicas possam voltar a captar recursos com o FGTS e com o BNDES.

O acesso rápido a consultas e a tratamento médico depende do aumento da oferta de serviços hospitalares ou o crescimento dos serviços de medicina preventiva pode reduzir o gargalo do atendimento nos hospitais? Ou é preciso aumentar imediatamente a oferta de hospitais, de médicos e de enfermagem? O governo federal pode (ou deve) auxiliar Estados e municípios nessa tarefa?
Embora muitos se esforcem para tratar o nosso Sistema Único de Saúde como um problema, não tenho dúvida em afirmar que a experiência brasileira de construção do SUS é um caso de êxito sem paralelo na história das políticas públicas. Em poucos anos, um país de baixa renda per capita e grande heterogeneidade regional conseguiu ter um sistema descentralizado e abrir suas portas a toda a população. Vale notar que, nos EUA, 40 milhões de pessoas não têm nem o direito de ter acesso à saúde.
Mas a saúde tem muito a melhorar, tanto no acesso com na qualidade. A expansão do Programa de Saúde da Família para toda a população será o pilar da nova fase do SUS. A equipe de saúde da família será a porta de acesso do cidadão a todos os níveis de atenção à saúde, desonerando o pronto-socorro e acabando com o drama da superlotação nas portas dos hospitais públicos.
Com a implantação do Cartão Nacional de Saúde, a informática será colocada a serviço da organização do sistema para melhor uso dos recursos, de combate às fraudes e de garantia de rapidez no atendimento.

Há limitações na oferta de serviços médicos nos planos e seguros de saúde, além das limitações de acesso impostas pelo preço da saúde privada. O governo federal deve atuar no sentido de intervir na saúde privada, com controles mais rigorosos sobre preços e atendimentos, ou acredita que tal mercado deve ser mais livre e o Estado deve prover mais serviços médicos de modo a compensar a elitização dos planos de saúde privados?
O candidato José Serra teve papel crucial na construção das normas de regulação dos planos de saúde e criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar. Não se trata de intervir no setor, mas de colocar regras claras para proteger o cidadão. Ao mesmo tempo, a ANS monitora a saúde financeira e os serviços de cada plano de saúde, para impedir a concorrência predatória entre empresas, que só produz a insolvência.
O dever do Estado, além de dar acesso à saúde pública, é garantir que os planos prestem a cobertura adequada, evitando restrições descabidas (para UTI, por exemplo). O Estado deve coibir reajustes abusivos, desvinculados da realidade do mercado, notadamente na proteção ao idoso, para que ele não seja posto para fora do plano no momento de maior necessidade.


Geraldo Biasoto Junior, 41, doutor em economia, professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário de Gestão de Investimentos do Ministério da Saúde, é colaborador do programa de José Serra e respondeu às questões pelo candidato.



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