|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RESISTÊNCIA VERDE
Governo diz que regras para acordo já foram definidas em 2001
Ecologistas cobrarão ação de Lula no Protocolo de Kyoto
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A política ambiental do governo
Lula, alvo de críticas no plano nacional, também é pressionada por
ONGs (organizações não-governamentais) no conjunto das negociações globais para adoção do
Protocolo de Kyoto.
O Observatório do Clima (rede
de 26 entidades brasileiras e internacionais) cobrará do governo federal, até meados de novembro,
que tome a iniciativa de incluir
desmatamentos de florestas tropicais na lista do protocolo das
fontes emissoras de gases causadores do efeito estufa.
"Faremos uma pergunta ao governo: o que fará para que o Protocolo de Kyoto atente para o desmatamento tropical, que responde por 25% das emissões totais de
gases de efeito estufa?", explicou
Paulo Moutinho, coordenador de
pesquisas do Ipam (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia) e representante do Observatório em fóruns internacionais.
A próxima reunião importante
sobre o acordo ocorrerá entre 1º e
12 de dezembro em Milão, na Itália, a nona edição da COP (Conferência das Partes). Os ambientalistas querem que o governo compareça à reunião já com a disposição de dar o primeiro passo e um
exemplo mundial, ao incluir o tema das florestas na pauta.
Há uma reunião marcada para
hoje entre o Observatório e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), mas os ambientalistas só
discutirão o assunto com ela em
novembro, em outro encontro.
O protocolo é um acordo internacional pelo qual os países se
comprometem, com metas, a reduzir a emissão de gases de efeito
estufa. De 134 países, 119 (44,2%
do total de emissões) ratificaram
o acordo. Sem o apoio da Rússia e
dos Estados Unidos, no entanto, o
acordo está ameaçado.
Hoje as queimadas e desmatamentos não são incluídas no protocolo e, portanto, não são submetidas a metas de redução. Se o
Brasil conseguisse a inclusão desse item, saltaria da 16ª posição entre os países mais poluidores para
a 6ª posição, segundo estimativa
do Observatório do Clima.
O Brasil produz ao ano 90 milhões de toneladas de gás carbônico gerados pela queima de combustíveis fósseis, como o petróleo.
A destruição das florestas gera
200 milhões de toneladas anuais.
Segundo Moutinho, os ambientalistas já fizeram diversas vezes,
desde 97, o mesmo pedido ao governo de Fernando Henrique
Cardoso, mas não foram ouvidos.
Com a eleição de Lula, as ONGs
acreditavam que as chances dessa
medida "pró-ativa" seriam maiores. O programa do candidato na
área ambiental trazia uma crítica
direta à política em vigor: "No debate acerca da Convenção sobre
Alterações Climáticas, o governo
brasileiro assumiu posição de
destaque nas negociações do Protocolo de Kyoto, mas não vem
cumprindo satisfatoriamente o
seu papel na redução das emissões de gases de efeito estufa".
Mais à frente, explicou o peso da
questão florestal: "Além da poluição atmosférica proveniente das
indústrias e da frota automobilística, o Brasil emite anualmente
cerca de 200 milhões de toneladas
de carbono com desmatamentos
e, sobretudo, com queimadas e
incêndios florestais".
Fora do prazo
O coordenador-geral de Mudanças Globais do Clima no MCT
(Ministério da Ciência e Tecnologia), José Miguez, 49, um dos representantes oficiais desde o início das negociações, disse que não
conhece a proposta ambientalista. Mas afirmou que a reunião
ocorrida em 2001 no Marrocos "já
definiu o que vai ser regulamentado no protocolo". Segundo ele,
em Milão serão finalizados os termos do protocolo. Para Miguez, a
agenda de Milão não prevê "nenhuma possibilidade de apresentação desse tipo de proposta".
Miguez disse que "cada país pode fazer o que quiser, mas isso está fora da agenda" de Milão.
A assessoria do Ministério do
Meio Ambiente orientou a Folha
a procurar o MCT. Disse que possivelmente o tema poderia ser
abordado na reunião de hoje.
Texto Anterior: Pedido de demissão de Luiz Eduardo causa racha entre cientistas sociais Próximo Texto: Marina diz que recusa "jardinagem" Índice
|