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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O JULGAMENTO
Proposta foi aprovada por 37 dos 56 integrantes do Diretório Nacional; acusado chorou ao se defender e não quis acompanhar votação
PT expulsa Delúbio e diz que crise acabou
CONRADO CORSALETTE
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Partido dos Trabalhadores
expulsou ontem seu ex-tesoureiro
Delúbio Soares, um dos personagens centrais do escândalo do
"mensalão". O relatório da Comissão de Ética do partido, que
pedia a retirada de Delúbio dos
quadros petistas por "gestão temerária" das finanças da legenda,
foi apoiado por 37 dos 56 integrantes do Diretório Nacional
presentes na votação de ontem,
realizada em São Paulo.
Antes do julgamento, a cúpula
petista aprovou documento em
que avalia que foi contida a crise
provocada pelas acusações de envolvimento do partido com corrupção (leia texto na pág. A10).
O ex-tesoureiro foi até a sede do
PT acompanhar o processo de expulsão. Ainda ontem, chegou a
ouvir pedidos para que se desligasse voluntariamente do partido
-um deles foi feito pelo ex-ministro e deputado José Dirceu
(SP)-, mas preferiu ser submetido ao julgamento.
Ao fazer sua defesa, que durou
cerca de 25 minutos, Delúbio chorou muito, segundo relatos de petistas. Disse que dedicou 25 anos
de sua vida ao partido e que sua
expulsão seria injusta. O ex-tesoureiro ainda leu a peça de sua
defesa feita à Comissão de Ética,
na qual tenta compartilhar a responsabilidade de seus atos com
outros dirigentes do partido.
Alguns petistas presentes também se emocionaram, entre eles
os deputados João Paulo Cunha
(SP) e Professor Luizinho (SP).
Ambos podem ter o mandato cassado -o primeiro recebeu recursos do esquema do publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza, e o segundo teve um assessor envolvido no escândalo.
Delúbio deixou a sede do PT antes da votação, alegando não ter
condições de acompanhar a finalização do processo.
Dos 56 petistas que votaram, 3
se abstiveram (eram da corrente
interna ultra-radical O Trabalho)
e 16 defenderam uma pena mais
branda: uma suspensão do ex-tesoureiro por três anos. Tal medida foi proposta pelo presidente da
CUT (Central Única dos Trabalhadores), João Felício.
Essa proposta acabou sendo
apoiada pelos parlamentares que
receberam dinheiro das contas de
Marcos Valério. Dirceu e seu grupo também votaram pela suspensão de três anos.
"Para o partido, é doloroso, mas
era uma decisão inevitável. Delúbio sempre agiu achando que estava contribuindo para o PT, não
houve benefício pessoal, mas tomou decisões sem autorização da
direção", afirmou o líder do governo no Senado, o petista Aloizio
Mercadante (SP).
"O partido tomou uma decisão
extrema, que responde de maneira correta", disse Tarso Genro,
que ontem deixou a presidência
do PT. "O PT agiu no tempo certo, dentro dos procedimentos estatutários", afirmou o deputado
Ricardo Berzoini (SP), que assumiu o comando da legenda.
Os cinco deputados petistas e
um ex-deputado (Paulo Rocha renunciou para não perder os direitos políticos com uma eventual
cassação) que receberam dinheiro do esquema de Marcos Valério,
além de Dirceu, ganharam mais
um prazo para que seus casos sejam analisados.
A comissão de sindicância que
deveria apresentar um relatório
pedindo ou não a instalação de
uma Comissão de Ética para eles
não concluiu os trabalhos.
A nova Executiva Nacional, que
tomou posse ontem, vai se reunir
nesta semana para "dar um prazo
final" para que o relatório seja
apresentado, segundo Tarso.
Luix Costa, integrante da Comissão de Ética, enviou relatório
em separado no qual pedia, além
da expulsão de Delúbio, abertura
de investigação interna sobre petistas acusados de integrar esquema de Valério. O documento nem
chegou a ser lido pelo diretório.
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