São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O JULGAMENTO

Proposta foi aprovada por 37 dos 56 integrantes do Diretório Nacional; acusado chorou ao se defender e não quis acompanhar votação

PT expulsa Delúbio e diz que crise acabou

CONRADO CORSALETTE
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Partido dos Trabalhadores expulsou ontem seu ex-tesoureiro Delúbio Soares, um dos personagens centrais do escândalo do "mensalão". O relatório da Comissão de Ética do partido, que pedia a retirada de Delúbio dos quadros petistas por "gestão temerária" das finanças da legenda, foi apoiado por 37 dos 56 integrantes do Diretório Nacional presentes na votação de ontem, realizada em São Paulo.
Antes do julgamento, a cúpula petista aprovou documento em que avalia que foi contida a crise provocada pelas acusações de envolvimento do partido com corrupção (leia texto na pág. A10).
O ex-tesoureiro foi até a sede do PT acompanhar o processo de expulsão. Ainda ontem, chegou a ouvir pedidos para que se desligasse voluntariamente do partido -um deles foi feito pelo ex-ministro e deputado José Dirceu (SP)-, mas preferiu ser submetido ao julgamento.
Ao fazer sua defesa, que durou cerca de 25 minutos, Delúbio chorou muito, segundo relatos de petistas. Disse que dedicou 25 anos de sua vida ao partido e que sua expulsão seria injusta. O ex-tesoureiro ainda leu a peça de sua defesa feita à Comissão de Ética, na qual tenta compartilhar a responsabilidade de seus atos com outros dirigentes do partido.
Alguns petistas presentes também se emocionaram, entre eles os deputados João Paulo Cunha (SP) e Professor Luizinho (SP). Ambos podem ter o mandato cassado -o primeiro recebeu recursos do esquema do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, e o segundo teve um assessor envolvido no escândalo.
Delúbio deixou a sede do PT antes da votação, alegando não ter condições de acompanhar a finalização do processo.
Dos 56 petistas que votaram, 3 se abstiveram (eram da corrente interna ultra-radical O Trabalho) e 16 defenderam uma pena mais branda: uma suspensão do ex-tesoureiro por três anos. Tal medida foi proposta pelo presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), João Felício.
Essa proposta acabou sendo apoiada pelos parlamentares que receberam dinheiro das contas de Marcos Valério. Dirceu e seu grupo também votaram pela suspensão de três anos.
"Para o partido, é doloroso, mas era uma decisão inevitável. Delúbio sempre agiu achando que estava contribuindo para o PT, não houve benefício pessoal, mas tomou decisões sem autorização da direção", afirmou o líder do governo no Senado, o petista Aloizio Mercadante (SP).
"O partido tomou uma decisão extrema, que responde de maneira correta", disse Tarso Genro, que ontem deixou a presidência do PT. "O PT agiu no tempo certo, dentro dos procedimentos estatutários", afirmou o deputado Ricardo Berzoini (SP), que assumiu o comando da legenda.
Os cinco deputados petistas e um ex-deputado (Paulo Rocha renunciou para não perder os direitos políticos com uma eventual cassação) que receberam dinheiro do esquema de Marcos Valério, além de Dirceu, ganharam mais um prazo para que seus casos sejam analisados.
A comissão de sindicância que deveria apresentar um relatório pedindo ou não a instalação de uma Comissão de Ética para eles não concluiu os trabalhos.
A nova Executiva Nacional, que tomou posse ontem, vai se reunir nesta semana para "dar um prazo final" para que o relatório seja apresentado, segundo Tarso.
Luix Costa, integrante da Comissão de Ética, enviou relatório em separado no qual pedia, além da expulsão de Delúbio, abertura de investigação interna sobre petistas acusados de integrar esquema de Valério. O documento nem chegou a ser lido pelo diretório.


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