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Governo reforça vigilância em fazenda invadida no Paraná
Polícia paranaense investiga morte de um líder dos sem-terra e de um segurança
Oficial da PM afirma que houve abusos dos dois lados e diz que as pessoas que promoveram esse conflito serão responsabilizadas
LUIZ CARLOS DA CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CASCAVEL (PR)
A Sesp (Secretaria de Segurança Pública do Paraná) reforçou a segurança na fazenda experimental da multinacional
Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste (540 km de Curitiba), depois do confronto que
deixou um líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e um vigilante
de empresa de segurança mortos na manhã de domingo, na
terceira invasão da área.
No confronto morreram a tiros Valmir da Mota Oliveira,
32, conhecido como Keno, líder
do MST no oeste do Paraná, e o
segurança Fábio Ferreira, 25.
Ontem, o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, chefe
Departamento da Divisão de
Interior, e o coronel Celso José
Mello, comandante do policiamento do interior da Polícia
Militar, estiveram na região. A
polícia diz que ficará na área até
que a ordem seja restabelecida.
Os comandantes não informaram se pretendem solicitar
à Justiça autorização para procurar armas de fogo na área invadida pelo MST e Via Campesina e disseram que não deve
haver tentativa de desocupar a
fazenda à força. "Não se trata
dessa forma os movimentos sociais", disse o coronel Mello.
De acordo com o MST, Keno
e outros dirigentes estavam
sendo ameaçados de morte por
ruralistas. Para os sem-terra, o
ato foi praticado por uma milícia armada e a ação foi um
"massacre".
Para o oficial da PM, houve
abusos de ambos os lados e as
pessoas que promoveram o
conflito serão responsabilizadas. "Se alguém tinha a idéia de
tratar os movimentos sociais
na lei do 44 como se fazia antigamente, vai ter uma resposta."
O delegado Cartaxo de Moura criticou a tentativa de reintegrar a área feita pelos seguranças. "Reintegração de posse não
se faz com arrebatamento, mas
pelos meios judiciais", disse.
Apesar do intenso tiroteio,
apenas uma arma de fogo foi
apreendida -um revólver calibre 38 registrado em nome da
NF Segurança, empresa contratada para fazer a vigilância.
A arma foi entregue à polícia
pelos sem-terra e teria sido tomada de um dos seguranças.
Sete vigilantes da NF Segurança estão presos por formação de quadrilha, homicídio e
exercício arbitrário das próprias razões. Nove sem-terra
que participaram do confronto
foram ouvidos e liberados. A
polícia diz que, no caso dos
sem-terra, não houve flagrante
porque eles se apresentaram
voluntariamente.
Um vídeo entregue por sem-terra à Polícia Civil registra o
momento da chegada de cerca
de 25 seguranças da empresa
NF na fazenda, segundo a Sesp.
Velórios
O corpo do sem-terra morto
foi velado no acampamento 1º
de Agosto, no complexo da fazenda Cajati, área invadida há
oito anos e comprada há cerca
de um mês pelo governo federal
para fins de reforma agrária.
Antes do sepultamento, o
corpo de Keno foi levado para a
área da Syngenta, onde militantes de vários movimentos
sociais prestaram homenagens. Keno era casado e pai de
três filhos, todos menores.
No mesmo instante em que o
líder sem-terra era homenageado, um pequeno grupo de
20 pessoas se despedia do segurança Fábio Ferreira, velado
em um pequeno salão comunitário em Santa Tereza do Oeste.
O segurança era casado e tinha
uma filha de dois anos.
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