São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Governo reforça vigilância em fazenda invadida no Paraná

Polícia paranaense investiga morte de um líder dos sem-terra e de um segurança

Oficial da PM afirma que houve abusos dos dois lados e diz que as pessoas que promoveram esse conflito serão responsabilizadas

LUIZ CARLOS DA CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CASCAVEL (PR)

A Sesp (Secretaria de Segurança Pública do Paraná) reforçou a segurança na fazenda experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste (540 km de Curitiba), depois do confronto que deixou um líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e um vigilante de empresa de segurança mortos na manhã de domingo, na terceira invasão da área.
No confronto morreram a tiros Valmir da Mota Oliveira, 32, conhecido como Keno, líder do MST no oeste do Paraná, e o segurança Fábio Ferreira, 25.
Ontem, o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, chefe Departamento da Divisão de Interior, e o coronel Celso José Mello, comandante do policiamento do interior da Polícia Militar, estiveram na região. A polícia diz que ficará na área até que a ordem seja restabelecida.
Os comandantes não informaram se pretendem solicitar à Justiça autorização para procurar armas de fogo na área invadida pelo MST e Via Campesina e disseram que não deve haver tentativa de desocupar a fazenda à força. "Não se trata dessa forma os movimentos sociais", disse o coronel Mello.
De acordo com o MST, Keno e outros dirigentes estavam sendo ameaçados de morte por ruralistas. Para os sem-terra, o ato foi praticado por uma milícia armada e a ação foi um "massacre".
Para o oficial da PM, houve abusos de ambos os lados e as pessoas que promoveram o conflito serão responsabilizadas. "Se alguém tinha a idéia de tratar os movimentos sociais na lei do 44 como se fazia antigamente, vai ter uma resposta."
O delegado Cartaxo de Moura criticou a tentativa de reintegrar a área feita pelos seguranças. "Reintegração de posse não se faz com arrebatamento, mas pelos meios judiciais", disse.
Apesar do intenso tiroteio, apenas uma arma de fogo foi apreendida -um revólver calibre 38 registrado em nome da NF Segurança, empresa contratada para fazer a vigilância. A arma foi entregue à polícia pelos sem-terra e teria sido tomada de um dos seguranças.
Sete vigilantes da NF Segurança estão presos por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões. Nove sem-terra que participaram do confronto foram ouvidos e liberados. A polícia diz que, no caso dos sem-terra, não houve flagrante porque eles se apresentaram voluntariamente.
Um vídeo entregue por sem-terra à Polícia Civil registra o momento da chegada de cerca de 25 seguranças da empresa NF na fazenda, segundo a Sesp.

Velórios
O corpo do sem-terra morto foi velado no acampamento 1º de Agosto, no complexo da fazenda Cajati, área invadida há oito anos e comprada há cerca de um mês pelo governo federal para fins de reforma agrária.
Antes do sepultamento, o corpo de Keno foi levado para a área da Syngenta, onde militantes de vários movimentos sociais prestaram homenagens. Keno era casado e pai de três filhos, todos menores.
No mesmo instante em que o líder sem-terra era homenageado, um pequeno grupo de 20 pessoas se despedia do segurança Fábio Ferreira, velado em um pequeno salão comunitário em Santa Tereza do Oeste. O segurança era casado e tinha uma filha de dois anos.


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