São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Para governador do Acre, haverá desencontro na "compreensão do país'; relatório pode desagradar ao governo, diz Palocci

"Lua-de-mel" FHC-PT deve acabar, diz Viana

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A relação do PT com o governo FHC vai piorar quando os relatórios do grupo de transição forem concluídos. A avaliação do governador do Acre, Jorge Viana (PT), é que haverá "desencontro". Ele falou sobre o assunto ontem em reunião com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para o governador, a fase atual é de "lua-de-mel", mas mudará. "Há uma tendência de essa lua-de-mel se manter na fase de transição, mas a situação deverá ficar bem diferente", disse. Segundo ele, a equipe de transição deverá divergir do governo na avaliação de como está recebendo o país.
Para Viana, está havendo uma "impressão equivocada de que houve um grande entendimento". Segundo ele "houve entendimento para a transição, mas não de compreensão sobre o país".
Viana explicou que o tema do "desencontro" iminente veio à tona após FHC ter dito que o Banco Mundial (Bird) apresentou relatórios com avanços do Brasil na área de educação.
Nesse momento, o governador do Acre teria mencionado que haverá desencontros quando os relatórios feitos pela equipe do PT ficarem prontos. Viana disse que tanto ele quanto o presidente acham normais os desencontros.
Viana disse que o desentendimento virá porque os números do governo tendem a ser diferentes dos do PT. "Quem está entregando vai dizer: "Olha, estou entregando aqui um presente", e quem recebe dirá: "Estou recebendo um problema'", disse o governador.

Palocci
Na condição de coordenador da equipe de transição do governo do PT, Antônio Palocci Filho afirmou ontem que irá entregar a Lula um relatório técnico, e não político, sobre a real situação do país, independentemente de o resultado agradar ao atual governo.
"O presidente Lula pediu um relatório que ajudasse o novo governo, então não posso fazer um relatório político ou tendencioso. Terá de ser um retrato muito verdadeiro daquilo que Lula irá encontrar. Se as eventuais análises desagradarem ao atual governo, não vou deixar de fazê-las", disse.
Além de ser o responsável pela coordenação da equipe de transição, Palocci foi o primeiro nome a ser convocado por Lula para compor o futuro ministério. Na última quarta-feira, ele deixou claro que prefere ser ministro do Planejamento, mas ainda é cotado para assumir a Fazenda.
Como coordenador da equipe, Palocci irá receber, na próxima semana, 26 relatórios setoriais, que são uma radiografia da máquina do governo, abordando a estrutura administrativa e orçamentária, finanças, pessoal, situações emergenciais e projetos em andamento, com recomendações do grupo técnico.
A apresentação do relatório preocupa a cúpula do PT: ao mesmo tempo que o partido quer deixar claro que está herdando uma administração com sérios problemas, o PT não quer criar uma situação embaraçosa para FHC.
Sem adiantar o diagnóstico do relatório, Palocci afirmou que espera contar com a compreensão de FHC e sua equipe. "Tenho certeza de que o atual governo irá entender que esse é um trabalho técnico necessário para o futuro governo. No relatório, não posso deixar de dizer ao presidente Lula tudo o que considerar importante para a sua administração."
Para Palocci, as relações de Lula com FHC são estabelecidas pelos dois presidentes, não pelo relatório. "Não pretendemos criar uma falsa polêmica. Queremos simplesmente que os documentos sejam verdadeiros e retratem a situação do país."
Os relatórios setoriais serão concluídos nesta semana. A partir deles, Palocci deverá condensar as informações em um único relatório. A previsão é que o presidente eleito receba o documento final em dez ou 15 dias.


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