São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VALERIODUTO TUCANO/REAÇÃO NO NINHO

Denúncia contra senador constrange e divide PSDB

Enquanto FHC pede punição, outros líderes da sigla defendem honestidade de senador

O atual presidente da sigla, Tasso Jereissati, tentou não tratar do assunto; grupo do governador Aécio buscava saída para abafar o caso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, de que o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) participou do chamado valerioduto tucano, gerou constrangimento e ofuscou o Congresso Nacional do PSDB, destinado a eleger a nova direção do partido, em Brasília.
Surpreendida, a cúpula da sigla se dividiu entre uma ala, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à frente, defendendo que o partido adote retaliação dura ao senador mineiro, e outra, capitaneada pelo governador Aécio Neves (MG) e parte da bancada de senadores, que buscava uma saída para abafar o caso.
"Temos que olhar as coisas como elas são. Quem tiver culpa no cartório, que pague. Minha posição é conhecida e não tenho inibição em dizer. É preciso que se apure e, sendo o caso, se puna", disse Fernando Henrique. "Se houver culpa, o que fazer? Assume-se a responsabilidade", completou.
Desde a campanha eleitoral do ano passado, FHC defendia internamente no partido que o caso Azeredo iria explodir.
Às vésperas da eleição, ele lançou uma carta à militância tucana na qual afirmava que o partido não podia "tapar o sol com a peneira".
Reservadamente, parte da cúpula do partido avaliava rifar Azeredo temendo que as denúncias respingassem em Aécio. O freio só ocorreu quando o senador tucano afirmou, em entrevista à Folha, que FHC também fora beneficiado dos recursos do "valerioduto" na campanha presidencial de 1998. A afirmação foi interpretada como um aviso de que o senador estava acuado e reagiria se fosse descartado. Desde então, a cúpula tucana não sabe como agir.

Azeredo faltou
Ontem, ao lado de Fernando Henrique ficou boa parte da bancada da Câmara e alguns senadores. "É um constrangimento, até porque eu, por exemplo, tenho adotado uma postura muito rigorosa com com tudo isso", disse o senador Álvaro Dias (PR).
Azeredo não apareceu ao congresso tucano. Segundo a Folha apurou, ele negociou sua presença com diversos líderes do partido mas, no meio da tarde, ouviu conselho de Aécio para que não fosse.
Futuro presidente do partido -será eleito hoje-, o senador Sérgio Guerra (PE) também avaliou que sua presença na mesa cerimonial, ao lado de governadores e do próprio Aécio, ampliaria o mal-estar.
"Na minha avaliação pessoal, tenho plena confiança de que o senador Azeredo saberá se defender adequadamente. É preciso que o partido e ele recebam isso com absoluta serenidade", disse Aécio. E terminou a fala constrangido: "Ele saberá superar". Na prática, a defesa de Azeredo foi tímida. O atual presidente da sigla, Tasso Jereissati (CE), esquivou-se o quanto pôde de tratar do assunto. "Assuntos do dia-a-dia a gente trata depois, no dia-a-dia."
Sérgio Guerra também fez uma defesa reticente. "Acredito na palavra do senador Azeredo. Há irregularidades nesse caso, é evidente. Mas é uma questão clara e o senador Azeredo foi levado a ter que se defender jurídico, concreta e absolutamente. Espero que tenha sucesso", afirmou.
O deputado Gustavo Fruet (PR) disse que é "pouco provável" que a denúncia contra Azeredo não seja acatada pelo Supremo Tribunal Federal. "Temos que enfrentar, é um fato que aconteceu", disse.
O governador de São Paulo, José Serra, afirmou que a denúncia "era algo aguardado". "O procurador está no direito dele de fazer isso. Ele não tem porque ficar preso a essa ou àquela data. Tenho para mim que o senador Azeredo é um homem íntegro e vai saber se defender dentro da legalidade", disse Serra.
"Não tenho dúvida de que não houve benefício de natureza pessoal e quanto às questões eleitorais ele vai prestar os esclarecimentos à sociedade", disse o ex-governador Geraldo Alckmin (SP). (SILVIO NAVARRO, ELIANE CANTANHÊDE, FELIPE SELIGMAN E MARIA LUIZA RABELLO)


Texto Anterior: Leia a íntegra da nota do senador Eduardo Azeredo
Próximo Texto: Azar: Em 2004, Waldomiro Diniz estragou o aniversário do PT
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.