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Alvo em 2005, Walfrido foi poupado por Lula
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O nome do ex-deputado federal Walfrido dos Mares Guia
(PTB-MG), que amanhã completará 65 anos de idade, aparece publicamente associado aos
esquemas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza desde junho de
2005, quando ainda era ministro do Turismo.
Apesar dos indícios coletados pela Polícia Federal à época
e dos achados da CPI dos Correios, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva -fiel à estratégia
de preservar os colaboradores
que são alvo de denúncias divulgadas pela imprensa- alçou
Mares Guia, em março passado,
à articulação política.
Os principais fatos que relacionam o ex-ministro ao valerioduto tucano e que estão narrados na denúncia apresentada
ontem pelo procurador geral da
República, Antonio Fernando
de Souza, são conhecidos há
mais de um ano e meio. Os R$
500 mil entregues a Valério por
Mares Guia, sob a alegação de
que assumia uma dívida do senador Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), foram revelados
pela revista "IstoÉ" em outubro de 2005, assim como o rascunho feito por Mares Guia que
tratava, segundo o Ministério
Público, de recursos do caixa
dois tucano.
No início da CPI dos Correios, em 2005, a quebra do sigilo bancário das empresas de
Valério revelara pagamentos a
parentes de Mares Guia. Ele
atribuiu os depósitos, que somavam R$ 100 mil em três
anos, à venda de roupas finas de
uma loja da família, a M. Guia.
Em julho de 2005, "O Globo"
publicou cópias de depósitos
bancários feitos pelas empresas de Valério a diversos políticos de Minas Gerais em 1998,
num esquema semelhante ao
mensalão petista. Depois foi revelado que a origem dos papéis
era o lobista Nilton Monteiro,
que trabalhara na campanha de
Azeredo. Ele também entregou
à imprensa e à Polícia Federal
uma lista com nomes de políticos que teriam sido beneficiados com um caixa dois estimado em R$ 91,5 milhões na derrotada campanha à reeleição de
Azeredo.
Nesse papel, a campanha de
Mares Guia, que em 1998 era
vice licenciado de Azeredo e
candidato a deputado federal,
aparecia como beneficiária de
R$ 24 milhões.
A lista era assinada pelo tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão. Ele negou a autorias da assinaturas e
o papel foi duramente atacado
pela cúpula do PSDB.
Mas um laudo do Instituto de
Criminalística da PF de Brasília, divulgado pela Folha no final de dezembro de 2005, eliminou as dúvidas. Segundo os
peritos, Mourão assinara os papéis. Os recibos e a lista dos beneficiários foram a base do inquérito da PF e da denúncia
apresentada ontem.
Apesar do desdobramento
das investigações e das revelações da imprensa, Mares Guias
manteve-se ministro. Esse engenheiro químico e administrador de empresas que a partir
dos anos 70 construiu uma fortuna com colégios particulares
(hoje são 595), foi figura de
proa do governo mineiro encerrado em 1998. Até aquele
ano acumulava o cargo de vice-governador com o de secretário
de Planejamento e de Coordenação-Geral do Estado.
No entanto, sempre negou
ter participado da chefia da
problemática campanha de
Azeredo em 1998. Admitia apenas ter coordenado a de 1994. A
versão começou a ruir a partir
do vazamento das conclusões
do inquérito da PF, há dois meses. Numa entrevista à Folha,
Azeredo contradisse Mares
Guia. Indagado se o vice tinha
participado da campanha, Azeredo usou o termo "ativamente". "Ele não foi coordenador, o
coordenador foi o ex-deputado
Carlos Eloy, mas é evidente que
o Walfrido participou da campanha ao meu lado ativamente.
(...) Participou da campanha
como um todo".
A fala de Azeredo encontra
paralelo nas declarações feitas
à PF por outro alto integrante
da campanha, Clésio Andrade,
ex-candidato a vice na chapa de
Azeredo. De acordo com a PF,
Clésio Andrade narrou que "o
núcleo de poder do Governo do
Estado de Minas Gerais em
1998 era formado pelo governador, pelo vice-governador Walfrido dos Mares Guia e pelos secretários de Estado Álvaro Azeredo, Cláudio Mourão e João
Heraldo, sendo este praticamente o mesmo núcleo político
da campanha. Clésio Andrade
afirmou que as estratégias
eram decididas por este núcleo,
não tendo qualquer participação na gestão financeira da disputa eleitoral de 1998".
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