São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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Alvo em 2005, Walfrido foi poupado por Lula

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O nome do ex-deputado federal Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG), que amanhã completará 65 anos de idade, aparece publicamente associado aos esquemas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza desde junho de 2005, quando ainda era ministro do Turismo.
Apesar dos indícios coletados pela Polícia Federal à época e dos achados da CPI dos Correios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -fiel à estratégia de preservar os colaboradores que são alvo de denúncias divulgadas pela imprensa- alçou Mares Guia, em março passado, à articulação política.
Os principais fatos que relacionam o ex-ministro ao valerioduto tucano e que estão narrados na denúncia apresentada ontem pelo procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, são conhecidos há mais de um ano e meio. Os R$ 500 mil entregues a Valério por Mares Guia, sob a alegação de que assumia uma dívida do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), foram revelados pela revista "IstoÉ" em outubro de 2005, assim como o rascunho feito por Mares Guia que tratava, segundo o Ministério Público, de recursos do caixa dois tucano.
No início da CPI dos Correios, em 2005, a quebra do sigilo bancário das empresas de Valério revelara pagamentos a parentes de Mares Guia. Ele atribuiu os depósitos, que somavam R$ 100 mil em três anos, à venda de roupas finas de uma loja da família, a M. Guia.
Em julho de 2005, "O Globo" publicou cópias de depósitos bancários feitos pelas empresas de Valério a diversos políticos de Minas Gerais em 1998, num esquema semelhante ao mensalão petista. Depois foi revelado que a origem dos papéis era o lobista Nilton Monteiro, que trabalhara na campanha de Azeredo. Ele também entregou à imprensa e à Polícia Federal uma lista com nomes de políticos que teriam sido beneficiados com um caixa dois estimado em R$ 91,5 milhões na derrotada campanha à reeleição de Azeredo.
Nesse papel, a campanha de Mares Guia, que em 1998 era vice licenciado de Azeredo e candidato a deputado federal, aparecia como beneficiária de R$ 24 milhões.
A lista era assinada pelo tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão. Ele negou a autorias da assinaturas e o papel foi duramente atacado pela cúpula do PSDB.
Mas um laudo do Instituto de Criminalística da PF de Brasília, divulgado pela Folha no final de dezembro de 2005, eliminou as dúvidas. Segundo os peritos, Mourão assinara os papéis. Os recibos e a lista dos beneficiários foram a base do inquérito da PF e da denúncia apresentada ontem.
Apesar do desdobramento das investigações e das revelações da imprensa, Mares Guias manteve-se ministro. Esse engenheiro químico e administrador de empresas que a partir dos anos 70 construiu uma fortuna com colégios particulares (hoje são 595), foi figura de proa do governo mineiro encerrado em 1998. Até aquele ano acumulava o cargo de vice-governador com o de secretário de Planejamento e de Coordenação-Geral do Estado.
No entanto, sempre negou ter participado da chefia da problemática campanha de Azeredo em 1998. Admitia apenas ter coordenado a de 1994. A versão começou a ruir a partir do vazamento das conclusões do inquérito da PF, há dois meses. Numa entrevista à Folha, Azeredo contradisse Mares Guia. Indagado se o vice tinha participado da campanha, Azeredo usou o termo "ativamente". "Ele não foi coordenador, o coordenador foi o ex-deputado Carlos Eloy, mas é evidente que o Walfrido participou da campanha ao meu lado ativamente. (...) Participou da campanha como um todo".
A fala de Azeredo encontra paralelo nas declarações feitas à PF por outro alto integrante da campanha, Clésio Andrade, ex-candidato a vice na chapa de Azeredo. De acordo com a PF, Clésio Andrade narrou que "o núcleo de poder do Governo do Estado de Minas Gerais em 1998 era formado pelo governador, pelo vice-governador Walfrido dos Mares Guia e pelos secretários de Estado Álvaro Azeredo, Cláudio Mourão e João Heraldo, sendo este praticamente o mesmo núcleo político da campanha. Clésio Andrade afirmou que as estratégias eram decididas por este núcleo, não tendo qualquer participação na gestão financeira da disputa eleitoral de 1998".


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