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Cunha Lima diz que cassação foi por governar Estado pobre
Governador da Paraíba afirma que ser tucano contribuiu para que fosse afastado
Tucano diz acreditar que a Constituição deve valer para os Estados governados pelo PMDB como para os Estados administrados pelo PSDB
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
O governador da Paraíba,
Cássio Cunha Lima (PSDB), 45,
que foi cassado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do
Estado e confirmado pelo TSE
(Tribunal Superior Eleitoral),
se diz "inconformado" com o
tratamento diferenciado dado
pela Justiça a diferentes Estados da Federação.
Ele se refere ao processo de
cassação do governador Luiz
Henrique (PMDB-SC), acusado de abuso de poder político,
que tramita no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
Segundo Cunha Lima, o vice
de Luiz Henrique foi considerado litisconsorte necessário
[pessoa que participa do processo e se defende obrigatoriamente], enquanto seu vice, que
também teve o mandato cassado, foi considerado litisconsorte assistente [consta da ação,
mas não pôde se defender].
"A Constituição Federal tem
que valer para todos os Estados. Não pode valer para um
Estado rico que é governado
pelo PMDB e não valer para um
Estado pobre que é governado
pelo PSDB."
Cunha Lima voltou a dizer
que vai recorrer da decisão e
que confia no STF (Supremo
Tribunal Federal) para se manter no cargo.
FOLHA - O que o sr. achou da decisão do TSE?
CÁSSIO CUNHA LIMA - Foi uma decisão equivocada e injusta. Eu
fui condenado pelo que não fiz.
Não fui cassado por compra de
votos, não fui cassado por improbidade administrativa, nem
por abuso de poder político e
econômico. Fui cassado por
uso promocional de dois programas de governo. Um deles, a
Ciranda de Serviços, simplesmente não ocorreu durante o
processo eleitoral. Não posso
usar promocionalmente o que
não existiu.
FOLHA - O sr. distribuiu cheques do
programa da FAC (Fundação de
Ação Comunitária)?
CUNHA LIMA - Eu nunca entreguei cheques. Nem na campanha nem fora dela. Não há nos
autos, nem uma fotografia, um
vídeo, um depoimento sequer
de alguém que tenha dito: "Recebi das mãos do governador o
cheque".
FOLHA - O programa tinha legislação específica e orçamentária?
CUNHA LIMA - Ele é baseado em
uma lei estadual de 2004. Possui previsão orçamentária e critérios. Portanto eu sou vítima
de um dos mais graves equívocos de decisão judiciária da história recente do Brasil.
FOLHA - Acredita que a mudança
de governador no meio de um mandato pode causar retrocesso ao Estado da Paraíba?
CUNHA LIMA - Seguramente causará. Faltam apenas dois anos.
Temos um IDH que supera o de
Pernambuco. Segundo o IBGE,
a Paraíba foi o Estado do Nordeste que mais diminuiu suas
desigualdades. A Paraíba cresceu 6,7% no PIB. Reduziu a
mortalidade infantil de 32 mortes por mil nascidas vivas para
20. Nossa expectativa de vida
cresceu em 20%. Maior índice
de redução de pobreza. É fruto
de todo esse conjunto de políticas públicas realizado pelos governos federal e estadual . Mudanças geram instabilidade e
atrapalham o crescimento.
FOLHA - O que pretende fazer antes de deixar o cargo?
CUNHA LIMA - Não penso nisso.
Nós vamos recorrer ao STF,
que é o guardião da nossa Constituição. Acreditamos que a
Constituição que vale para Santa Catarina vale para a Paraíba.
Em Santa Catarina, o vice foi
acolhido como litisconsorte
necessário; aqui, o vice-governador foi acolhido como assistente, o que é caracterizado como cerceamento de defesa.
Quero acreditar que a Constituição vale para Estados governados pelo PMDB como para
Estados governados pelo
PSDB.
FOLHA - Mesmo sendo o mais votado, o sr. pode perder o cargo por
uma questão jurídica, o que pensa
dessa questão?
CUNHA LIMA - A soberania do voto popular sofreu um duro golpe. A Paraíba escolheu livre, legal e democraticamente. É uma
sensação surrealista, porque eu
termino sempre condenado
por aquilo que não fiz.
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