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Pessimismo sobre
economia mundial
atrapalha o Brasil
DO ENVIADO A DAVOS
A expectativa dos especialistas a
respeito da economia mundial fica muito mais perto do pessimismo, o que é má notícia para o Brasil. Martin Wolf, principal colunista econômico do jornal britânico "Financial Times", por
exemplo, mostra otimismo sobre
a evolução da economia brasileira
(embora só a partir de 2004 ou
2005), mas ressalva: "É claro que
essa evolução favorável depende
da economia global, sobre a qual
pende uma série de ses".
O principal "se" é a perspectiva
de um ataque ao Iraque. Esse é o
"verdadeiro risco", aceito até por
Gail Fosler, economista-chefe da
"Conference Board", conglomerado de pesquisas sobre negócios
que reúne 3.000 corporações em
um total de 67 países.
Fosler foi a voz otimista no debate matinal em Davos a respeito
das perspectivas para a economia
global mediado por Martin Wolf.
"O verdadeiro risco é a possibilidade de guerra no Iraque e, em
consequência, de eventos que
criem um choque com visível impacto na confiança do consumidor", diz Fosler (sua entidade faz a pesquisa sobre confiança do
consumidor norte-americano).
Por "eventos", entenda-se novos atentados terroristas.
Mas Fosler minimiza o impacto
de outro "evento" ligado à guerra,
qual seja o aumento do preço do
petróleo. Primeiro, porque pesquisas feitas por sua entidade
mostram que os choques de preços de petróleo não têm impacto
imediato. "Seriam sentidos mais
em 2004 do que em 2003", diz.
Além disso, Fosler calcula que a
redução de impostos adotada por
Bush terá efeito até superior aos
custos decorrentes do aumento
de preços de produtos relacionados ao petróleo (que equivaleriam
a US$ 180 bilhões anuais).
O problema é que esse cálculo
vale exclusivamente para os Estados Unidos. Como era inevitável,
economistas da Alemanha e do
Japão foram pouco otimistas a
respeito de seus respectivos países, desalento estendido aos 12
países do euro pelo alemão Jurgen
von Hagen (Centro de Estudos
para a Integração Européia, da
Universidade de Bonn).
"A Europa é uma área de baixo
crescimento", diz von Hagen, que
situa em entre 1,8% e 1,9% o crescimento deste ano. No Japão, o
crescimento será ainda menor
(pouco superior a zero), mas Haruo Shimada, da Universidade
Keio, introduziu otimismo.
"Este será o ano crucial para as
reformas do primeiro-ministro
Juinichiro Koizumi", acha Shimada. Se elas de fato ocorrerem, em
dois ou três anos o Japão sairá do
coma em que está há 12 anos.
Mas a voz de alarme pertenceu
mais uma vez a Stephen Roach,
economista-chefe da Morgan Stanley, o primeiro a gritar que a economia dos Estados Unidos resvalava para a recessão, quando ainda o sentimento era de euforia
com o "boom" dos anos Clinton.
"A recuperação [da economia
dos EUA] é patética", disparou
Roach, em contraponto à afirmação de Gail Fosler, para quem a recuperação era "modesta" (ele
acha que os EUA crescerão 2,5% a
3%). O economista da Morgan
Stanley acha que a recuperação
nos Estados Unidos continuará
desapontando e, por extensão, o
crescimento mundial será fraco,
pela simples e boa razão de que "o
mundo hoje é muito mais americano-centrado do que nunca".
Deu números para calçar sua tese: nos últimos sete anos, 64% do
crescimento da economia mundial vieram dos EUA.
Roach apontou as dificuldades
para o Brasil desse cenário econômico: "Há poucos fatores domésticos para o crescimento. Logo, o
Brasil depende mais do comércio
do que seria o caso em outras circunstâncias" (como é óbvio, baixo crescimento nos países ricos
significa que importarão menos
de países como o Brasil).
(CLÓVIS ROSSI)
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