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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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Pessimismo sobre economia mundial atrapalha o Brasil

DO ENVIADO A DAVOS

A expectativa dos especialistas a respeito da economia mundial fica muito mais perto do pessimismo, o que é má notícia para o Brasil. Martin Wolf, principal colunista econômico do jornal britânico "Financial Times", por exemplo, mostra otimismo sobre a evolução da economia brasileira (embora só a partir de 2004 ou 2005), mas ressalva: "É claro que essa evolução favorável depende da economia global, sobre a qual pende uma série de ses".
O principal "se" é a perspectiva de um ataque ao Iraque. Esse é o "verdadeiro risco", aceito até por Gail Fosler, economista-chefe da "Conference Board", conglomerado de pesquisas sobre negócios que reúne 3.000 corporações em um total de 67 países.
Fosler foi a voz otimista no debate matinal em Davos a respeito das perspectivas para a economia global mediado por Martin Wolf.
"O verdadeiro risco é a possibilidade de guerra no Iraque e, em consequência, de eventos que criem um choque com visível impacto na confiança do consumidor", diz Fosler (sua entidade faz a pesquisa sobre confiança do consumidor norte-americano).
Por "eventos", entenda-se novos atentados terroristas.
Mas Fosler minimiza o impacto de outro "evento" ligado à guerra, qual seja o aumento do preço do petróleo. Primeiro, porque pesquisas feitas por sua entidade mostram que os choques de preços de petróleo não têm impacto imediato. "Seriam sentidos mais em 2004 do que em 2003", diz.
Além disso, Fosler calcula que a redução de impostos adotada por Bush terá efeito até superior aos custos decorrentes do aumento de preços de produtos relacionados ao petróleo (que equivaleriam a US$ 180 bilhões anuais).
O problema é que esse cálculo vale exclusivamente para os Estados Unidos. Como era inevitável, economistas da Alemanha e do Japão foram pouco otimistas a respeito de seus respectivos países, desalento estendido aos 12 países do euro pelo alemão Jurgen von Hagen (Centro de Estudos para a Integração Européia, da Universidade de Bonn).
"A Europa é uma área de baixo crescimento", diz von Hagen, que situa em entre 1,8% e 1,9% o crescimento deste ano. No Japão, o crescimento será ainda menor (pouco superior a zero), mas Haruo Shimada, da Universidade Keio, introduziu otimismo.
"Este será o ano crucial para as reformas do primeiro-ministro Juinichiro Koizumi", acha Shimada. Se elas de fato ocorrerem, em dois ou três anos o Japão sairá do coma em que está há 12 anos.
Mas a voz de alarme pertenceu mais uma vez a Stephen Roach, economista-chefe da Morgan Stanley, o primeiro a gritar que a economia dos Estados Unidos resvalava para a recessão, quando ainda o sentimento era de euforia com o "boom" dos anos Clinton.
"A recuperação [da economia dos EUA] é patética", disparou Roach, em contraponto à afirmação de Gail Fosler, para quem a recuperação era "modesta" (ele acha que os EUA crescerão 2,5% a 3%). O economista da Morgan Stanley acha que a recuperação nos Estados Unidos continuará desapontando e, por extensão, o crescimento mundial será fraco, pela simples e boa razão de que "o mundo hoje é muito mais americano-centrado do que nunca".
Deu números para calçar sua tese: nos últimos sete anos, 64% do crescimento da economia mundial vieram dos EUA.
Roach apontou as dificuldades para o Brasil desse cenário econômico: "Há poucos fatores domésticos para o crescimento. Logo, o Brasil depende mais do comércio do que seria o caso em outras circunstâncias" (como é óbvio, baixo crescimento nos países ricos significa que importarão menos de países como o Brasil).
(CLÓVIS ROSSI)


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