São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Presidente festeja entrada do PMDB; momento é "doloroso"

Lula surpreende, demite seis ministros e tenta corrigir rota

KENNEDY ALENCAR
WILSON SILVEIRA
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira reforma ministerial de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou ontem seis novos ministros, confirmou a demissão de outros seis e remanejou três a novas posições.
Além de integrar o PMDB ao governo em troca de apoio congressual, numa articulação que busca construir uma aliança com o PT para as eleições deste ano e de 2006, a reforma de Lula também tenta melhorar o desempenho gerencial do governo.
Ao dizer que passava por um "momento doloroso", Lula festejou a entrada do PMDB no governo. "O reencontro do PT com o PMDB é mais do que uma aliança política, é um reencontro", disse.
Os novos ministros são Amir Lando (Previdência), Aldo Rebelo (Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Eunício Oliveira (Comunicações) e Nilcéa Freire (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres).
Foram remanejados Jaques Wagner (do Trabalho para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), Tarso Genro (do Conselhão para a Educação) e Ricardo Berzoini (da Previdência para o Trabalho). Miro Teixeira (ex-Comunicações) é o novo líder do governo na Câmara, no lugar de Aldo. Ficaram sem cargo no governo, pelo menos agora, Benedita da Silva (Assistência Social), José Graziano (Combate à Fome), Emília Fernandes (secretaria das mulheres) e Cristovam Buarque -este, que está em Portugal, foi demitido ontem por telefone.
Lula deu posse ainda ontem aos novos ministros, em cerimônia realizada a partir das 17h20 no Palácio do Planalto. Todo o ministério foi convidado. Dos que ficaram sem cargo, Benedita foi a única a estar presente.
"O momento de uma reforma no governo é sempre um momento doloroso do ponto de vista político e do ponto de vista humano. Sobretudo pra mim, que aprendi a estabelecer uma relação de amizade muito forte com as pessoas com quem eu convivo. É sempre muito difícil, por qualquer que seja o motivo, você dizer a um timoneiro que ele não está mais na direção do seu barco", disse o presidente.
"De qualquer forma, quando fui eleito presidente da República de um país do tamanho do Brasil, a gente não pode permitir que a relação de amizade seja a sua prática política apenas para manter um governo. Todos sabem que o papel de um chefe de Estado é fazer coisas boas e muitas vezes coisas ruins", acrescentou Lula, que nos últimos dias vem confidenciando a amigos a dificuldade de demitir velhos companheiros.
Explicou a demissão de Cristovam. "Eu pretendia conversar com ele na vinda. Como alguém da imprensa soube e houve divulgação exagerada, liguei para o Cristovam não só pela amizade que eu tenho com ele, mas porque não poderia fazer uma viagem para a Índia e ter que a cada minuto responder a uma pergunta se iria ou não trocar o ministro da Educação." A troca por Tarso foi antecipada ontem pela Folha.
Para tentar dar maior fluidez à administração, Lula tirou as atribuições políticas do ministro José Dirceu (Casa Civil) para que ele vire um "gerentão da máquina". E nomeou para a área social petistas com experiências administrativas tidas como exitosas -os ex-prefeitos Tarso (Porto Alegre) e Patrus (Belo Horizonte).
Ao mexer nos superpoderes de Dirceu, que tem ordem para intervir mais diretamente em ministérios com falhas administrativas, levará à Casa Civil atribuições gerenciais que estão hoje no Planejamento, de Guido Mantega. A fusão da área social (Assistência Social e Segurança Alimentar) obedece ao princípio de busca de melhor performance gerencial.
As negociações arrastadas para integrar o PMDB e o estilo centralizador de tomada de decisões de Lula marcaram essa reforma, que dominou com força a pauta política do país, paralisando na prática a máquina pública em janeiro.
Sintomaticamente, o último nome a ser definido foi o de Lando. Outra definição de última hora foi Nilcéa Freire, ex-reitora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Apesar de manter 35 ministros, Lula reduziu levemente a presença petista no primeiro escalão -oscilou de 21 para 19. Demitiu quatro petistas, mas convocou dois novos membros do PT.
Os aliados aumentaram de seis para nove. O PC do B, com dez deputados e sem senador, terá duas pastas, igual ao PMDB (78 deputados e 22 senadores). PPS, PSB, PTB, PL e PV continuam com um ministério cada um.


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