São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES

Segundo relatório, Pedro Corrêa "ofendeu a honradez que deve nortear relações político-partidárias'; pedido de vista atrasará votação no conselho

Parecer pede cassação de presidente do PP

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O parecer do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), lido ontem no Conselho de Ética, recomendou a cassação do mandato do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), por ter "ofendido a honradez que deve nortear as relações político-partidárias", no escândalo do "mensalão".
Como Sampaio está viajando, o relatório foi lido por Gustavo Fruet (PSDB-PR). O deputado Benedito de Lira (PP-AL) pediu vista do parecer, o que retardará sua votação no conselho em duas sessões do plenário -deve ocorrer na próxima semana.
Corrêa é acusado de ser destinatário de R$ 4,1 milhões do esquema de Marcos Valério de Souza. O pepista diz que recebeu R$ 700 mil, doados pelo PT, usados para pagar o advogado Paulo Goyaz, que defende o ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC) em processos por compra de votos.
No parecer, Sampaio responsabiliza Corrêa pela "omissão" do registro do dinheiro na Justiça Eleitoral e na contabilidade interna do partido, além de ter autorizado o então assessor da liderança do PP, João Cláudio Genu, a sacá-los das contas de Valério. O relator também vincula aos repasses a adesão do PP à base governista.
Corrêa acompanhou a leitura do parecer pela TV, trancado em uma sala reservada do conselho. No final da sessão, disse que só se pronunciará após a votação e que "o futuro a Deus pertence". "O próprio relator disse que não peguei dinheiro de ninguém, é uma coisa boa", afirmou.
A sessão de ontem foi marcada pela performance teatral do advogado Eduardo Ferrão, que defende o presidente do PP. Em pé e com o microfone em punho, leu trechos de poesias, disse estar em "ambiente de deboche e ironia" e criticou a Câmara por ser "pautada pela mídia". "A coragem implica em resistência e esta Casa está sendo paulatinamente acuada pelo poder devastador da mídia", disse o advogado. Pediu "coragem" aos membros do conselho para absolver o presidente do PP.
O caso de Corrêa passa a ser o terceiro na fila de processos em fase de conclusão. Nesta semana, serão analisados os relatórios de Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), ambos pela cassação. A avaliação do conselho é que o caso de Brant terá votação apertada. O PFL afirma ter assegurados ao menos seis dos 14 votos do conselho, um deles do PT, para derrubar o relatório.
Licenciado da Câmara para tratar de um problema cardíaco, José Janene (PP-PR) enviou na sexta-feira, quando expiraria o prazo, sua defesa por escrito ao conselho. O processo, relatado por Ângela Guadagnin (PT-SP), é considerado o mais atrasado dos dez em andamento. O caso de Wanderval Santos (PL-SP) já seguiu para a Mesa Diretora.
Janene detalhou o problema de saúde e pediu que o processo seja suspenso até que retorne à Câmara. O pepista arrolou uma lista com dez testemunhas para depor em seu favor, entre eles o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP), o deputado cassado José Dirceu (PT-SP) e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.


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