São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2002

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Na TV, tucano diz que crê em Deus

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após deixar o Ministério da Saúde, o presidenciável do PSDB, José Serra, disse que o governo falhou na condução da política energética do país.
A afirmação foi feita na última sexta-feira, durante a gravação de uma entrevista ao jornalista Boris Casoy, no programa "Passando a Limpo", da Rede Record, que deve ir ao ar hoje às 22h30.
"Falhou. Demorou para definir modelo", disse o tucano. "[O governo] acertou na telecomunicação, mas não fez na área de energia elétrica, que é mais complicada e depende de muita coisa", disse. "O mérito foi corrigir e enfrentar com coragem os problemas."
Serra reclamou, no intervalo comercial, das perguntas feitas por Casoy a respeito da dengue. E respondeu um pouco afoito à pergunta sobre sua crença em Deus. "O sr. acredita em Deus?", perguntou Casoy. "Acredito", respondeu imediatamente o ministro, quase atropelando a pergunta do jornalista.
"O sr. foi rápido. Só faltou tirar o terço do bolso", brincou Casoy.
Serra já estava preparado. Em 1985, o então candidato à Prefeitura de São Paulo Fernando Henrique Cardoso esquivou-se da mesma pergunta, feita pelo jornalista. Os adversários, principalmente Jânio Quadros, divulgaram então que FHC era ateu.
Serra disse também que não pretende ceder a cabeça de chapa ao candidato da base governista mais bem situado nas pesquisas -leia-se governadora Roseana Sarney (PFL-MA)- como reivindicam pefelistas. Serra tem 10% e Roseana, 23% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
"Sou a favor da aliança, mas no meu caso vamos até o fim", disse o tucano, que criticou o que chamou de terceirização de idéias.
Serra aposta em sua experiência como homem público e em seu conhecimento técnico como trunfos eleitorais. Ele quer contrapor-se ao que adversários de Roseana chamam de "falta de conteúdo" da pré-candidata.
Ao falar a crise da Argentina, por exemplo, Serra disse que o governo do ex-presidente Fernando De la Rúa, eleito por uma coalizão de centro-esquerda, "naufragou" devido à "inépcia, que "existe tanto na direita quanto na esquerda".
"A Argentina naufragou com governo conservador. O Brasil tem de tomar cuidado para não mergulhar na inépcia", afirmou, nua alusão indireta a Roseana.
Antes de entrar no estúdio, o presidenciável encontrou-se nos bastidores com o presidente nacional do PT, José Dirceu, que também foi entrevistado. "Ministro, acho que o deputado Dirceu está com dengue. Ele está se sentindo meio mole", disse o jornalista. Constrangido, o petista desconversou e disse que estava viajando muito.
Durante a entrevista, uma mosca pousou na cabeça de Serra. "Mosca azul quando pousa na gente é que vamos ganhar a eleição", disfarçou. Casoy respondeu: "Quem é picado pela mosca azul é que quer ganhar a eleição."
O tucano manteve o bordão da "continuidade sem continuísmo". Enalteceu pontos da política econômica de Pedro Malan (Fazenda), como a estabilidade, mas disse que mais coisas poderiam ter sido feitas, citando especificamente a questão do desemprego.


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