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União Brasil-França incita corrida militar entre nações
EUA e Alemanha também querem o mercado de armamento; alemães reagem com carta; americanos enviam Condoleezza Rice
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O anúncio de "aliança estratégica" entre Brasil e França,
que pode significar bilhões de
euros em compras e em construção de fábricas na área da
defesa, acendeu o sinal de alerta e abriu uma corrida dos EUA
e da Alemanha para disputar
espaço com os franceses e não
perder o mercado mais promissor da América Latina.
Os alemães reagem e até enviaram carta ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (leia texto
nesta página), exigindo o fechamento de um pacote de 1,018
bilhão (cerca de US$ 1,5 bilhão)
para reforma dos atuais submarinos e venda de dois novos
para a Marinha brasileira.
Os americanos também não
perderam tempo. Washington
deve enviar a secretária de Estado, Condoleezza Rice, para
um almoço com o presidente
Lula em Brasília no início de
março e convidou o ministro
da Defesa, Nelson Jobim, para
ir a Washington entre os dias
18 e 22 do mesmo mês.
O ministro acaba de voltar da
França, onde conversou sobre
indústria de armamento e de
equipamentos militares com a
cúpula do governo, inclusive o
presidente Nicolas Sarkozy, e
visitou estaleiros e fábricas de
submarinos e de caças supersônicos, todos eles com participação de capital estatal. Na seqüência, ele foi à Rússia.
Nos EUA, Jobim vai antes de
mais nada tentar melhorar o
diálogo na área da defesa, questionando a rigidez do país em
não transferir tecnologia. Na
Alemanha, quando e se for, vai
cuidar especificamente do pacote de submarinos.
Veto dos EUA
Em recente visita ao embaixador dos EUA em Brasília,
Clifford Sobel, Jobim reclamou
do veto norte-americano à venda de aviões Super Tucano da
Embraer para a Venezuela, sob
alegação de segurança -o modelo contém peças e componentes americanos.
A decisão causou pesados
prejuízos à Embraer e feriu os
interesses brasileiros, deixando marcas no Planalto, na Defesa e no Itamaraty, que agora os
EUA pretendem minimizar.
Segundo dados de 2006 do
governo norte-americano, só
1% das licenças para vendas comerciais de produtos, serviços
e dados técnicos de produtos
militares foram rejeitados. Do
restante, 15% não foram aprovados, a grande maioria sob alegações burocráticas, como falta
de documentação adequada.
Por esses dados, o Departamento de Estado dos EUA
aprovou mais de 41 mil itens
nessa área, num valor aproximado de US$ 19,8 bilhões. O comércio com o Brasil nessa área,
na expectativa americana, tem
muito a crescer.
O problema, como Jobim
tem dito insistentemente, é
que o Brasil não quer se limitar
ao papel de "comprador", mas
sim fazer parcerias para ter
condições de produzir dentro
do próprio país. O Brasil alega
que a França oferece essa chance, e os EUA, não.
Tanto americanos quanto
alemães rebatem esse argumento dizendo que a liberalidade da França não passa de
"balela", como ouviu a Folha
de representantes dos interesses desses dois países.
Em Washington, o ministro
visitará o secretário de Defesa,
Robert Gates, que fez o convite
para a viagem, e o Centro de
Comando Estratégico, na base
aeronaval de Norfolk, a maior
da Costa Leste. E poderá conhecer o sistema de controle
de tráfego aéreo e a sede da
FAA, a agência reguladora norte-americana para aviação.
Projetos
O Brasil planeja implantar
um satélite de monitoramento
do espaço aéreo e territorial e
analisa ofertas da Thales, francesa, e da Raytheon, americana.
O projeto tem a sigla SGB (Satélite Geoestacionário Brasileiro) e foi idealizado para atuar
em três frentes, inclusive na
banda X, de comunicação militar e de defesa estratégica.
Outros projetos são o submarino de propulsão nuclear, a renovação da frota de caças, a
compra de helicópteros de ataque e a construção de uma fábrica de helicópteros de carga
para as três Forças Armadas.
Jobim deixa claro que a preferência brasileira conflui para
a França, mas ainda há muita
negociação pela frente.
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