São Paulo, Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONAGENS Paramoti tem 70,48% dos seus habitantes na faixa de indigência Agricultora do MA diz que cesta é a "alma" de sua família
PAULO MOTA da Agência Folha, em Paramoti A agricultora Terezinha Vieira Soares, 24, desesperou-se ontem ao ser informada pela Agência Folha de que a União cortou os recursos para a distribuição de cestas básicas pela metade. "Se cortarem minha cesta, nós vamos morrer de fome. A cesta é a alma da minha família", disse, abraçando a filha Vanessa, 1. A família de Terezinha é uma das 1.777 que recebem cestas básicas do programa Comunidade Solidária em Paramoti (92 km a sudoeste de Fortaleza). Localizado no sertão central cearense, Paramoti tem 70,48% dos seus habitantes situados na faixa de indigência, segundo o Comunidade Solidária. Sozinha há dois anos, Terezinha é uma das mulheres conhecidas como "viúvas de marido vivo" que habita o sertão nordestino. São mulheres cujos maridos migraram em busca de dias melhores, mas que nunca mais voltaram. Semi-analfabeta, Terezinha está desempregada e não tem renda fixa. Quando aparece trabalho, ela consegue faturar até R$ 30 mensais bordando roupas. O aluguel do casebre em que vive consome R$ 15. Terezinha tem uma explicação pragmática para a não aceitação de seu nome entre os 1.025 alistados nas frentes produtivas, criadas pela União nas áreas atingidas pela seca, que também serão cortadas. Cada trabalhador recebe R$ 90/mês. "Não tenho registro de nascimento e nunca consegui tirar título eleitoral. Então, eu não existo." A cesta básica do Comunidade Solidária é distribuída uma vez por mês, tem 25 quilos, mas acaba antes de completar os 30 dias. Terezinha diz que a ajuda de vizinhos e do pai, alistado nas frentes produtivas, é o que livra sua família da abstinência total. O fato dos dois filhos mais velhos estarem matriculados na escola, onde é servida a merenda escolar, melhora a divisão do alimento servido na casa. Parte das 6.420 famílias de 11 cidades do Vale do Paraíba que integram o Comunidade Solidária pode ser afetada pelo corte das cestas básicas. As administrações municipais afirmam que não teriam condições de assumir as famílias. Colaborou a Folha Vale Texto Anterior: Comunidade tenta manter atendimento Próximo Texto: Janio de Freitas: ACM relido Índice |
|