São Paulo, Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 1999
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PERNAMBUCO
Fraude causou prejuízo ao Banco do Brasil de cerca de R$ 27 mi
Após 18 anos, "escândalo da mandioca" vai a julgamento

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife


A Justiça Federal começa a julgar hoje em Recife, quase 18 anos após o início das investigações, os acusados de uma das maiores fraudes já investigadas contra a União: o chamado "escândalo da mandioca".
O esquema consistia no desvio de empréstimos concedidos pela agência do Banco do Brasil em Floresta (PE) para o cultivo de mandioca, feijão, cebola, melão e melancia. O dinheiro era usado para outros fins pelos envolvidos no esquema (leia quadro ao lado).
Por meio de laudos falsos que atestavam a perda da safra devido à seca, os supostos produtores ainda eram indenizados pelo Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária).
O Ministério Público Federal aponta o então gerente do BB de Floresta, Edmilson Soares Lins, como o responsável pela articulação do esquema. Ele teria viabilizado as operações a partir da transferência de funcionários do BB de sua confiança para a agência da cidade. Segundo a denúncia, os acusados elaboravam projetos frios sobre imóveis que não existiam. Com isso, atestavam a regularidade na aplicação dos créditos.

155 apartamentos
Segundo a denúncia, as fraudes, cometidas entre julho de 79 e março de 81, causaram um prejuízo à União de Cr$ 1,084 bilhão, ou US$ 13,7 milhões (R$ 26,7 milhões, com o dólar a R$ 1,95).
Com Cr$ 1,084 bilhão era possível comprar, na época, cerca de 155 apartamentos de 300 m2, com quatro quartos, em Perdizes (bairro de classe média alta de São Paulo).
Dos 26 acusados, 24 serão julgados por suposta apropriação de dinheiro público, falsidade ideológica e uso de documentos falsos. Se condenados, poderão permanecer presos por até 22 anos.
Os outros dois envolvidos no caso, Irineu Gregório Ferraz e Emídio Quirino de Sá, já morreram e seus processos foram arquivados.
Entre os que serão julgados estão o ex-deputado estadual Vital Cavalcanti Novaes, o então gerente da agência do BB de Floresta, Edmilson Soares Lins, além de fazendeiros e um advogado.
Também será julgado hoje o ex-major da PM José Ferreira dos Anjos, o ""Major Ferreira", o único entre os 26 acusados a ser preso.
Anjos foi condenado a 31 anos de prisão não pelas fraudes, mas pela morte do procurador federal Pedro Jorge de Melo e Silva.
O procurador, que na época investigava o escândalo, foi assassinado no dia 3 de março de 1982, em Olinda. Major Ferreira chegou a ser detido, acusado de ser o mandante do crime, mas fugiu. Permaneceu foragido 12 anos e dois meses até ser descoberto em uma fazenda em Barreiros (BA), em 96.
O julgamento está previsto para começar às 13h. Será o maior da história do TRF (Tribunal Regional Federal) da 5ª região. As sentenças, prevê a Justiça, só deverão ser conhecidas na próxima sexta.
Segundo a assessoria jurídica da vice-presidência do TRF, a demora para julgar os réus ocorreu ""por uma série de fatores", como a dúvida sobre a competência do foro -se ocorreria na primeira ou segunda instância da Justiça Federal.


Colaborou Fabiana Pereira, da Agência Folha


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