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MÃOS SUJAS
Francesca afirma desconhecer existência da N'drangheta e culpa polícia pela morte do irmão Domenico
Filha de Morabito nega acusações ao pai
dos enviados especiais a Locri
Francesca Morabito não considera seu pai
um mafioso,
apesar de ele ser
tido pela polícia
italiana como o
``capo'' da
N'drangheta, acusado de vários
crimes e foragido desde 1989.
``Quando os juízes e a imprensa
falam de meu pai, é como se fosse
uma outra pessoa. Meu pai não é o
que dizem eles, não é um velhaco'',
afirmou à Folha.
Ela também nega a existência da
máfia. ``Para que deve existir essa
máfia? A Calábria é uma região pobre. O Norte da Itália é rico. A que
teria servido essa máfia todos esses
anos? Onde está esta riqueza, os bilhões, que o Estado atribui à máfia? O Estado procura esses bilhões
e não os encontra. Essa máfia não
nos faz mais felizes nem mais ricos. Para que, então?''
Francesca ainda está chocada
com a morte de seu irmão Domenico, numa blitz policial na rua.
Ela acusa os agentes de terem atirado a sangue frio, com o irmão já
algemado. A polícia está investigando.
Esconderijo na região
``Eu não me importo mais quando falam de meu pai, mas quando
matam um irmão, não é aceitável.
Meu irmão não era foragido. Tinha sido processado e condenado
a quatro anos por um crime que
não cometeu. E que não daria seis
meses de prisão no Norte. Meu irmão foi condenado à morte por ser
filho de Giuseppe Morabito.''
A polícia italiana desconfia que
Morabito, como a maior parte dos
acusados de crimes mafiosos, esteja escondido na região.
Para evitar delatar a presença do
pai, Francesca afirma que evita
procurá-lo.
``Não o vejo há mais de seis anos.
E não quero vê-lo, pois seria perigoso para ele. Só espero que ele esteja bem. Não quero nem saber
onde está. Basta que não esteja na
cadeia, pois ficaria o resto da vida
preso.''
Além do pai, o que mais a preocupa são seus filhos, marcados pelo estigma da máfia.
``Procurei educá-los da melhor
maneira possível, mas que tipo de
futuro os espera? Para meus filhos
não há futuro. Não porque vivam
no ilícito, mas porque vivem no lícito'', afirmou.
``Tememos também pelos nossos netos, bisnetos, as futuras gerações da família. Esse estigma não
desgruda nunca'', completou seu
marido, Rocco Carrozza.
Segundo eles, a família já cogitou
deixar a Itália. ``Mas por que tenho de ir? O que eu fiz? Pensei nos
meus filhos, mas nós queremos estar na nossa terra. Temos uma relação de ódio e amor com a Calábria. Odiar, eu a odeio, especialmente depois do assassinato de
meu irmão'', disse Francesca.
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