São Paulo, domingo, 24 de março de 2002 |
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QUESTÃO AGRÁRIA É a 1ª vez que ativistas sem terra tomam a propriedade MST invade a fazenda da família de FHC em Minas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram na manhã de ontem a fazenda Córrego da Ponte, antiga propriedade do presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje em nome de seus filhos, localizada em Buritis (MG). O governo classificou a ação de "terrorista". Foi a primeira vez que a propriedade foi invadida. A tomada ocorreu por volta das 7h30, segundo o Planalto, e às 8h30, de acordo com o MST. À tarde, enquanto a Justiça dava uma ordem de manutenção de posse à família de FHC, dois aviões da Força Aérea Brasileira sobrevoavam a fazenda. As entradas da propriedade foram fechadas por 40 agentes da Polícia Federal. Outros 40 deslocavam-se para a região ontem à noite. Uma companhia de fuzileiros do Exército, com 220 homens, foi enviada a Buritis. O efetivo do governo na área é de 300 homens. "Temos um problema sério, grave, como nunca houve na história do país. A residência do delegado da nação foi invadida. Ali estão objetos do presidente. Ali é o domicílio eleitoral, [onde" estão seus livros", disse o general Alberto Cardoso, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, após uma série de reuniões no Palácio do Planalto. "Democracia é lei, é o império da lei e a lei tem de ser cumprida", acrescentou. "Não vamos sair para negociar. Estamos armados com foices e paus", disse Clédson Mendes, integrante da coordenação nacional do MST. Os invasores ameaçaram atear fogo à fazenda, caso tropas do Exército entrem na fazenda. O governo primeiro tenta negociar a saída dos invasores. O general Cardoso disse que "a polícia não pode entrar numa aventura", descartando uma ação precipitada. Facilidade A facilidade com que os sem-terra ocuparam a fazenda Córrego da Ponte deixou surpresos os próprios líderes do movimento. "Nós chegamos aqui, e o portão estava aberto à nossa espera", disse um dos coordenadores do acampamento de Buritis do MST, Gilberto Júnior. O administrador da fazenda, Wander Gontijo, disse que os sem-terra quebraram os cadeados do portão principal e ocuparam sua casa e a casa de três quartos e uma suíte na qual FHC costuma ficar hospedado. Os sem-terra chegaram em cinco ônibus. Segundo a direção do movimento, cerca de 700 pessoas invadiram a fazenda. Um grupo do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) enviado à região para negociar com o MST calcula que eles não passam de 100. O administrador Gontijo diz que são 200. Todos afirmam que há mulheres e crianças entre os invasores. Os invasores entraram na Córrego da Ponte por volta das 7h30, segundo o general Cardoso. Por volta das 12h, fizeram uma reunião na mesa de trabalho de FHC. Segundo Cardoso, há objetos de uso pessoal do presidente na casa, que o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, denominou de "santuário". A fazenda não dispõe de segurança do governo permanente. Os sem-terra estavam acampados desde o dia 21 em um galpão em Buritis -que fica a 60 km da fazenda- e tinham uma reunião marcada para hoje com o Incra. A Polícia Militar de Minas não incomodou os manifestantes. Segundo o secretário de Governo, Henrique Hargreaves, a segurança da fazenda é um problema do Exército desde que ela foi considerada um "símbolo nacional". "Os PMs dormiam e nós viemos", relatou outro invasor, que se identificou por "Bigode". A decisão de invadir, segundo os dirigentes do movimento, foi tomada em uma assembléia realizada na noite de sexta-feira em Buritis. Dia nervoso A invasão da fazenda dos filhos de FHC causou nervosismo no governo. Apanhado de surpresa, o ministro Jungmann, que estava em Recife, teve de voltar às pressas para Brasília. Uma espécie de gabinete de crise passou a funcionar no Gabinete de Segurança Institucional, presidido pelo general Cardoso, que foi e voltou várias vezes ao Palácio da Alvorada se encontrar com FHC, que preferiu não comentar a ação. A primeira providência do governo foi enviar policiais federais e uma equipe de três técnicos do Incra para a fazenda a fim de negociar a retirada dos invasores. O MST descartou a intermediação, dizendo que só aceitava falar com o presidente da República. Texto Anterior: No Planalto: Contas de Ricardo "R$ 4,5 milhões" Sérgio já estão ao relento Próximo Texto: Aloysio culpa PT, que nega envolvimento Índice |
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