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NO AR
Curiosidade pública
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
As imagens eram quase
tão ruins, tecnicamente,
quanto aquelas dos videofones.
Mas a dramaticidade era maior
do que qualquer disparada de
tanques no deserto.
O que a Al Jazeera pôs no ar
justifica inteiramente a reação
mortificada do secretário da
Defesa, Donald Rumsfeld, em
entrevista à CNN.
Os americanos capturados,
entre eles uma mulher, todos
machucados, transpareciam
pavor diante das perguntas de
um homem com o microfone da
TV iraquiana. Na sequência, as
cenas dos corpos desfigurados
dos americanos mortos eram
ainda mais chocantes.
Rumsfeld criticou a Al Jazeera
e fez o que soou como um aviso
às TVs americanas. Ao menos
foi o que algumas entenderam
-e logo cumpriram.
Mas a CNN continuou com as
cenas. Só achou necessário se
justificar, toda vez:
- Nós estamos mostrando
porque é notícia. Para darmos
uma visão total do conflito, nós
acreditamos que estas imagens
devem ser mostradas.
Rumsfeld, na entrevista, falou
em desrespeito à Convenção de
Genebra, que "determina que é
ilegal que prisioneiros de guerra
sejam mostrados". O problema
foi sua frase seguinte:
- Isso é algo que os Estados
Unidos não fazem.
Quem assistiu TV nos últimos
dias cansou de ver prisioneiros
de guerra iraquianos, alguns em
imagens obtidas com o apoio do
próprio Pentágono.
Iraquianos, americanos, Al
Jazeera, CNN: ninguém, ao que
parece, respeita a Convenção de
Genebra. Segundo a BBC, o art.
13 determina que prisioneiros
sejam protegidos contra toda
"curiosidade pública".
Mas a curiosidade pública é o
que define esta guerra.
No dizer da BBC, foi "o dia
mais difícil" para a coalizão.
Culminou com as imagens na
TV, mas houve mais -e sempre
de "fogo amigo".
Um jato britânico foi atingido
por um míssil americano. Dois
tripulantes morreram.
No Kuait, um ataque matou
um soldado americano. Um
"ato terrorista", anunciou a Fox
News. Falou-se em Al Qaeda,
mas amanheceu e o culpado era
outro americano.
Por fim, o canal britânico ITV
confirmou que um enviado seu
estava morto -de acordo com
um membro da equipe, atingido
por balas britânicas.
A Al Jazeera quer mostrar o
horror da guerra para todos os
lados. No sábado, apresentou a
imagem de um corpo de criança
-sem a parte de trás da cabeça.
Era uma vítima do bombardeio
da cidade de Basra.
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