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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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NO AR

Curiosidade pública

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

As imagens eram quase tão ruins, tecnicamente, quanto aquelas dos videofones. Mas a dramaticidade era maior do que qualquer disparada de tanques no deserto.
O que a Al Jazeera pôs no ar justifica inteiramente a reação mortificada do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, em entrevista à CNN.
Os americanos capturados, entre eles uma mulher, todos machucados, transpareciam pavor diante das perguntas de um homem com o microfone da TV iraquiana. Na sequência, as cenas dos corpos desfigurados dos americanos mortos eram ainda mais chocantes.
Rumsfeld criticou a Al Jazeera e fez o que soou como um aviso às TVs americanas. Ao menos foi o que algumas entenderam -e logo cumpriram.
Mas a CNN continuou com as cenas. Só achou necessário se justificar, toda vez:
- Nós estamos mostrando porque é notícia. Para darmos uma visão total do conflito, nós acreditamos que estas imagens devem ser mostradas.
Rumsfeld, na entrevista, falou em desrespeito à Convenção de Genebra, que "determina que é ilegal que prisioneiros de guerra sejam mostrados". O problema foi sua frase seguinte:
- Isso é algo que os Estados Unidos não fazem.
Quem assistiu TV nos últimos dias cansou de ver prisioneiros de guerra iraquianos, alguns em imagens obtidas com o apoio do próprio Pentágono.
Iraquianos, americanos, Al Jazeera, CNN: ninguém, ao que parece, respeita a Convenção de Genebra. Segundo a BBC, o art. 13 determina que prisioneiros sejam protegidos contra toda "curiosidade pública".
Mas a curiosidade pública é o que define esta guerra.
 
No dizer da BBC, foi "o dia mais difícil" para a coalizão. Culminou com as imagens na TV, mas houve mais -e sempre de "fogo amigo".
Um jato britânico foi atingido por um míssil americano. Dois tripulantes morreram.
No Kuait, um ataque matou um soldado americano. Um "ato terrorista", anunciou a Fox News. Falou-se em Al Qaeda, mas amanheceu e o culpado era outro americano.
Por fim, o canal britânico ITV confirmou que um enviado seu estava morto -de acordo com um membro da equipe, atingido por balas britânicas.
 
A Al Jazeera quer mostrar o horror da guerra para todos os lados. No sábado, apresentou a imagem de um corpo de criança -sem a parte de trás da cabeça. Era uma vítima do bombardeio da cidade de Basra.


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