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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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AMAZÔNIA

Repasse de informações ao país vizinho depende de assinatura de acordo; dados podem ajudar no combate ao narcotráfico

Radar do Sivam pode vigiar a Colômbia

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Sem sair da linha de fronteira brasileira, o radar de longo alcance fixado na aeronave de vigilância R-99A do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) já detecta o movimento de aviões a uma distância de cerca de 200 km dentro do território colombiano.
Os dados do R-99A, que podem ser usados para combater o narcotráfico e até a movimentação dos grupos guerrilheiros, só poderão ser repassados ao governo do país vizinho se o Brasil e a Colômbia levarem adiante a proposta de um acordo de cooperação, como pleiteou o presidente colombiano Álvaro Uribe em sua visita oficial ao país, em 7 de março.
A minuta do acordo está sendo elaborada pelo Ministério da Defesa e o Itamaraty. Mas, em razão do conflito no Iraque, não há, no momento, uma posição definida sobre os critérios de repasse das informações à Colômbia. Os dois órgãos estão envolvidos na operação de emergência para retirar os brasileiros que moram no Iraque.
Para a PF, os dados da Colômbia coletados pelo Sivam não são de interesse de suas ações no combate ao narcotráfico no Brasil. "Esses dados são coletados e são compartimentados [repassados a órgãos do governo], mas não nos interessa a movimentação no país vizinho. Essa movimentação serviria para a Colômbia atuar lá dentro", disse o delegado Mauro Spósito, que há três anos coordena a Operação Cobra (junção do início das palavras Colômbia e Brasil) na fronteira.
A R-99A é operada pelo CVA (Centro de Vigilância Aérea). As informações coletadas por ela são repassadas ao setor reservado de Vigilância Territorial do CRV (Centro Regional de Vigilância), visitado pela Agência Folha.
Operam essas informações agentes da Polícia Federal e oficiais da Aeronáutica e do Exército. No setor, os dados do radar são utilizados para identificar pistas clandestinas usadas pelos narcotraficantes, extração ilegal de madeira e minérios, comunicação clandestina e áreas de cultivos ilegais, como maconha.
No momento, as aeronaves R-99A (a Embraer já fabricou três das cinco previstas para o Sivam) não estão voando sistematicamente na fronteira com a Colômbia, de 1.640 km de extensão.
"Nossa aeronave [R-99A] voando pela linha de fronteira, sem entrar na Colômbia, tem capacidade de detectar os aviões até mais de 200 km para dentro da região, sem permissão do acordo", disse o diretor-executivo do CenSipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), Edgar Fagundes Filho.

Praia de Iracema
O Sipam é o braço civil de coordenação do Sivam. Na visita ao CRV, a reportagem constatou sua capacidade de atuação. Os radares captaram, com nitidez, num vôo de volta à base de Anápolis (GO), a orla da praia de Iracema, em Fortaleza (CE).
Num prazo de dez dias, caso haja acordo entre o Brasil e a Colômbia, os aviões do Sivam poderão mapear uma área de cerca de 1,5 milhão de km2, o suficiente para radiografar a intensa movimentação dos narcotraficantes na região de Guaviare (a 4 km da fronteira). A área é "dominada" pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). É lá que está o complexo de Barrancomina, que produz em média 30 toneladas mensais de cocaína pura.
A região está sob domínio da Frente 16 da guerrilha, sob comando de Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio, guerrilheiro que deu proteção ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em sua fuga do Brasil para a Colômbia.


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