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AMAZÔNIA
Repasse de informações ao país vizinho depende de assinatura de acordo; dados podem ajudar no combate ao narcotráfico
Radar do Sivam pode vigiar a Colômbia
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Sem sair da linha de fronteira
brasileira, o radar de longo alcance fixado na aeronave de vigilância R-99A do Sivam (Sistema de
Vigilância da Amazônia) já detecta o movimento de aviões a uma
distância de cerca de 200 km dentro do território colombiano.
Os dados do R-99A, que podem
ser usados para combater o narcotráfico e até a movimentação
dos grupos guerrilheiros, só poderão ser repassados ao governo
do país vizinho se o Brasil e a Colômbia levarem adiante a proposta de um acordo de cooperação,
como pleiteou o presidente colombiano Álvaro Uribe em sua visita oficial ao país, em 7 de março.
A minuta do acordo está sendo
elaborada pelo Ministério da Defesa e o Itamaraty. Mas, em razão
do conflito no Iraque, não há, no
momento, uma posição definida
sobre os critérios de repasse das
informações à Colômbia. Os dois
órgãos estão envolvidos na operação de emergência para retirar os
brasileiros que moram no Iraque.
Para a PF, os dados da Colômbia coletados pelo Sivam não são
de interesse de suas ações no
combate ao narcotráfico no Brasil. "Esses dados são coletados e
são compartimentados [repassados a órgãos do governo], mas
não nos interessa a movimentação no país vizinho. Essa movimentação serviria para a Colômbia atuar lá dentro", disse o delegado Mauro Spósito, que há três
anos coordena a Operação Cobra
(junção do início das palavras Colômbia e Brasil) na fronteira.
A R-99A é operada pelo CVA
(Centro de Vigilância Aérea). As
informações coletadas por ela são
repassadas ao setor reservado de
Vigilância Territorial do CRV
(Centro Regional de Vigilância),
visitado pela Agência Folha.
Operam essas informações
agentes da Polícia Federal e oficiais da Aeronáutica e do Exército. No setor, os dados do radar são
utilizados para identificar pistas
clandestinas usadas pelos narcotraficantes, extração ilegal de madeira e minérios, comunicação
clandestina e áreas de cultivos ilegais, como maconha.
No momento, as aeronaves R-99A (a Embraer já fabricou três
das cinco previstas para o Sivam)
não estão voando sistematicamente na fronteira com a Colômbia, de 1.640 km de extensão.
"Nossa aeronave [R-99A] voando pela linha de fronteira, sem entrar na Colômbia, tem capacidade
de detectar os aviões até mais de
200 km para dentro da região,
sem permissão do acordo", disse
o diretor-executivo do CenSipam
(Centro Gestor e Operacional do
Sistema de Proteção da Amazônia), Edgar Fagundes Filho.
Praia de Iracema
O Sipam é o braço civil de coordenação do Sivam. Na visita ao
CRV, a reportagem constatou sua
capacidade de atuação. Os radares captaram, com nitidez, num
vôo de volta à base de Anápolis
(GO), a orla da praia de Iracema,
em Fortaleza (CE).
Num prazo de dez dias, caso haja acordo entre o Brasil e a Colômbia, os aviões do Sivam poderão
mapear uma área de cerca de 1,5
milhão de km2, o suficiente para
radiografar a intensa movimentação dos narcotraficantes na região
de Guaviare (a 4 km da fronteira).
A área é "dominada" pelas Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). É lá que está o
complexo de Barrancomina, que
produz em média 30 toneladas
mensais de cocaína pura.
A região está sob domínio da
Frente 16 da guerrilha, sob comando de Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio, guerrilheiro
que deu proteção ao traficante
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em sua fuga
do Brasil para a Colômbia.
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