São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Waldomiro se encontrou com a empresa às vésperas da renovação do contrato com a CEF

Relação Waldomiro-GTech é "coincidência", diz Caixa

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem saber explicar o motivo da presença do ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz nas dependências da Caixa Econômica Federal em Brasília às vésperas da renovação do contrato com a GTech, o presidente do banco, Jorge Mattoso, entregou ontem a senadores relação com o registro de outras seis visitas de Waldomiro ao prédio. À época de parte delas, o pivô do escândalo no governo Lula presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
O relatório de visitas -sete ao todo- é um dos documentos reunidos em duas caixas que Mattoso levou ao seu depoimento na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado. Por quase cinco horas de audiência, Mattoso insistiu em que não houve pressão externa na renovação do contrato, selada em 8 de abril de 2003. Para ele, o negócio é "extraordinário".
No depoimento, faltaram explicações para dois detalhes da negociação do polêmico contrato:
1 - as três ou quatro reuniões entre os negociadores da Caixa e da GTech em março e em abril de 2003 não foram gravadas. Segundo Mattoso, o hábito de gravá-las não significava benefício às negociações. Aos senadores, admitiu que errou: "Hoje, vendo o imbróglio todo, não teria dúvida de gravar"; 2 - poucos meses depois de fechada a renovação do contrato, com desconto de 15% sobre o preço cobrado pela GTech, as apostas na Mega Sena sofreram reajuste de 50%, automaticamente repassado à empresa. Segundo Mattoso, o reajuste já era previsto no planejamento da gestão anterior.
Sobre os encontros de Waldomiro com a GTech, Mattoso atribuiu a uma "aparente coincidência". Por três vezes, o presidente da Caixa repetiu a mesma explicação: "Se alguém tentou vender terreno na Lua e se alguém tentou comprar terreno na Lua, isso não é responsabilidade da Caixa".
Ele não negou que Waldomiro tenha tentado fazer negócio com a empresa, mas insistiu em que a eventual operação não deu resultados. Segundo Mattoso, a Caixa não tinha alternativa senão renovar o contrato pelo período máximo permitido, 25 meses, devido a liminares concedidas à GTech pela juíza Maísa Costa Giudice, da 17ª Vara da Justiça Federal. Ela não foi localizada pela Folha.
Para Mattoso, diante da falta de palavra final da Justiça, a não-renovação do contrato representaria a paralisação das lojas lotéricas do país. Segundo ele, o banco ainda não estaria pronto para operar o processamento seguro dos dados, que responde por parte do negócio. Um novo contrato com a GTech não está descartado.
Dois dos interlocutores na Caixa, cujos nomes estariam anotados na agenda de Waldomiro -Carlos Borges, um dos vice-presidentes do banco, e Paulo Campos, superintendente de Loterias-, negam ter se encontrado com o ex-assessor do Planalto.


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