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Franklin critica cultivo de mídia simpática
Futuro ministro de Lula defende circulação plural de idéias, mas diz que ao governo só cabe garantir liberdade de imprensa
Jornalista, que vai chefiar a rede pública de TV, afirma que ela deve ter conteúdo variado e não funcionará com a lógica comercial
Sérgio Lima/Folha Imagem
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O jornalista Franklin Martins, 58, que vai assumir pasta de imprensa e publicidade do segundo governo de Lula, concede entrevista à Folha |
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O jornalista Franklin Martins, futuro ministro das áreas
de imprensa e publicidade do
governo Lula, diz que esses
"guichês serão separados".
Diz, porém, que a imprensa
"será criticada sempre que
avançar o sinal". Para ele, isso
ocorre quando a mídia tenta
"puxar a sociedade pelo nariz
para um lado e para o outro".
Indagado se o governo incentivaria a criação de órgãos simpáticos, como prega o PT, diz:
"Não cabe ao governo plantar,
regar e colher veículos de comunicação simpáticos a ele".
Ele defende a criação de uma
rede pública de TV, dizendo
que ela não deve funcionar com
lógica comercial. Diz que o governo poderá indicar a diretoria, mas sem partidarismo.
"Senti na conversa com o presidente que é TV pública e não
estatal. Plural e não partidária."
Franklin defende um encontro entre Lula e o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso
para que se mantenha uma
agenda comum nacional, que
quase se perdeu na crise do
mensalão devido à "luta política" entre PT e PSDB.
Diz ter "orgulho" de ter combatido a ditadura militar de
1964. "Lutei do lado certo."
Franklin, 58, acumulará a
função de secretário de imprensa com a de ministro até
indicar um substituto para o
cargo hoje exercido pelo jornalista André Singer. Para porta-voz, nomeará alguém "de fala
concisa".
FOLHA - Colocar numa mesma pasta a verba publicitária do governo e
a relação com a imprensa não traz o
risco de tentativa de manipulação
política da mídia?
FRANKLIN MARTINS - Viver é muito perigoso, como dizia Guimarães Rosa. Risco sempre existe,
mas não é um risco novo. No
governo federal, sempre foi assim. Tivemos casos em que o
porta-voz do presidente [diplomata Sérgio Amaral, no governo Fernando Henrique] controlava a publicidade.
FOLHA - No segundo mandato,
FHC separou as funções. E Lula as
deixou assim até agora.
FRANKLIN - O Sérgio Amaral
controlou a verba de publicidade e isso não resultou em coisa
escusa, malandragem. Não
houve nada.
FOLHA - Separar publicidade e imprensa não é mais imparcial?
FRANKLIN - Os guichês serão absolutamente separados. As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua
maioria, são empresas sérias.
Não aceitariam misturar os
guichês. Sou uma pessoa séria e
não aceito misturar os guichês.
O governo é serio e não aceita
misturar os guichês.
FOLHA - Concorda com a tese do PT
de que é preciso democratizar os
meios de comunicação, estimulando a criação de veículos de comunicação simpáticos ao governo, dando-lhes financiamento?
FRANKLIN - Essa questão de democratização dos meios de comunicação é uma fórmula na
qual cabe tudo. Sou a favor, óbvio. Quanto mais democrática e
plural a circulação de idéias na
sociedade, melhor. Mas não cabe ao governo plantar, regar e
colher órgãos de comunicação
simpáticos a ele. Quem cria órgãos de comunicação é a sociedade. O governo tem uma função na relação com a imprensa:
garantir a liberdade de imprensa. Ponto. O resto é a sociedade
quem faz.
FOLHA - A rede
pública de TV não
corre risco de virar
uma nova Radiobrás ou TV Voz do
Brasil? Ela terá qual
formato?
FRANKLIN - Não
vai funcionar
guiada pela
questão comercial. Isso coloca
limitações para
uma série de
TVs que necessitam adquirir uma determinada
escala de audiência e respondem a estímulos comerciais
porque são empresas que visam lucro. As televisões privadas não podem fazer determinadas programações que são
importantíssimas.
FOLHA - Não é importante ter audiência?
FRANKLIN - É importante. Eu
estou falando de escala de audiência. Não tem obrigação de
concorrer para liderar a audiência no horário nobre.
FOLHA - Quem vai
escolher a diretoria
da TV?
FRANKLIN - Evidentemente, a
escolha inicial
parte do governo. Mas o governo não precisa
escolher os partidários do governo. O que
senti na conversa com o presidente é uma TV
pública e não estatal. Plural e
não partidária.
Aberta para contribuição e presença das diferentes identidades regionais e não com uma
programação com uma cara só.
Com programação variada,
com jornalismo, com parte cultural voltada para cidadania.
FOLHA - As primeiras reações de
parte dos veículos privados têm sido
de reticência.
FRANKLIN - Foram reações próprias de um debate inicial. Editoriais, como os da Folha, criticavam a TV do governo, mas, se
for uma TV pública, a coisa
muda de figura. O que mais
quero como ministro da comunicação social é ajudar a qualificar o debate político, o debate
público. Pode haver gente tão a
favor da liberdade de imprensa
quanto eu, mais a favor não
tem. A imprensa não está numa redoma. O presidente pode
ser criticado, o ministro, o papa, a imprensa pode ser criticada e será criticada sempre que
avançar o sinal. Quando isso
ocorre? Quando vai além do
trabalho de dar informação, de
fazer circular a informação e de
aumentar o debate público.
Quando pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro. Essa não é
uma função da imprensa.
FOLHA - O sr. identifica veículos
que avançam sinal hoje?
FRANKLIN - A sociedade pode fazer essa crítica. Não sou eu
quem devo fazer.
FOLHA - Como ministro, o sr. manterá o processo contra o jornalista
Diogo Mainardi?
FRANKLIN - Vou.
FOLHA - Por quê?
FRANKLIN - Não estou fazendo
nada contra a liberdade de
imprensa. Manter o processo
contra esse senhor não tem nada a ver sobre o que eu penso ou
o que ele acha que eu penso. É
um direito que ele tem. Ele me
acusou de crimes, de ter praticado tráfico de influência e de
ter participado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo
Costa. Sem nenhum elemento.
Mais do que isso, ele e a revista
dele ["Veja"] se recusaram a
publicar a minha resposta. Que
liberdade de imprensa é essa
na qual um lado fala e nem
sequer publica o outro lado?
Fiz o que se faz no Estado de
Direito. Quando se acha que
sua honra foi atingida, se recorre à Justiça.
FOLHA - Como ministro, não ganhará mais peso esse processo em
seu favor?
FRANKLIN - A Justiça não vai
agir assim porque sou ministro.
Pelo ritmo no Brasil, a Justiça
só terá julgado esse processo
depois que eu deixar de ser ministro. Ele terá toda a oportunidade de provar todas as acusações. E, se for isso, quem vai ficar mal sou eu.
FOLHA - Esse episódio foi determinante para a sua saída da Globo?
FRANKLIN - Fiz essa pergunta à
direção, e eles disseram que
não. A alegação que me deram é
que eu estava com imagem fraca como jornalista. Eu disse a
eles que achava que a explicação não me convencia. A pergunta tem de ser feita à Globo.
FOLHA - Como o sr. pretende se relacionar com a Globo?
FRANKLIN - Quem olha para trás
vira estátua de sal. Será um relacionamento profissional.
FOLHA - Qual é a sua avaliação da
cobertura da imprensa a respeito do
governo Lula?
FRANKLIN - Vou falar como acho
que deve ser daqui para frente.
Profissional, séria, crítica, sem
preconceito.
FOLHA - O sr. participou da luta armada contra a ditadura militar de
1964. Como avalia hoje aquele período? Arrepende-se de algo? Faria
diferente?
FRANKLIN - [Faria] muitas coisas diferentes com a visão que
tenho hoje. Não me arrependo
do central. Lutei do lado certo.
Lutei ao lado da democracia
contra a ditadura.
Leia versão ampliada da entrevista
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