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FOCALIZAÇÃO
Economista defende universidade
e saúde gratuitas só para pobres
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tendo em vista a restrição orçamentária, o economista José Márcio Camargo defende que os gastos públicos sociais sejam direcionados para os pobres. Focalização, ele diz, inclui garantir saúde e
universidade gratuitas apenas para quem é pobre.
Professor da PUC-RJ, Camargo
é o idealizador do Bolsa-Escola e
um dos principais teóricos sobre
pobreza e políticas sociais no país.
Ele diz que tem conversado com
integrantes da equipe econômica
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva sobre suas idéias. E que o documento de diretrizes elaborado
por Antonio Palocci Filho (Fazenda) expressa "o princípio" focalizador delas.
Folha - Por que o sr. defende políticas sociais focalizadas?
José Márcio Camargo - Políticas
não focalizadas acabam favorecendo mais os ricos que os pobres. E como você tem uma restrição fiscal importante, focalizar
gastos é fundamental.
Folha - O que é focalização? Inclui
Previdência, saúde pública etc?
Camargo - O Brasil fez ao longo
dos anos 90 uma clara escolha pelos seus idosos. Gasta hoje 11% do
PIB com aposentadorias e pensões e tem 8% da população de
idosos. Enquanto 30% da população é de crianças, e o país gasta 5%
do PIB com educação.
No início da década, 40% da população era pobre. Hoje são 33%.
Mas essa redução foi concentrada
entre a população idosa. Hoje
50% das crianças brasileiras vivem em famílias pobres, e menos
de 10% das pessoas com mais de
65 anos vivem em famílias pobres. O gasto social no Brasil está
concentrado nos idosos.
Das 50% de crianças em famílias pobres, 80% não completam o
ensino fundamental. Ou seja, daqui a 30 anos, vamos ter 40% da
população brasileira sem completar o ensino fundamental. Ora, é
impossível resolver o problema
da pobreza no país dessa forma.
Folha - É possível focalizar também na educação e na saúde?
Camargo - Sem dúvida. É um absurdo que neste país, com 50%
das crianças em famílias pobres, a
universidade pública seja gratuita. Quando você olha os dados,
92% dos estudantes das universidades públicas estão entre os 20%
mais ricos da população. A probabilidade de uma pessoa que vive numa família entre os 40%
mais pobres chegar a uma universidade pública é zero. Quando a
universidade é gratuita, você está
transferindo renda de pobre, que
paga imposto, para os ricos.
Se as pessoas conseguem pagar
o ensino de segundo grau, por
que não pagar a universidade? Faz
o seguinte: cobra de quem pode.
Folha - E a saúde?
Camargo -Acho que devia-se cobrar de pessoas que têm seguro de
saúde, por exemplo. Por que eu
ou outra pessoa qualquer, que paga seguro, quando vai ao SUS não
paga? Não tem nenhuma razão.
Folha - Esse debate chegou ao governo? No documento da Fazenda
estão expressas essas idéias?
Camargo - Acho que está expresso. Não com essa dureza, porque
politicamente não seria defensável. Mas ali está colocado o princípio: de que os recursos públicos
da área social sejam direcionados
para os pobres.
Folha - O sr. tem conversado com
a equipe do Ministério da Fazenda?
Camargo - Eu converso com todos que querem falar comigo. Obviamente que tenho conversado
com algumas pessoas do governo.
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