GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião fechada com a ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), deputados da bancada do PT criticaram a política social do governo, o Fome Zero e ainda disseram que "focalização" faz parte do ideário do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, conceitos distantes, portanto, das tradicionais bandeiras do partido.
A Folha participou de uma hora de reunião, durante a fase em que Benedita explicou a função do seu ministério e os deputados fizeram perguntas. Depois disso, os jornalistas de fora do partido foram identificados e expulsos.
Durante sua exposição, a ministra criticou o que chamou de herança do governo passado, quando, segundo ela, não havia uma política social, mas apenas programas de transferência de renda fragmentados: "A focalização nos leva hoje a programas que atendam famílias".
O deputado Tarcísio Zimmermann (RS), que presidiu a reunião, disse que, se o PT encontrou a política social fragmentada, aumentou ainda mais o problema, criando novos ministérios para o setor. "Nosso governo fragmentou mais um pouco [a política social]", afirmou o deputado.
Zimmermann, ex-secretário do Trabalho e da Assistência Social do governo Olívio Dutra, no RS, foi o autor das perguntas mais ácidas. "Para largos setores petistas, o debate sobre focalização foi difícil no governo passado. Sabemos que a seletividade é importante e concordamos com isso, mas o termo focalização, de fato, se contrapõe à universalidade do atendimento e é um termo do FMI e do Banco Mundial criado no Consenso de Washington."
Olívio Dutra hoje é ministro das Cidades. O chamado consenso é um conjunto de receitas econômicas liberais adotadas por países emergentes na década de 90.
Zimmermann disse ainda que "torce muito" não apenas para a implementação de um cadastro único de pobres, mas por um programa nacional de benefício social: "As pessoas não são fragmentadas em pedaços".
Terezinha Fernandes (MA) engrossou o coro: "No nosso governo a política foi ainda mais fragmentada. Tem política social na Saúde, na Educação e agora também na Segurança Alimentar".
As críticas não pouparam o Fome Zero, considerado o principal programa social do governo: "Sou preocupada com o Fome Zero. Eu o defendo, mas ainda acho que é só um programa, uma idéia pontual. Não poderíamos ir construindo ao longo do governo outras políticas centralizadas na assistência social sem perder o brilho do programa?", questionou a deputada Maria do Rosário (RS).

Integração
Após a reunião, a ministra Benedita disse que, para ela, a focalização dos programas é exatamente o contrário de fragmentação, sem que isso tenha nenhuma relação com FMI ou Banco Mundial.
Em relação às críticas de que o governo dividiu ainda mais os programa sociais, criando novos ministérios para abrigá-los, ela reafirmou que está sendo construída uma política de integração.
Após ouvir dezenas de sugestões e pedidos para que sua pasta fosse mais fortalecida pelo Planalto, Benedita saiu sorridente da reunião: "É bom receber apoio".
Após a reunião, Zimmermann reafirmou sua preocupação: "A ministra contrapõe focalização à fragmentação, mas para mim o termo se opõe a universalização do atendimento".


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