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CORRUPÇÃO NO GOVERNO/PUNIÇÕES
Para Lucas Furtado, do Tribunal de Contas da União, criatividade para fraude é ilimitada e justifica adoção de ações preventivas para evitar delitos
Corrupção está sofisticada, diz procurador
DA REPORTAGEM LOCAL
O procurador-geral do Tribunal de Contas da União, Lucas
Furtado, afirma que "não se troca
a fechadura de porta arrombada".
Segundo Furtado, a sofisticação
dos esquemas de corrupção justifica cada vez mais a adoção de
ações preventivas para evitar delitos. "A criatividade para a fraude
é ilimitada", diz ele, que faz doutorado em corrupção pela Universidade de Salamanca (Espanha).
(MALU DELGADO)
Folha - Em seis anos, a demissão
de 1.367 servidores não revela um
baixo grau de punição?
Lucas Furtado - É muito pouco
para o tamanho do Brasil, mas é
ótimo que estejam sendo punidos. No TCU, dispomos do seguinte dado: das condenações do
tribunal, não se recupera nem 1%
do dinheiro público desviado. Do
ponto de vista criminal, as condenações são mínimas; do civil, que
é o dever de devolver o desviado, a
efetividade também é mínima.
No Brasil, quando se fala em
combate à corrupção, geralmente
se pensa em criminalizar, com penas elevadas. Quando se quer de
fato combater corrupção, essa deveria ser a última medida. A efetividade de combater corrupção
com política repressiva, mandando para a cadeia e tentando recuperar o dinheiro, é nenhuma.
O Judiciário não está pronto para tratar das questões complicadíssimas da corrupção pública.
Alguns casos envolvem autoridades públicas, que têm foro privilegiado. A grande maioria dos crimes de competência dos tribunais
superiores prescrevem por falta
de estrutura para julgá-los.
Folha - O que deveria ser prioridade no combate à corrupção?
Furtado - Em primeiro lugar,
identificar onde estão as falhas na
legislação. A CPI dos Correios
identificou várias vulnerabilidades na lei e propõe correções. A
segunda medida seria fortalecer
os órgãos onde ocorre gasto público, como treinar quem cuida
de comissão de licitação e remunerar bem o servidor público. É
preciso fortalecer mecanismos internos de controle. E fortalecer os
controles externos, como Tribunal de Contas, Ministério Público.
Poucos países dispõem de um sistema de controle externo tão bom
quanto o Brasil. O problema é que
aqui os órgãos não falam entre si.
Folha - Se as propostas da CPI dos
Correios forem levadas a sério pelo
Parlamento, as alterações podem
ser positivas?
Furtado - Pode melhorar muito.
Um dos principais instrumentos
de combate à corrupção é ter um
órgão de inteligência financeira
adequado. No Brasil, o TCU, que
fiscaliza atos administrativos, não
tem acesso a sigilos bancário e fiscal. Sem os sigilos, nunca seriam
identificadas as fraudes em contratos de publicidade da CPI dos
Correios. É provável que a partir
da CPI dêem atenção especial a
contratos de publicidade. O que
acontecerá? Os fraudadores procurarão outro campo de atuação.
Folha - A CPI do Orçamento investigou outro foco de corrupção.
Furtado - Há dez anos, os focos
de fraude eram orçamento e grandes obras públicas. Por conta do
caso do TRT-SP, constatou-se
que o sistema de fiscalização era
muito falho. Desde 2000 as Leis de
Diretrizes Orçamentárias obrigam o TCU a realizar auditoria
em todas as obras públicas que recebem mais de R$ 10 milhões.
Assim, as fraudes migraram de
grandes obras para os contratos
de prestação de serviços. Quem
quer fraudar é muito inteligente e
tem assessorias de grandes escritórios de advocacia e contabilidade, que identificarão no sistema
onde é mais fácil fraudar. A criatividade para a fraude é ilimitada.
Se for dada atenção especial para
contratos de publicidade, a tendência é que a corrupção migre.
Folha - Um sistema integrado de
combate à corrupção seria fator
decisivo para mudanças?
Furtado - O importante é cuidar
do futuro. Não adianta colocar fechadura nova em porta já arrombada. A possibilidade de o servidor público ser pego é baixíssima
e existem inúmeras falhas administrativas na legislação que criam
oportunidades para fraudes. Acabar com a corrupção é impossível.
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