São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

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ESQUELETO DO BC

Ex-presidente do BC é acusado de improbidade administrativa

Procuradores anunciam novo inquérito contra Lopes

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Os procuradores do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro envolvidos na investigação do caso Marka anunciaram ontem que pretendem abrir mais um inquérito contra o ex-presidente do BC (Banco Central) Francisco Lopes, que é acusado de improbidade administrativa.
O anúncio foi feito após o depoimento prestado ontem na 6ª Vara Federal Criminal do Rio pela mulher de Lopes, Araci Pugliese.
Araci disse que era sócia da empresa de consultoria Macrométrica "apenas no papel". Presente ao depoimento, Lopes disse na saída que a mulher assumiu seu lugar na empresa enquanto não encontrava um gerente.
"Confio na minha ética e na minha moral. Sei separar as coisas", disse, questionado sobre uma suposta ilegalidade ou falta de ética na transferência da sociedade. "Não é ilegal um funcionário público ser sócio de uma empresa. Se fosse assim, seria ilegal um banqueiro ser ministro."
Para o procurador Bruno Acioly, a declaração de Araci comprova que Lopes continuou à frente da Macrométrica mesmo após assumir o BC. "Isso é, no mínimo, uma falta de ética e caracteriza, em tese, uma improbidade administrativa."
O procurador disse que o processo de evasão de divisas contra Lopes será desmembrado para a investigação da suposta prática de improbidade administrativa.
Lopes e seu ex-sócio na Macrométrica, Sérgio Bragança, foram denunciados à Justiça em 2000, sob a acusação de prática de evasão de divisas. A principal prova da acusação é um bilhete apreendido pela PF (Polícia Federal) no apartamento de Lopes.
Segundo o bilhete, de agosto de 1996, US$ 1,675 milhão pertencentes a Lopes estariam em uma conta no exterior sob custódia de Bragança. O bilhete estava em um envelope onde estava escrito: "Para Ciça [Araci" (abrir se eu faltar)". No depoimento, Araci disse desconhecer o bilhete. Ela disse que o marido possui apenas uma conta, declarada, no exterior, que não teria a quantia descrita.
Lopes afirmou que o bilhete se referia ao pagamento de uma dívida que não chegou a ocorrer e negou possuir a quantia no exterior. Em seu primeiro depoimento, ele havia dito que a quantia era uma estimativa da venda de cotas da Macrométrica em 1996, época em que já estava no BC.
O advogado de Lopes, João Mestieri, afirmou que o cliente não se lembrava do bilhete.
O delegado federal Lourenço Pompilho, que apreendeu o bilhete, também depôs ontem e disse que sofreu pressão do superintendente da PF na época, Paulo Ornella. Ele afirmou que recebeu telefonemas de Ornella questionando a busca. Ornella foi afastado do cargo pouco tempo depois.



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