São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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Mudança no projeto e presença da Marinha causam polêmica

DO ENVIADO A RESENDE

O enriquecimento de urânio no Brasil está gerando polêmica. Para o economista João Manoel Gonçalves Barbosa, vice-presidente do Corecon-RJ (Conselho Regional de Economia do Rio) e funcionário da INB, o projeto teria que ser submetido ao Congresso, cumprindo o previsto no artigo 21 da Constituição.
Barbosa questiona também a presença da Marinha no projeto e o fato de a fábrica ficar às margens do rio Paraíba do Sul, principal fonte de água potável para a cidade do Rio e vários municípios.
Segundo Eduardo Mendonça, coordenador-geral de Licenciamento e Controle da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), foram concedidas em 1978 "licenças de montagem e de local de construção" para a fábrica de enriquecimento de urânio, pertencente à hoje extinta Nuclebrás.
Na época, o Brasil pretendia fazer o enriquecimento pelo processo chamado jatocentrífugo, adquirido do pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975. O processo, segundo Éverton Carvalho, da INB, revelou-se antieconômico e foi abandonado em 1988.
Mendonça disse que a Procuradoria Jurídica da CNEN concluiu que na essência, o que ocorreu foi apenas uma alteração de projeto.
"Houve uma mudança de tecnologia. Isso é uma questão técnica que não consideramos ser motivo para levar ao Congresso", diz.
Quanto à presença da Marinha e o risco de militarização que isso possa representar, o técnico da CNEN disse que o processo está submetido a salvaguardas internacionais, o que "assegura que o material não será desviado de forma alguma para uso militar".
O físico Luiz Pinguelli Rosa, especialista em energia nuclear, considera que o projeto é válido e que reduzirá a dependência externa do país. Mas, diz que a escala de produção inicial é pequena para as necessidades do país.
O químico João Gonçalves, coordenador de Processos Químicos da INB, afirma que o risco de radiação nuclear é inexistente. "Nosso problema não é de radiação, é de contaminação." Segundo ele, não há risco de radiação antes da fissão nuclear que ocorre nos reatores das usinas.
Gonçalves disse ser praticamente nula a possibilidade de contaminação do ar e do rio Paraíba do Sul pelo urânio (o mineral mais pesado e nocivo ao organismo), já que a INB estaria adotando os cuidados necessários.



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