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entrevista
Órgão já nasce burocratizado, afirma Correa
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para o presidente do
Equador, Rafael Correa,
45, a Unasul já nasce "burocratizada". "E temo que
o mesmo aconteça com o
Mercosul", disse à Folha
antes de tomar café da
manhã com os presidentes Lula, Hugo Chávez e
Evo Morales. A Secretaria
Geral da Unasul ficará na
capital do Equador, Quito.
FOLHA - O ex-presidente do
Equador Rodrigo Borja deixou
a Secretaria Geral da Unasul
reclamando de divergências. A
Unasul nasce esvaziada?
RAFAEL CORREA - Compartilho com a visão de Borja, [a
Unasul] será um fórum a
mais e podemos não solucionar a expectativa [de
integração]. Os estatutos
não recorrem às decisões
dos presidentes de fazer
uma integração rápida e
efetiva. Com estrutura insuficiente, não vai funcionar. Ela nasce burocratizada. É preciso uma secretaria forte, com equipe
permanente. [Sem isso],
não vamos nos inteirar sobre o que se passa.
FOLHA - Como maior economia da região, o Brasil tem feito o seu papel pela integração?
CORREA - O Brasil sempre
teve atitude integracionista, mas temo que o Mercosul se burocratize. Talvez
o maior inimigo da integração sul-americana seja
a burocracia.
FOLHA - Para o senhor, o
Equador é vítima do conflito
interno colombiano. O relatório da Interpol [dizendo não ter
havido alteração nos arquivos
do computador encontrado
com um líder das Farc] não invalida esse discurso?
CORREA - De nenhuma
maneira. O dilema é: acreditamos ou não nas Farc?
Se Uribe acredita, temos
que acreditar em tudo que
dizem sobre ele. Para cada
documentinho desse há
20 acusando Uribe. Se não
o crê, como foi tão irresponsável por fazer tremendo escândalo e atirar
tanta lama no ventilador?
Entregamos todos os
documentos à OEA, também aos sistemas de controle do Equador e à oposição, para que verifiquem e
digam ao mundo se temos
algo a ver com as Farc.
Nossa única relação é humanitária. O resto é tramóia montada para tentar
justificar o injustificável
-a agressão a um país.
FOLHA - O sr. admite a hipótese de algum membro do governo ter usado seu nome para
se reunir com as Farc?
CORREA - Não posso dizer
isso, mas lhe asseguro que
durante a campanha, ou
em toda minha vida, jamais tive relação com as
Farc. Nem sequer conheço
alguém das Farc. O governo jamais pretendeu ter
relações políticas ou contatos, a não ser nas questões humanitárias, para a
liberação de reféns.
FOLHA - As relações entre
Equador e Colômbia estão
rompidas desde março. Houve
um ensaio de reaproximação
no Grupo do Rio e só. Qual a
condição para a retomada?
CORREA - Um gesto de boa
vontade. [A Colômbia] seguiu com uma campanha
de desprestígio para desviar os problemas internos
que tem, narcopolíticos e
parapolíticos. Há uma estratégia deliberada de envolver [países] no conflito.
FOLHA - É viável a criação de
um Conselho de Defesa?
CORREA - Enquanto não
desenvolvermos uma absoluta confiança mútua e
nenhum país atacar mais o
outro e desestabilizar a região, é necessário a criação
de uma força real, coercitiva, que mantenha a estabilidade. O conselho é muito
importante, pertinente e
eu diria até urgente.
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