São Paulo, sábado, 24 de maio de 2008

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entrevista

Órgão já nasce burocratizado, afirma Correa

LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para o presidente do Equador, Rafael Correa, 45, a Unasul já nasce "burocratizada". "E temo que o mesmo aconteça com o Mercosul", disse à Folha antes de tomar café da manhã com os presidentes Lula, Hugo Chávez e Evo Morales. A Secretaria Geral da Unasul ficará na capital do Equador, Quito.

 

FOLHA - O ex-presidente do Equador Rodrigo Borja deixou a Secretaria Geral da Unasul reclamando de divergências. A Unasul nasce esvaziada?
RAFAEL CORREA
- Compartilho com a visão de Borja, [a Unasul] será um fórum a mais e podemos não solucionar a expectativa [de integração]. Os estatutos não recorrem às decisões dos presidentes de fazer uma integração rápida e efetiva. Com estrutura insuficiente, não vai funcionar. Ela nasce burocratizada. É preciso uma secretaria forte, com equipe permanente. [Sem isso], não vamos nos inteirar sobre o que se passa.

FOLHA - Como maior economia da região, o Brasil tem feito o seu papel pela integração?
CORREA
- O Brasil sempre teve atitude integracionista, mas temo que o Mercosul se burocratize. Talvez o maior inimigo da integração sul-americana seja a burocracia.

FOLHA - Para o senhor, o Equador é vítima do conflito interno colombiano. O relatório da Interpol [dizendo não ter havido alteração nos arquivos do computador encontrado com um líder das Farc] não invalida esse discurso?
CORREA
- De nenhuma maneira. O dilema é: acreditamos ou não nas Farc? Se Uribe acredita, temos que acreditar em tudo que dizem sobre ele. Para cada documentinho desse há 20 acusando Uribe. Se não o crê, como foi tão irresponsável por fazer tremendo escândalo e atirar tanta lama no ventilador? Entregamos todos os documentos à OEA, também aos sistemas de controle do Equador e à oposição, para que verifiquem e digam ao mundo se temos algo a ver com as Farc. Nossa única relação é humanitária. O resto é tramóia montada para tentar justificar o injustificável -a agressão a um país.

FOLHA - O sr. admite a hipótese de algum membro do governo ter usado seu nome para se reunir com as Farc?
CORREA
- Não posso dizer isso, mas lhe asseguro que durante a campanha, ou em toda minha vida, jamais tive relação com as Farc. Nem sequer conheço alguém das Farc. O governo jamais pretendeu ter relações políticas ou contatos, a não ser nas questões humanitárias, para a liberação de reféns.

FOLHA - As relações entre Equador e Colômbia estão rompidas desde março. Houve um ensaio de reaproximação no Grupo do Rio e só. Qual a condição para a retomada?
CORREA
- Um gesto de boa vontade. [A Colômbia] seguiu com uma campanha de desprestígio para desviar os problemas internos que tem, narcopolíticos e parapolíticos. Há uma estratégia deliberada de envolver [países] no conflito.

FOLHA - É viável a criação de um Conselho de Defesa?
CORREA
- Enquanto não desenvolvermos uma absoluta confiança mútua e nenhum país atacar mais o outro e desestabilizar a região, é necessário a criação de uma força real, coercitiva, que mantenha a estabilidade. O conselho é muito importante, pertinente e eu diria até urgente.


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