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RELIGIÃO
D. Cláudio deixou CEBs em segundo plano
Arcebispo priorizou carismáticos no CE
LUIS HENRIQUE AMARAL
enviado especial a Fortaleza
Um arcebispo que priorizou os
movimentos ligados à espiritualidade, como a Renovação Carismática Católica, e deixou em segundo plano as pastorais sociais e
as Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs), os grupos mais politizados da Igreja Católica.
Essa é a imagem que o novo arcebispo de São Paulo, d. Cláudio
Hummes, 63, deixou em boa parte
dos católicos de Fortaleza (CE),
onde esteve à frente da igreja por
apenas um ano e dez meses.
D. Cláudio, que substitui desde
ontem o cardeal d. Paulo Evaristo
Arns, 76, deixou Fortaleza sob os
aplausos dos grupos carismáticos,
que se responsabilizaram pela organização da festa de despedida.
Nas CEBs e pastorais sociais, como a da Terra ou a da Mulher
Marginalizada, ele deixou uma
imagem de ausência. Mas, apesar
de não ter incentivado, também
não fez restrições aos trabalhos.
Rede Vida
Quando alguém que trabalhou
com d. Cláudio é questionado sobre sua principal realização em
Fortaleza, a resposta é uma só: organizou a campanha de arrecadação de fundos, que mobilizou a cidade, para instalar retransmissora
da Rede Vida, a TV católica.
Outras iniciativas bastante lembradas são o incentivo às vocações, para aumentar o número de
padres, e a participação na Campanha da Fraternidade de 97, que
tratou do problema dos presídios.
D. Cláudio promoveu fóruns de
debates e criou grupos que estão
trabalhando na melhoria das condições dos presos do Estado.
Evangelização
O monsenhor Antônio Souto,
que no posto de vigário-geral foi
um dos assessores mais próximos
de d. Cláudio, fornece pistas para
quem quer conhecê-lo.
"D. Cláudio acredita que não
adianta ficar cobrando demais das
pessoas no sentido da moral individual, ou social, sem que elas tenham, primeiro, encontrado Cristo. Para isso, ele insiste muito na
necessidade da evangelização."
Essa prioridade à evangelização,
determinada pelo Vaticano na
campanha "Rumo ao Novo Milênio", explica as principais ações de
d. Cláudio em Fortaleza.
A Rede Vida e a Renovação Carismática são instrumentos de
crescimento do número de católicos, que chegam, ou retornam, a
uma igreja que vem sendo pressionada nos últimos anos pelo crescimento dos evangélicos.
No pouco tempo que passou em
Fortaleza, d. Cláudio deixou claro
que sua prioridade é o espírito.
Mas, cauteloso e diplomático, fez
questão de não interferir nas pastorais sociais, priorizadas claramente no trabalho de seu antecessor, o cardeal d. Aloísio Lorscheider, expoente do clero progressista.
D. Cláudio, por exemplo, não
substituiu nenhum dos assessores
que trabalhavam com d. Aloísio. E
reconduziu os que se afastaram.
Mudança
Em São Paulo, d. Cláudio terá a
mesma difícil missão de substituir
um expoente dos progressistas.
Sobre estes rótulos, o monsenhor Souto conta uma brincadeira
que d. Cláudio costuma repetir e
que é reveladora de sua posição:
"Quando dizem que ele é conservador, ele diz que não é. Se fosse,
teria conservado a posição que tinha durante as greves do ABC,
mas ele mudou e evoluiu", diz.
Na época das greves do ABC, no
final da década de 70, d. Cláudio,
então bispo de Santo André,
apoiou os operários e enfrentou a
polícia e os empresários. Era considerado um expoente do clero
progressista. Mas, como costuma
dizer, mudou.
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