São Paulo, domingo, 24 de maio de 1998

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RELIGIÃO
D. Cláudio deixou CEBs em segundo plano
Arcebispo priorizou carismáticos no CE

LUIS HENRIQUE AMARAL
enviado especial a Fortaleza

Um arcebispo que priorizou os movimentos ligados à espiritualidade, como a Renovação Carismática Católica, e deixou em segundo plano as pastorais sociais e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), os grupos mais politizados da Igreja Católica.
Essa é a imagem que o novo arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, 63, deixou em boa parte dos católicos de Fortaleza (CE), onde esteve à frente da igreja por apenas um ano e dez meses.
D. Cláudio, que substitui desde ontem o cardeal d. Paulo Evaristo Arns, 76, deixou Fortaleza sob os aplausos dos grupos carismáticos, que se responsabilizaram pela organização da festa de despedida.
Nas CEBs e pastorais sociais, como a da Terra ou a da Mulher Marginalizada, ele deixou uma imagem de ausência. Mas, apesar de não ter incentivado, também não fez restrições aos trabalhos.
Rede Vida
Quando alguém que trabalhou com d. Cláudio é questionado sobre sua principal realização em Fortaleza, a resposta é uma só: organizou a campanha de arrecadação de fundos, que mobilizou a cidade, para instalar retransmissora da Rede Vida, a TV católica.
Outras iniciativas bastante lembradas são o incentivo às vocações, para aumentar o número de padres, e a participação na Campanha da Fraternidade de 97, que tratou do problema dos presídios. D. Cláudio promoveu fóruns de debates e criou grupos que estão trabalhando na melhoria das condições dos presos do Estado.

Evangelização
O monsenhor Antônio Souto, que no posto de vigário-geral foi um dos assessores mais próximos de d. Cláudio, fornece pistas para quem quer conhecê-lo.
"D. Cláudio acredita que não adianta ficar cobrando demais das pessoas no sentido da moral individual, ou social, sem que elas tenham, primeiro, encontrado Cristo. Para isso, ele insiste muito na necessidade da evangelização."
Essa prioridade à evangelização, determinada pelo Vaticano na campanha "Rumo ao Novo Milênio", explica as principais ações de d. Cláudio em Fortaleza.
A Rede Vida e a Renovação Carismática são instrumentos de crescimento do número de católicos, que chegam, ou retornam, a uma igreja que vem sendo pressionada nos últimos anos pelo crescimento dos evangélicos.
No pouco tempo que passou em Fortaleza, d. Cláudio deixou claro que sua prioridade é o espírito. Mas, cauteloso e diplomático, fez questão de não interferir nas pastorais sociais, priorizadas claramente no trabalho de seu antecessor, o cardeal d. Aloísio Lorscheider, expoente do clero progressista.
D. Cláudio, por exemplo, não substituiu nenhum dos assessores que trabalhavam com d. Aloísio. E reconduziu os que se afastaram.

Mudança
Em São Paulo, d. Cláudio terá a mesma difícil missão de substituir um expoente dos progressistas.
Sobre estes rótulos, o monsenhor Souto conta uma brincadeira que d. Cláudio costuma repetir e que é reveladora de sua posição: "Quando dizem que ele é conservador, ele diz que não é. Se fosse, teria conservado a posição que tinha durante as greves do ABC, mas ele mudou e evoluiu", diz.
Na época das greves do ABC, no final da década de 70, d. Cláudio, então bispo de Santo André, apoiou os operários e enfrentou a polícia e os empresários. Era considerado um expoente do clero progressista. Mas, como costuma dizer, mudou.



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