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ELEIÇÃO
Publicitário diz que FHC irá ao 2º turno contra Lula e que marca será tensão social, medo do desemprego
Pitta precisa melhorar, diz Duda Mendonça
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
"Se o Pitta
chegar ao final
do mandato do
jeito que está
hoje, vou ficar
profundamente
decepcionado",
diz Duda Mendonça, o publicitário que cuidou de toda a estratégia
de campanha para eleger o atual
prefeito de São Paulo.
Duda, que acha que Celso Pitta
ainda tem tempo para melhorar
sua gestão, fez a crítica ao prefeito
depois de responder que não trabalharia de novo para um candidato que ajudou a eleger se ele o
decepcionasse no governo.
Para o publicitário, o eleitor ficará dividido entre dois medos na
sucessão presidencial: "Fernando Henrique Cardoso vai jogar
com o temor de que venha o Lula e
destrua o Real. E o Lula dirá que,
se FHC continuar, o brasileiro
perderá o emprego".
Prevê que haverá segundo turno,
entre o tucano FHC e o petista Lula, devido a outra marca do pleito:
agravamento da tensão social.
Sondado por emissários de FHC
e de Lula, um dos marqueteiros
mais disputados do país, que cuidará de pelo menos oito campanhas a governos estaduais, com
uma equipe de mais de cem pessoas, diz que dificilmente terá
condições de trabalhar para um
dos dois candidatos a presidente.
Sobre a eleição paulista, vaticina
que seu candidato, Paulo Maluf
(PPB), vencerá. E diz que, pelas
pesquisas que tem, o governador
de São Paulo, Mário Covas (PSDB)
não irá para o segundo turno.
Revela seu método de trabalho,
dizendo que usa pesquisas qualitativas (pequenos grupos de eleitores convidados a debater um certo
tema com a mediação de um pesquisador) para testar seus pressupostos. "O povo não sabe lhe
dar uma linha de campanha, mas
sabe julgar o que você fez."
Folha - Qual será o principal tema da sucessão presidencial?
Duda Mendonça - O medo. Vão
assustar o eleitor. O presidente
Fernando Henrique vai jogar com
o temor de que venha o Lula e destrua o Real. E o Lula dirá que, se
FHC continuar, o brasileiro perderá o emprego. Duas bandeiras fortíssimas. E o povo no meio, espremido. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
Folha - O governo trabalha com o
cenário de que FHC será reeleito e
prefere enfrentar o Lula. O sr. acha
que ocorrerá isso mesmo?
Duda - Trabalha com um cenário tão otimista, a certeza da vitória, que pode ser equivocado. FHC
enfrentará uma eleição nervosa,
com momentos de muita tensão. E
a decisão provavelmente só será
conhecida no segundo turno. Há
oito anos, George Bush chegou a
ter 80% de aprovação popular e
perdeu a reeleição nos EUA.
Já para o Lula, que até poucos
dias considerava a eleição totalmente perdida, ir para o segundo
turno pode ter sabor de vitória.
Vale lembrar que na vida de um
político há derrotas que a longo
prazo podem significar vitórias.
Folha - O agravamento da tensão
social, numa combinação de desemprego e efeitos da seca, por
exemplo, pode levar a eleição presidencial para o segundo turno?
Duda - Pode. Este é o grande
risco do presidente. Vai depender
muito da conjuntura no momento
da eleição. Se chover no sertão, se
o Brasil ganhar a Copa, se os juros
continuarem caindo e se a crise das
Bolsas não se agravar, a situação
melhora muito para FHC.
Se o presidente tiver a coragem
de abrir o peito, falando sinceramente das dificuldades, do seu esforço e por que se esqueceu de alguns dedos da mão (as cinco promessas de 94), suas chances aumentam substancialmente. Deve
demonstrar sinceridade, fazer
crescer a confiança do povo nele.
Se insistir em dizer que está tudo
muito bem, pode se dar mal.
Folha - O sr. teve conversas recentes com Lula e FHC. Vai fazer a
campanha de algum dos dois?
Duda - A cada dia fica mais difícil. Já tenho compromissos e muita dor de cabeça para as eleições.
Folha - Como serão as sucessões
estaduais?
Duda - Acho um desperdício de
dinheiro no segundo turno. Pelo
pouco tempo de campanha e pelo
alto nível de conhecimento dos
candidatos junto ao eleitorado,
quem for bem no primeiro turno
dificilmente não levará no segundo. Na maioria dos Estados, as disputas já ocorreram. As únicas novidades são a Marta Suplicy (PT),
em São Paulo, e o Luiz Paulo Corrêa (PSDB), agora que o Marcello
Alencar desistiu de disputar a reeleição no Rio. De resto, são todos
figuras muito conhecidas. Em São
Paulo, o Maluf, o Covas e o Rossi.
No Rio Grande do Sul, é Antonio
Britto (PMDB) e Olívio Dutra (PT)
que já se enfrentaram em 94. No
Paraná, Lerner (PFL), Álvaro Dias
(PSDB) e Requião (PMDB).
Folha - Quem vencerá a eleição
em São Paulo?
Duda - Maluf, sem dúvida. A
dúvida é quem será seu adversário
no segundo turno. E, de acordo
com todas as pesquisas que tenho
feito, certamente não será o Covas.
Folha - Após a eleição do Pitta
em 96, Maluf preparou-se para ser
candidato a presidente. O que deu
errado? Por que ele desistiu?
Duda - Compreendeu que ainda não era seu momento. FHC estava muito forte, no auge. Ao mesmo tempo, Maluf tinha uma eleição muito favorável em São Paulo.
Maluf amadureceu, já não gosta de
correr tantos riscos como antes.
Folha - O sr. tem oito campanhas
a governos estaduais. Dá para
atender a todo mundo bem? Não
teme virar uma franquia, um
McDonald's do marketing?
Duda - Não jogaria meu nome,
conseguido a duras penas em 20
anos, numa aventura. Me preparei. Tenho hoje uma equipe com
mais de cem profissionais. Vou
provar que isso pode ser feito e
bem feito.
Folha - Se um candidato que o sr.
elegeu o decepciona quando governa, o que o sr. faz?
Duda - Me sinto meio culpado e
responsável pela frustração das
pessoas. Esse talvez seja o maior
conflito que enfrento na profissão.
Nesse casos, se procurado para
nova campanha, não aceito.
Folha - Em 96, a propaganda que
o sr. fez vendeu a idéia de que São
Paulo não pararia se Pitta fosse o
sucessor de Maluf. Hoje, a administração está numa crise séria. O
sr. não está arrependido?
Duda - Se o Pitta chegar ao final
do mandato do jeito que está hoje,
vou ficar profundamente decepcionado. Acho que ele precisa melhorar, acredito que vai melhorar.
Mas só posso julgar ao final de
quatro anos de mandato. Seria injusto agora. Está nos 25 minutos
do primeiro tempo. Ainda tem
tempo de sobra para virar o jogo.
Folha - É possível governar sem
barganha política?
Duda - É irrealista. O governante não consegue aprovar quase nada sem negociar, acaba cedendo e
fazendo muitas concessões. Será
que alguém que não faça isso tem
condições de sobreviver politicamente? Tenho dúvidas, mas é fundamental que tenha limites.
O que mais revolta é que, em alguns momentos, vejo que os governos são chantageados por
membros do seu próprio partido.
Mais do que nunca precisamos
da reforma política. Só que essa reforma passa por alterações na
Constituição. E, para mudá-la, é
uma briga. Quando você constata
isso, pergunta-se: "Então os fins
justificam os meios?"
Folha - O sr. acha que os fins justificam os meios?
Duda - Depende. Pode ser que
sim. Pode ser que não. Nunca vou
ser político por isso. Se tiver certeza do que quero fazer, faço. Passo
por cima e faço, com a convicção
de que estou fazendo o melhor.
Já ouvi de alguns políticos que a
lei no Brasil é feita de um jeito pelo
qual é mais complicado fazer a coisa certa do que fazer a coisa errada.
Às vezes, acho que a coisa foi feita
para facilitar o erro.
Folha - Qual o maior problema
da candidatura Lula?
Duda - Simplificando, a falta de
entusiasmo, do brilho no olho
quando fala. Quando conheci Lula, logo depois que Maluf ganhou
do Suplicy (em 92), foi o que mais
me impressionou nele. Hoje, não
vejo mais nas suas falas os olhos
brilhando. Deixou de falar dele, de
seus projetos, para criticar FHC,
passando, às vezes, a impressão de
que torce contra o Brasil.
Folha - O sr. quase fez o marketing do Lula em 94. Ele ganharia?
Duda- Não. Mas, com absoluta
certeza, hoje estaria muito mais
forte. Não iria jamais mudá-lo. Ele
deveria ter dito: "Gente, olhe,
esse país sempre foi governado para os ricos. Se eu ganhar, os ricos
que me desculpem, mas vou governar quatro anos para o pobre.
Depois os ricos podem até ganhar
de novo e voltar a governar".
Dá pra entender o Lula não conseguir se comunicar com pobre?!
Folha - Um suposto preconceito
de pobre contra pobre?
Duda - Não. Acho que foi o Lula
que se distanciou. O Lula virou um
"programa" de elite.
Folha - O sr. diz que não faz pesquisa qualitativa com as classes A
e B, chamadas formadoras de opinião (mais escolaridade e maior
renda), mas só com C e D (menos
escolaridade e menor renda). Não
crê em formador de opinião?
Duda - Essa pirâmide virou de
cabeça para baixo. O formador de
opinião perdeu espaço. Quem
mais influencia o eleitor hoje é o
colega de trabalho, o cara com
quem ele bebe no bar, com quem
vai à praia ou ao futebol.
Hoje é o povão que começa a influenciar o formador de opinião.
Venho percebendo isso há muito
tempo. Por isso procuro me comunicar principalmente com as
faixas C e D. E utilizo uma linguagem simples, direta e emocional,
quase óbvia. Não há mágica.
Folha - O sr. tem a fama de usar
muita pesquisa qualitativa para
definir sua estratégia.
Duda - Junto com o Marcos
Coimbra (do Instituto Vox Populi), fui o primeiro a usar pesquisa
qualitativa nas campanhas eleitorais no Brasil. Tenho aprendido
que pesquisa lhe dá informações,
mas não a estratégia. Uso qualitativas para testar pressupostos. Para
testar se estou acertando na mosca, passando perto ou não.
A qualitativa lhe dá o nível de
acerto sobre o que você faz, não lhe
dá o que fazer. O povo não sabe lhe
dar uma linha de campanha, mas
sabe julgar o que você fez.
As pessoas tendem a rejeitar o
novo. A pesquisa, principalmente
a qualitativa, julga conceitos conhecidos, que não lhe garantem
que o novo não venha a dar certo.
Por exemplo, a primeira campanha do coração do Maluf, em 88,
foi totalmente rejeitada pelos grupos. O coração lembra a Lopes, diziam muitos entrevistados, uma
grande imobiliária que o usa como
marca de empreendimentos. Como acreditava muito na campanha, ignorei o resultado da pesquisa e toquei pra frente. Meses depois, em novos grupos, o coração
era superelogiado e ninguém falava da Lopes. Já contrariei opiniões
de grupos e me dei bem.
Folha - Qual é o seu diferencial?
Duda - Facilidade de transformar informação em argumento.
Propaganda política não informa,
convence. E só há um dogma em
comunicação que ninguém jamais
conseguir derrubar: comunicação
não é aquilo que você diz, mas
aquilo que os outros entendem.
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