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SÃO PAULO
Secretário da Saúde rechaça denúncias de Pinotti e diz que "em nenhum momento houve omissão" em sua pasta
Pagura afirma que há "oportunismo"
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário municipal da Saúde Jorge Pagura afirmou ontem
que vai questionar José Aristodemo Pinotti a respeito de acusações de corrupção na pasta.
"Eu nunca conversei absolutamente com ninguém, com nenhum funcionário, com nenhum
empresário... Recebi alguns, mas
nunca se abriu absolutamente nenhum tipo de conversação nesse
sentido porque eu não dou chance, não dou espaço para isso. São
colocações que ficaram no ar",
afirmou. A seguir, os principais
trechos da entrevista.
Folha - O que o sr. tem a dizer sobre o artigo escrito do dr. Pinotti
publicado pela Folha?
Jorge Roberto Pagura - Foi uma
colocação que mostra um oportunismo em relação a não ter ficado
no cargo e não ter conseguido fazer um diagnóstico correto do
que está acontecendo na saúde.
Seria a mesma coisa que eu começar a questionar por que no Hospital da Mulher foi gasto não sei
quanto e não ficou pronto.
É fácil fazer uma crítica sem discussão. Mas me parece um pouco
estranho graças às incoerências
de postura. O secretário interino,
primeiro, foi um grande crítico do
PAS. Depois, nas eleições de 1998,
voltou a ser um defensor do PAS.
Agora quis definitivamente liquidar com o PAS.
Acho que esse artigo deixou situações confusas. Porque eu quero saber, por exemplo, onde estão
os 4.000 funcionários treinados
para trabalhar com dengue.
Folha - É oportunismo político?
Pagura - Eu não sou político. Eu
sou um técnico, neurocirurgião,
continuei na neurocirurgia. É um
oportunismo de momento. É um
momento de caça às bruxas, de
denuncismo. É um momento em
que as pessoas podem utilizar isso
até para uma maior projeção pessoal. Mas que não se faça essa projeção pessoal em cima de pessoas
sérias, honestas e que estão trabalhando para fazer o melhor possível para São Paulo. Não sei se é demagogia eleitoral ou não, porque
não sei se ele é candidato. Acho
que nem pode ser porque assumiu o cargo.
Folha - O dr. Pinotti fala que em
90 dias seria possível extinguir o
PAS e municipalizar a rede. Por que
o sr. não fez isso?
Pagura - Eu queria deixar claro
uma coisa que todo mundo sabe.
Se você quiser acabar com o modelo cooperativado hoje de uma
forma abrupta -seja em um mês
ou em 90 dias- seria tão difícil
quanto foi a passagem do sistema
anterior para o modelo cooperativado, com repercussões ainda
piores. Eu iria colocar R$ 240 milhões até o final do ano em compras emergenciais?
Isso é muito menos transparente do que o modelo que eu estou
usando hoje. Essa é uma das colocações completamente absurdas.
Por isso eu digo que isso é uma jogada, uma colocação política.
Tem que ser com continuada e
com critério.
A não ser que eu fosse fazer demagogia para alguma função eleitoral, não dá para fazer isso em 90
dias. Tive que centralizar em quatro para poder começar a retirar
unidades. Hoje fui cobrado porque uma unidade de Sapopemba
estava sem limpeza.
Folha - É impossível impedir as
compras superfaturadas?
Pagura - Não adianta fazer lista
de preço, porque todo o dia varia.
Se o fornecedor tem um estoque
menor e quer desovar, ele desova
por um determinado preço, se paga a vista é outro preço. Não há
como barrar isso. É uma iniciativa
privada. Eu vou glosar as contas,
como já foi glosado, se não tiver
notas compatíveis.
Hoje está mas controlado do
que era antes, mas volto a dizer, é
preciso controlar número de
atendimento, qualidade de atendimento. Mas não, houve uma
deturpação por causa de todas as
denúncias que antecederam a minha entrada na grande maioria
das vezes.
Folha - O sr. descarta a existência
de irregularidades na sua gestão?
Pagura - Sempre pode acontecer. Pode acontecer enquanto a
gente está aqui. Acontece com o
presidente da República em um
hospital do ministério, numa desapropriação, em uma concorrência pública. O secretário dita as
normas. Claro que ele tem que
controlar, mas dentro do possível.
Mas se ele ficar só controlando isso, na saúde, não faz saúde.
Em nenhum momento houve
omissão. Qualquer coisa que tenha fundamento nunca deixou de
ser apurada. Isso pode acontecer
em qualquer nível do governo,
mas não é para culpar presidente,
ministro, secretário. O secretário
tem a função de dar o tom, mas há
técnicos, primeiro, segundo, terceiro escalão. Não dá para afirmar
que não tenha havido nada.
As contas de 98 mostraram um
organização contábil muito melhor do que de 96 e 97. As glosas
não chegam a R$ 1 milhão. Isso já
é a malha fina. As denúncias pós-98 foram muito pequenas se você
fizer um levantamento disso. Por
quê? Porque o sistema foi se aperfeiçoando. Vou dizer que o secretário que me antecedeu estava errado? Não, provavelmente ele ia
chegar nesse ponto. Mas o modelo foi implantado de uma forma
muito rápida, teria que ser estudado. Mas eu não posso interferir
em uma iniciativa privada.
Folha - E antes
Pagura - Olha, eu vi as contas. O
que não estava adequado nós glosamos e estamos deixando as pessoas se defenderem.
Folha - O PAS foi mal implantado?
Pagura - O PAS mostrou a preocupação de um governante para
tentar melhorar a saúde. Se ele tivesse sido implantado de forma
mais progressiva, teria um bom
lugar. Eu testaria um modelo. Pegaria uma região da cidade e faria
um teste do modelo. Mas o PAS
foi implantado mais rápido do
que deveria.
Folha - O sr. admite que os funcionários afastados oneraram o PAS?
Pagura - Oneraram em R$ 150
milhões por ano, mas isso eu estou falando há dois anos. Cheguei
a conversar com o governo federal para saber como seria possível
fazer em um plano de demissão
voluntária. Então, isso que se está
falando como grande ovo de Colombo tenho falado há dois anos.
Folha - O sr. não poderia ter municipalizado quando assumiu?
Pagura - Não podia. Porque era
preciso fazer o diagnóstico. Além
disso, eu assumiu em março, levei
cinco meses para fazer o diagnóstico e aí veio o processo eleitoral.
Não conseguia fazer absolutamente nada, ainda mais com Paulo Maluf contra Mário Covas.
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