São Paulo, sábado, 24 de junho de 2000


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SÃO PAULO
Secretário da Saúde rechaça denúncias de Pinotti e diz que "em nenhum momento houve omissão" em sua pasta
Pagura afirma que há "oportunismo"

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário municipal da Saúde Jorge Pagura afirmou ontem que vai questionar José Aristodemo Pinotti a respeito de acusações de corrupção na pasta.
"Eu nunca conversei absolutamente com ninguém, com nenhum funcionário, com nenhum empresário... Recebi alguns, mas nunca se abriu absolutamente nenhum tipo de conversação nesse sentido porque eu não dou chance, não dou espaço para isso. São colocações que ficaram no ar", afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.
 

Folha - O que o sr. tem a dizer sobre o artigo escrito do dr. Pinotti publicado pela Folha?
Jorge Roberto Pagura -
Foi uma colocação que mostra um oportunismo em relação a não ter ficado no cargo e não ter conseguido fazer um diagnóstico correto do que está acontecendo na saúde. Seria a mesma coisa que eu começar a questionar por que no Hospital da Mulher foi gasto não sei quanto e não ficou pronto.
É fácil fazer uma crítica sem discussão. Mas me parece um pouco estranho graças às incoerências de postura. O secretário interino, primeiro, foi um grande crítico do PAS. Depois, nas eleições de 1998, voltou a ser um defensor do PAS. Agora quis definitivamente liquidar com o PAS.
Acho que esse artigo deixou situações confusas. Porque eu quero saber, por exemplo, onde estão os 4.000 funcionários treinados para trabalhar com dengue.

Folha - É oportunismo político?
Pagura -
Eu não sou político. Eu sou um técnico, neurocirurgião, continuei na neurocirurgia. É um oportunismo de momento. É um momento de caça às bruxas, de denuncismo. É um momento em que as pessoas podem utilizar isso até para uma maior projeção pessoal. Mas que não se faça essa projeção pessoal em cima de pessoas sérias, honestas e que estão trabalhando para fazer o melhor possível para São Paulo. Não sei se é demagogia eleitoral ou não, porque não sei se ele é candidato. Acho que nem pode ser porque assumiu o cargo.

Folha - O dr. Pinotti fala que em 90 dias seria possível extinguir o PAS e municipalizar a rede. Por que o sr. não fez isso?
Pagura -
Eu queria deixar claro uma coisa que todo mundo sabe. Se você quiser acabar com o modelo cooperativado hoje de uma forma abrupta -seja em um mês ou em 90 dias- seria tão difícil quanto foi a passagem do sistema anterior para o modelo cooperativado, com repercussões ainda piores. Eu iria colocar R$ 240 milhões até o final do ano em compras emergenciais?
Isso é muito menos transparente do que o modelo que eu estou usando hoje. Essa é uma das colocações completamente absurdas. Por isso eu digo que isso é uma jogada, uma colocação política. Tem que ser com continuada e com critério.
A não ser que eu fosse fazer demagogia para alguma função eleitoral, não dá para fazer isso em 90 dias. Tive que centralizar em quatro para poder começar a retirar unidades. Hoje fui cobrado porque uma unidade de Sapopemba estava sem limpeza.

Folha - É impossível impedir as compras superfaturadas?
Pagura -
Não adianta fazer lista de preço, porque todo o dia varia. Se o fornecedor tem um estoque menor e quer desovar, ele desova por um determinado preço, se paga a vista é outro preço. Não há como barrar isso. É uma iniciativa privada. Eu vou glosar as contas, como já foi glosado, se não tiver notas compatíveis.
Hoje está mas controlado do que era antes, mas volto a dizer, é preciso controlar número de atendimento, qualidade de atendimento. Mas não, houve uma deturpação por causa de todas as denúncias que antecederam a minha entrada na grande maioria das vezes.

Folha - O sr. descarta a existência de irregularidades na sua gestão?
Pagura -
Sempre pode acontecer. Pode acontecer enquanto a gente está aqui. Acontece com o presidente da República em um hospital do ministério, numa desapropriação, em uma concorrência pública. O secretário dita as normas. Claro que ele tem que controlar, mas dentro do possível. Mas se ele ficar só controlando isso, na saúde, não faz saúde.
Em nenhum momento houve omissão. Qualquer coisa que tenha fundamento nunca deixou de ser apurada. Isso pode acontecer em qualquer nível do governo, mas não é para culpar presidente, ministro, secretário. O secretário tem a função de dar o tom, mas há técnicos, primeiro, segundo, terceiro escalão. Não dá para afirmar que não tenha havido nada.
As contas de 98 mostraram um organização contábil muito melhor do que de 96 e 97. As glosas não chegam a R$ 1 milhão. Isso já é a malha fina. As denúncias pós-98 foram muito pequenas se você fizer um levantamento disso. Por quê? Porque o sistema foi se aperfeiçoando. Vou dizer que o secretário que me antecedeu estava errado? Não, provavelmente ele ia chegar nesse ponto. Mas o modelo foi implantado de uma forma muito rápida, teria que ser estudado. Mas eu não posso interferir em uma iniciativa privada.

Folha - E antes
Pagura -
Olha, eu vi as contas. O que não estava adequado nós glosamos e estamos deixando as pessoas se defenderem.

Folha - O PAS foi mal implantado?
Pagura -
O PAS mostrou a preocupação de um governante para tentar melhorar a saúde. Se ele tivesse sido implantado de forma mais progressiva, teria um bom lugar. Eu testaria um modelo. Pegaria uma região da cidade e faria um teste do modelo. Mas o PAS foi implantado mais rápido do que deveria.

Folha - O sr. admite que os funcionários afastados oneraram o PAS?
Pagura -
Oneraram em R$ 150 milhões por ano, mas isso eu estou falando há dois anos. Cheguei a conversar com o governo federal para saber como seria possível fazer em um plano de demissão voluntária. Então, isso que se está falando como grande ovo de Colombo tenho falado há dois anos.

Folha - O sr. não poderia ter municipalizado quando assumiu?
Pagura -
Não podia. Porque era preciso fazer o diagnóstico. Além disso, eu assumiu em março, levei cinco meses para fazer o diagnóstico e aí veio o processo eleitoral. Não conseguia fazer absolutamente nada, ainda mais com Paulo Maluf contra Mário Covas.


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