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RIO +10
Abertura de encontro no Brasil defende foco em interesses coletivos para evitar o fracasso de cúpula da ONU na África do Sul
Reunião quer priorizar questão ambiental
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Pedidos de retorno ao multilateralismo vigente nas negociações
ambientais de 1992 marcaram ontem a abertura do seminário Rio
+10 Brasil, no Rio de Janeiro. No
encontro, a última reunião internacional antes da conferência da
ONU sobre o desenvolvimento
sustentável, em Johannesburgo
(África do Sul), foram feitas críticas veladas ao governo dos EUA.
O seminário foi organizado como tentativa de salvar do fracasso
o evento na África do Sul e pela
necessidade de evitar que o tema
da pobreza acabe esvaziando as
discussões sobre meio ambiente e
desenvolvimento sustentável.
A percepção de que Johannesburgo poderia terminar sem resultados tornou-se mais evidente
no mês passado, quando a última
reunião preparatória oficial para
o encontro, em Bali (Indonésia),
acabou sem acordo sobre um texto a ser negociado na cúpula.
Durante a preparatória de Bali,
os representantes dos países subdesenvolvidos acusaram os ricos,
liderados pelos EUA, de tentar retroceder em tópicos já definidos
durante a Eco-92, no Rio, como o
princípio das responsabilidades
comuns, mas diferenciadas
-que obriga os ricos a pagar
mais pelos danos ambientais.
As críticas voltaram a ser feitas
ontem no Rio. "A nós soa estranho querer discutir pobreza sem
admitir a ordem global que é responsável tanto pela exclusão social quanto pela degradação ambiental", declarou o ministro do
Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, na abertura do seminário.
Em seu discurso, Carvalho também alfinetou a atual política ambiental dos EUA quando falou sobre governança. Segundo o ministro, "não dá para discutir governança quando alguns países se
recusam a assinar convenções internacionais".
Em março de 2001, o presidente
americano, George W. Bush, se
retirou das negociações do Protocolo de Kyoto, acordo internacional contra o efeito estufa, sob alegação de danos à economia.
Segundo Carvalho, depois da
reunião de Bali, a conferência do
Rio adquiriu uma grande dimensão política, principalmente por
reunir chefes de Estado da Suécia,
do Brasil e da África do Sul, sedes
das grandes conferências ambientais da ONU -de 1972, 1992
e 2002, respectivamente. Na sua
opinião, a presença dos três pode
reacender os debates das questões
pertinentes a Johannesburgo.
O diretor-executivo do Pnuma
(Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente), Klaus
Töpfer, foi além. "Espero que esta
reunião estimule a inclusão do tema ambiental na próxima reunião do G-8, no Canadá. Ela mostra que estes três Estados [Suécia,
Brasil e África do Sul" estão cientes de sua responsabilidade."
Um dos destaques da abertura
foi a questão da energia, colocada
pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, como fundamental. Ele lembrou a proposta
do governo brasileiro de aumentar de 5% para 10% a participação
das energias renováveis (solar, eólica e biomassa) no total de energia usada no mundo até 2010.
"É fundamental refletirmos hoje sobre os usos da energia. Devemos buscar uma matriz energética mais limpa, que contemple a
utilização de fontes renováveis de
energia", disse Lafer.
Avanços teóricos
Ronaldo Sardenberg, ministro
de Ciência e Tecnologia, admitiu
que os avanços desde a Rio-92 se
deram muito mais no campo interno das discussões do que na
prática. "Todos nós precisamos
fazer mais. Precisamos, principalmente, de mais compreensão dos
países desenvolvidos. A implementação de medidas, que têm
sofrido resistência por parte deles,
precisa melhorar."
O presidente Fernando Henrique Cardoso chegou ontem ao
Rio para participar do seminário,
mas não deu entrevista. Ele o prefeito do Rio, Cesar Maia, receberam os ministros Lafer, Sardenberg e Carvalho e a princesa jordaniana Basma Bint Talal para
um jantar no Palácio da Cidade.
Hoje, FHC participa de uma audiência pública com o presidente
sul-africano, Thabo Mbeki, e o
primeiro-ministro da Suécia, Göran Persson. Amanhã, ele transmite oficialmente a Mbeki a sede da conferência sobre ambiente e desenvolvimento sustentável.
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