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Cidade vive clima de nostalgia
DO ENVIADO AO RIO
O Rio de Janeiro viveu ontem
uma certa nostalgia dos tempos
da Eco-92, em que os olhos do
planeta se voltavam aos mais de
170 representantes de governos
reunidos na cidade para buscar
meios de satisfazer as necessidades materiais da geração presente
sem comprometer os recursos
das futuras -o tal desenvolvimento sustentável.
Representantes de três gerações
das conferências ambientais da
ONU começaram ontem a discutir uma questão muito mais pragmática: como evitar que a mudança da agenda global, cada vez
mais voltada para mercados e segurança interna, solape as (poucas) conquistas obtidas até agora.
Como numa Eco-92 de laboratório, juntaram-se no Rio ministros de Estado, diplomatas, cientistas, ambientalistas -hoje todos de terno e gravata- e até a
realeza, representada pela princesa jordaniana Farah Daghistani.
Mas os tempos são outros.
"Em 1992 estávamos no fim da
Guerra Fria. Era um período de
esperança no cenário global", disse o ministro do Ambiente da Holanda, Jan Pronk. "Hoje estamos
num período de incerteza."
Falando em nome da geração
que participou da conferência de
Estocolmo, em 1972, o embaixador Bernardo de Azevedo Brito
ressaltou que o início da década
de 70 foi marcado por uma explosão do multilateralismo nas relações internacionais. Em 2002,
continuou, o que impera é o unilateralismo, expresso na nova política agrícola americana -que
dá mais subsídios à produção nacional, atrapalhando as exportações agrícolas dos países pobres.
Os retrocessos também foram
apontados pelo canadense Maurice Strong, homem forte da Eco-92 e um dos organizadores do relatório "Nosso Futuro Comum",
que produziu o conceito de desenvolvimento sustentável.
O economista francês Ignacy
Sachs, cujos estudos ajudaram a
moldar o conceito de desenvolvimento sustentável, afirmou que
Estocolmo produziu uma "revolução epistemológica" no conceito de crescimento. "O economicismo sofreu uma derrota."
Resta saber se em Johannesburgo essa revolução sobreviverá aos
mercados. (CA)
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