São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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Cidade vive clima de nostalgia

DO ENVIADO AO RIO

O Rio de Janeiro viveu ontem uma certa nostalgia dos tempos da Eco-92, em que os olhos do planeta se voltavam aos mais de 170 representantes de governos reunidos na cidade para buscar meios de satisfazer as necessidades materiais da geração presente sem comprometer os recursos das futuras -o tal desenvolvimento sustentável.
Representantes de três gerações das conferências ambientais da ONU começaram ontem a discutir uma questão muito mais pragmática: como evitar que a mudança da agenda global, cada vez mais voltada para mercados e segurança interna, solape as (poucas) conquistas obtidas até agora.
Como numa Eco-92 de laboratório, juntaram-se no Rio ministros de Estado, diplomatas, cientistas, ambientalistas -hoje todos de terno e gravata- e até a realeza, representada pela princesa jordaniana Farah Daghistani. Mas os tempos são outros.
"Em 1992 estávamos no fim da Guerra Fria. Era um período de esperança no cenário global", disse o ministro do Ambiente da Holanda, Jan Pronk. "Hoje estamos num período de incerteza."
Falando em nome da geração que participou da conferência de Estocolmo, em 1972, o embaixador Bernardo de Azevedo Brito ressaltou que o início da década de 70 foi marcado por uma explosão do multilateralismo nas relações internacionais. Em 2002, continuou, o que impera é o unilateralismo, expresso na nova política agrícola americana -que dá mais subsídios à produção nacional, atrapalhando as exportações agrícolas dos países pobres.
Os retrocessos também foram apontados pelo canadense Maurice Strong, homem forte da Eco-92 e um dos organizadores do relatório "Nosso Futuro Comum", que produziu o conceito de desenvolvimento sustentável.
O economista francês Ignacy Sachs, cujos estudos ajudaram a moldar o conceito de desenvolvimento sustentável, afirmou que Estocolmo produziu uma "revolução epistemológica" no conceito de crescimento. "O economicismo sofreu uma derrota."
Resta saber se em Johannesburgo essa revolução sobreviverá aos mercados. (CA)


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