São Paulo, Quinta-feira, 24 de Junho de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA
Promotoria vê quadro de quase escravidão
Operação libera 38 em fazenda no ES


JAIRO MARQUES
da Agência Folha

Uma operação conjunta do Ministério do Trabalho, Ministério Público, Procuradoria da República e polícias Civil e Federal, no Espírito Santo, identificou 38 pessoas, entre elas quatro menores de 16 anos, que estavam sendo mantidas sob condições precárias de moradia, trabalho e saúde na fazenda Chapadão, em Santa Teresa (75 km de Vitória).
O Ministério Público qualificou o quadro como "análogo à escravidão". O flagrante foi anteontem.
Outras 40 pessoas, entre elas crianças de 5 e 6 anos, quiseram ficar na fazenda. Uma comissão do Conselho Tutelar da Criança já foi deslocada para o local.
"Encontramos pessoas dormindo no chão, em cima de colchonetes muito finos. Não havia banheiros, a comida era de má qualidade e o alojamento era precário", disse o promotor João Vitor Herzog, de Santa Teresa. Segundo Levi Scatolin, procurador do Ministério do Trabalho em Vitória, os trabalhadores rurais foram "aliciados para fazer colheita de café".
Eles estavam no local havia dois meses, sem registro em carteira de trabalho, sem receber salários e sem poder sair da fazenda devido à falta de dinheiro e de veículos.
Dos quatro adolescentes, um era deficiente mental e outro estava com úlcera no estômago.
Segundo o Ministério do Trabalho, os trabalhadores foram aliciados nas regiões de Teixeira de Freitas (BA) e Teófilo Otoni (MG). Eles receberam proposta de ganhar R$ 4 por cada saca de café colhida e esperavam colher oito sacas por dia.
"Naquele tipo de lavoura (em cima de morros), colhe-se muito pouco café", afirmou Herzog.
O dono da propriedade, Waldir Schmidt, foi preso em flagrante por "porte ilegal de arma e por manter trabalho análogo à escravidão". Ele está detido na delegacia de Santa Teresa e disse "que não quer falar sobre o caso".
Schmidt cobrava R$ 2,50 por refeição. Os trabalhadores teriam de pagar pelo alojamento e pelas passagens das cidades de origem até a fazenda. As 38 pessoas foram levadas a suas respectivas cidades. Damião Sanchez, da Comissão Pastoral da Terra no Espírito Santo, que fez a denúncia, acredita que outras propriedades mantenham trabalhadores aliciados.


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