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QUESTÃO AGRÁRIA
Promotoria vê quadro de quase escravidão
Operação libera 38
em fazenda no ES
JAIRO MARQUES
da Agência Folha
Uma operação conjunta do Ministério do Trabalho, Ministério
Público, Procuradoria da República e polícias Civil e Federal, no Espírito Santo, identificou 38 pessoas, entre elas quatro menores de
16 anos, que estavam sendo mantidas sob condições precárias de
moradia, trabalho e saúde na fazenda Chapadão, em Santa Teresa
(75 km de Vitória).
O Ministério Público qualificou o
quadro como "análogo à escravidão". O flagrante foi anteontem.
Outras 40 pessoas, entre elas
crianças de 5 e 6 anos, quiseram ficar na fazenda. Uma comissão do
Conselho Tutelar da Criança já foi
deslocada para o local.
"Encontramos pessoas dormindo no chão, em cima de colchonetes muito finos. Não havia banheiros, a comida era de má qualidade
e o alojamento era precário", disse
o promotor João Vitor Herzog, de
Santa Teresa. Segundo Levi Scatolin, procurador do Ministério do
Trabalho em Vitória, os trabalhadores rurais foram "aliciados para
fazer colheita de café".
Eles estavam no local havia dois
meses, sem registro em carteira de
trabalho, sem receber salários e
sem poder sair da fazenda devido à
falta de dinheiro e de veículos.
Dos quatro adolescentes, um era
deficiente mental e outro estava
com úlcera no estômago.
Segundo o Ministério do Trabalho, os trabalhadores foram aliciados nas regiões de Teixeira de Freitas (BA) e Teófilo Otoni (MG). Eles
receberam proposta de ganhar R$
4 por cada saca de café colhida e esperavam colher oito sacas por dia.
"Naquele tipo de lavoura (em cima de morros), colhe-se muito
pouco café", afirmou Herzog.
O dono da propriedade, Waldir
Schmidt, foi preso em flagrante
por "porte ilegal de arma e por
manter trabalho análogo à escravidão". Ele está detido na delegacia
de Santa Teresa e disse "que não
quer falar sobre o caso".
Schmidt cobrava R$ 2,50 por refeição. Os trabalhadores teriam de
pagar pelo alojamento e pelas passagens das cidades de origem até a
fazenda. As 38 pessoas foram levadas a suas respectivas cidades. Damião Sanchez, da Comissão Pastoral da Terra no Espírito Santo, que
fez a denúncia, acredita que outras
propriedades mantenham trabalhadores aliciados.
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